Chatbot financiado por Elon Musk responde a perguntas sobre Os Lusíadas

Um chatbot financiado por Elon Musk é capaz de responder a perguntas de literatura, ciência e filosofia.

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O Da Vinci 003 responde a perguntas sobre Os Lusíadas Corbis via Getty Images

O mais recente chatbot do laboratório de inteligência artificial OpenAI é capaz de responder a perguntas dos exames nacionais e escrever ensaios sobre biologia, filosofia ou literatura. Foi treinado com páginas da Wikipédia, livros gratuitos, publicações nas redes sociais e comentários de dezenas de revisores humanos. Online, já há alunos a testar o Da Vinci 003 para fazer o trabalho de casa.

O chatbot Da Vinci 003 depende do GPT-3.5, o mais recente modelo de linguagem do Open AI, o laboratório sem fins lucrativos que foi criado em 2015 por Elon Musk e Sam Altman. Inicialmente, o objectivo era descobrir se os chatbots poderiam ser programados para escrever sobre qualquer tema se fossem treinados com uma base de dados suficientemente grande. Ao longo dos anos, a equipa lançou modelos capazes de fabricar notícias e escrever excertos de romances. Agora, a missão é promover o desenvolvimento da inteligência artificial que “beneficia a humanidade” – é uma das grandes missões de Elon Musk, que continua a ser um dos principais financiadores do laboratório, apesar de ter deixado o conselho de administração da OpenAI em 2018.

Em vez de lançar a versão final do GPT-3.5, a OpenAI utilizou-o para criar vários chatbots disponíveis para qualquer pessoa testar através da ferramenta de mensagens ChatGPT. "O formato de diálogo permite responder a perguntas que surgem em sequência de outras, admitir erros, desafiar premissas incorrectas e rejeitar pedidos inapropriados", justifica a equipa, na apresentação do Da Vinci 003. O chatbot também compreende perguntas complexas tiradas de exames escolares e é capaz de escrever alguns poemas.

Os Lusíadas são um poema épico de Luís de Camões, escrito no século XVI, que celebra a história e a cultura portuguesa. A Mensagem é um poema de Fernando Pessoa, escrito no século XX, que aborda temas como a solidão e a busca pela identidade. Ambos os poemas são considerados obras-primas da literatura portuguesa”, é o começo da resposta do Da Vinci 003 a uma pergunta do PÚBLICO sobre a diferença entre as obras de Camões e Pessoa. Antes, o Da Vinci 003 acentuou que apenas “entende e responde a perguntas em inglês”, mas quando recebe uma pergunta em português, consegue responder. Só que nem sempre a resposta é correcta.

Questionado sobre a diferença entre cem gramas de ferro e cem gramas de algodão, por exemplo, o Da Vinci 003 está convicto de que o ferro “pesa mais” (mesmo quando a pergunta é feita em inglês).

“[O chatbot] por vezes escreve respostas plausíveis, mas incorrectas ou sem sentido”, admite a equipa da OpenAI na apresentação do modelo mais recente. Resolver o problema não é fácil. “Treinar o modelo para ser mais cauteloso faz com que ele recuse perguntas às quais não sabe responder correctamente”, explicam os investigadores.

O sistema também falha em dar respostas sobre acontecimentos mais recentes, depois do final de 2021, porque tem poucos dados desta época.

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Elon Musk foi um dos criadores do OpenAI Patrick Fallon/Reuters

Papagaios de probabilidades

Apesar dos desenvolvimentos na área, os chatbots continuam a funcionar como “papagaios de probabilidades”. Num estudo publicado na revista académica Association for Computer Machinery (ACM), um grupo de investigadores nota que “um modelo de linguagem é um sistema para coser ao acaso sequências de formas linguísticas que observou em vastas bases de dados, de acordo com a probabilidade sobre como se combinam, mas sem qualquer referência a significado”.

Os chatbots mais avançados, como o Da Vinci 003, incorporam inteligência artificial, que ajuda as máquinas a compreender melhor o discurso humano, ao utilizar bibliotecas de sinónimos, considerar o contexto da pergunta e aprender com as conversas anteriores. Só que bases de dados desreguladas podem levar à criação de chatbots que repetem comentários racistas e preconceituosos – é o que aconteceu com a chatbot Tay, da Microsoft, em 2016.

Cinco anos mais tarde, a equipa da Open AI tenta evitar isto ao contratar dezenas de revisores humanos para ler e classificar as respostas do Da Vinci 003 . Ao disponibilizar uma parte do modelo GPT 3.5, online, a equipa espera mais “feedback externo” para “melhorar os sistemas e torná-los mais seguros”. “Os utilizadores devem dar feedback sobre respostas problemáticas do modelo”, pediu a equipa da OpenAI na apresentação do sistema.

Em 2019, quando lançaram o modelo GPT-2, capaz de fabricar notícias, a principal missão era alertar os governos para a existência da tecnologia. “Os governos deviam considerar expandir ou começar iniciativas para monitorizar sistematicamente o impacto para a sociedade e a difusão de tecnologias de inteligência artificial”, explicaram na altura.

Por ora, o sistema evita responder a perguntas sobre o futuro: a resposta para “Quem vai ganhar as próximas eleições nos EUA?” é "desconhecido". Questionado sobre a felicidade, o Da Vinci 003 diz: “Ser feliz é uma escolha. Para ser feliz, é importante ter um sentido de propósito, desenvolver relacionamentos saudáveis, praticar actividades que trazem satisfação, ter um estilo de vida saudável, aprender a lidar com as emoções e ter gratidão.” É o que aprendeu com as centenas de milhares de dados da Internet.

Correcção: O chatbot do GPT-3.5 chama-se Da Vinci 003.

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