Helder Pacheco lança novo livro de crónicas: “Ser portuense é ser anticentralista”

Escrever sobre o Porto é “participar na vida da cidade”. Novo livro de Helder Pacheco, Ainda e Sempre Porto, junta elogios, críticas e as gentes da cidade. Apresentação é esta terça-feira

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Helder Pacheco tem dezenas de livros publicados, quase todos sobre o Porto Manuel Roberto

Estudar e defender o Porto continua a ser o desígnio da vida de Helder Pacheco. Aos 85 anos, o historiador escreve todas as semanas sobre a cidade onde nasceu e dá uma aula semanal sobre ela – não apenas sobre o passado, mas sobre a urbe em “constante mudança”. “Escrever sobre o Porto é a minha forma de participar na vida da cidade, apoiando o que está certo e criticando o errado”, diz ao PÚBLICO. Esta terça-feira (21h, na Fundação Engenheiro António de Almeida) é apresentado o livro Ainda e Sempre Porto (Afrontamento), uma compilação de crónicas publicadas no Jornal de Notícias.

O livro – cuja apresentação será feita pela directora do JN, Inês Cardoso, e pelo vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo – junta textos onde o Porto é quase sempre protagonista e não foge aos temas fracturantes da cidade no século XXI: do despovoamento ao turismo, da reabilitação urbana às tradições.

Helder Pacheco não é de saudosismos – embora nem sempre finte a nostalgia. Tem ânsia de mudança se algo está mal e sonha ver o Porto transformado numa “grande cidade de ciência, investigação e cultura”. O despovoamento entristece-o. Mas a cidade “em vias de implosão” antes da chegada do turismo era um mal maior: “Sou a favor do turismo, acho que ele salvou o Porto e é um motor de transformação”, defende.

O equilíbrio não passa por diminuir o número de turistas, mas por uma maior distribuição geográfica. “Não há turismo a mais, há é Porto a menos”, afirma, repetindo uma máxima que tem defendido nos últimos anos. Do Marquês às Antas, do Bonfim à Arca d’Água, do Parque Oriental à Lapa: há muito por onde crescer. “O turismo está muito circunscrito na zona Sé – Ribeira, e o Porto tem muito mais para dar.”

Turismo: motor da reabilitação

Para o historiador nascido na Rua do Correio (hoje Conde de Vizela), “grande parte da reabilitação urbana fez-se tendo o turismo como motor”. E isso não se pode esquecer. Até porque, aponta, de outra maneira a mudança deveria continuar por fazer: “Se estivéssemos à espera do Estado e do Terreiro do Paço para fazer a reabilitação urbana, a cidade estava a cair.”

Num país que continua inclinado, Helder Pacheco burila muitas crónicas onde o centralismo é tema e o Terreiro do Paço “o bombo da festa”. “Ser portuense é ser anticentralista”, afirma.

No novo livro, junta aos textos aguçados os mais sentimentais. Homenageia amigos perdidos nos últimos anos – como António Rebordão Navarro, Albano Martins, Miguel Veiga ou Júlio Couto – e anónimos que já partiram ou ainda por cá andam (como Manuel Bonifácio, um dos últimos cauteleiros do Porto), numa mistura que revela a sua forma de ver o mundo: “A minha concepção de cidade é inclusiva, cabe toda a gente nela.”

Há ainda espaço para o Porto romântico: “Os sítios emblemáticos, da infância, juventude e agora, os lugares onde me sinto bem”, resume. “Ser feliz é estar nas Virtudes e ver o pôr-do-sol. Ou estar no Passeio Alegre e sentir aquele ambiente. As pequenas felicidades que a cidade nos proporciona.”

São detalhes aos quais Helder Pacheco é particularmente atento. Porque “fazem a diferença.” Há dias, numa crónica do Jornal de Notícias, referia um desses pormenores, a propósito de uma visita ao “magnífico” Mercado do Bolhão, reaberto em Setembro depois de profundas obras de remodelação. “O acesso do Bolhão ao metro tem cinco degraus. Relembro que a civilização está nos detalhes.”

Para os próximos tempos, e “antes de partir”, o historiador tem dois projectos para terminar. Um livro sobre o entrudo no Porto e outro sobre as festas e romarias para além do São João (“são umas 20 as resistentes e desaparecidas mais de cem”). “A investigação está feita. Resta escrever.”

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