Europa reduz consumo de gás em 24% no mês de Novembro
A estratégia para reduzir a dependência energética da Rússia e os preços altos têm levado europeus a adoptar medidas de contenção.
Os países da União Europeia (UE) reduziram o consumo de gás em cerca de um quarto, em Novembro, graças a um esforço generalizado de poupança energética e à ajuda das temperaturas que se têm mantido acima da média, para esta época do ano.
Segundo o Financial Times (FT), que cita dados preliminares da ICIS, empresa especializada na análise de matérias-primas, o consumo de gás no bloco europeu caiu 24% em Novembro, em comparação com a média dos últimos cinco anos para igual período, e mantendo uma redução semelhante à que havia sido registada em Outubro.
Na Alemanha e Itália, os dois grandes consumidores europeus de gás, a procura caiu 23% e 21%, respectivamente, segundo os dados da ICIS. Em França e Espanha, a redução foi superior a 20% e, nos Países Baixos, chegou a 33%.
Em 2021, a UE importou 155 mil milhões de metros cúbicos de gás (ou bcm, na sigla inglesa) à Rússia, o que totalizou aproximadamente 45% das importações europeias e cerca de 40% do seu consumo de gás. Agora, além de querer reduzir a dependência da Rússia e diversificar fontes de importação, os europeus também querem aumentar o peso de energias renováveis no seu mix energético.
A indústria tem sido “o grande motor da redução do consumo”, adiantou ao FT o analista chefe da ICIS para o sector do gás, Tom Marzec-Manser, explicando que se trata acima de tudo uma questão de custo, já que os preços altos “desincentivaram” a utilização desta energia.
Por outro lado, os Estados-membros adoptaram uma série de medidas para restringir o consumo energético das famílias e empresas, incluindo a electricidade, que em larga medida é produzida em centrais que funcionam com gás natural.
Além dos cortes à utilização de gás natural, a UE iniciou agora um embargo às importações de petróleo e refinados russos que chegam por via marítima, que deverá resultar numa diminuição de 90% do comércio até agora realizado com as petrolíferas russas.
Os líderes do G7 (grupo dos países mais industrializados, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) também decidiram, entretanto, aplicar um tecto de 60 dólares ao barril de crude russo, de forma a limitar esta fonte de receita de Moscovo.
Um analista da consultora CRU Group adiantou ao FT que a redução de consumo que se registou até à data não é suficiente para deixar a Europa confortável no próximo Inverno. “A procura terá de ser menor da que existia no período pré-guerra para que existam stocks suficientes [para o próximo Inverno]”, afirmou o economista chefe do CRU Group, Alex Tuckett.
A questão que se coloca é saber “qual terá de ser a dimensão do corte, e quão doloroso será”, acrescentou.
Com a quebra de consumo europeu e o facto de terem aumentado as compras de gás natural liquefeito (GNL), o nível de armazenagem na UE chegou a Novembro nos 95%, segundo os dados da Gas Infrastructure Europe (GIE), o que representa níveis recorde. Contudo, com as temperaturas a descerem nas duas últimas semanas, o consumo subiu e as reservas encontram-se à data nos 93%, em termos médios.
Por outro lado, os preços voltaram a subir e os futuros do índice TTF, que serve de referência para os contratos europeus estão agora nos 138 euros por Megawatt hora (MWh), o que leva o analista-chefe da ICIS para o sector do gás, Tom Marzec-Manser, a aconselhar cautela sobre os planos europeus de limitar os preços. “Qualquer tentativa europeia de pôr um tecto no gás pode pôr em risco a capacidade europeia de garantir fornecimentos de GNL, não só para este Inverno, mas também no próximo e para além disso”, afirmou, citado pelo FT.
Se a Europa deixar de ser “um mercado premium para o GNL”, as cargas de gás transportado por via marítima poderão escassear, “numa altura em que são mais necessárias que nunca”.