A pecuária do futuro pode ter vacas de smartwatch
Grupo de investigadores chineses provou que é possível monitorizar gado de forma mais sustentável, usando a energia criada pela movimentação dos próprios animais.
Quintas inteligentes que monitorizam os sinais vitais, a reprodução e as condições ambientais dos animais não são uma novidade. Contribuem, aliás, para uma maior eficácia na gestão dos recursos e aumentam a segurança alimentar. Mas há um senão: este uso da tecnologia implica um aumento do consumo energético de uma indústria que, por si só, já tem um impacto significativo no meio ambiente – é uma das que mais contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa e para a utilização de água, causando ainda poluição e desmatamento de terras.
Para tornar esta monitorização do gado viável de um ponto de vista ambiental, seria necessária uma gestão sustentável da energia, com preferência dada a fontes alternativas, como o sol, a água ou o ar. Ou até com o movimento das vacas, defende um novo estudo.
É possível obter energia a partir de fontes renováveis se for possível criar movimento ou calor, transformando-os em electricidade. No caso do movimento, é a energia cinética que entra em campo, e a mesma teoria pode ser utilizada para o movimento humano, de objectos ou animais.
Com isto em mente, um grupo de investigadores da Universidade Southwest Jiaotong, na China, criou um dispositivo inteligente para as vacas que captura a energia cinética criada pelos seus mais pequenos movimentos e transforma-a em electricidade para alimentar os monitores de sinais vitais. Os dados que resultam dessa investigação foram publicados a 1 de Dezembro, na revista científica iScience.
A energia que “está em todo o lado”
Esta tecnologia inteligente implica que as vacas utilizem pequenos aparelhos sensoriais, semelhantes a um smartwatch, à volta do pescoço e dos tornozelos, que são “alimentados” através de tudo o que elas fazem no dia-a-dia. “Há uma quantidade tremenda de energia cinética que pode ser capturada dos movimentos diários do gado, como correr, andar e até o movimento do pescoço”, nota Yajia Pan, que faz parte do grupo de investigadores, citada em comunicado.
Já existiam aparelhos que capturam a energia cinética de animais de quinta, mas havia problemas. Segundo o relatório da investigação, a principal adversidade era que os movimentos de animais em cativeiro são fracos, pelo que podiam não ser detectados por estes dispositivos ou, quando o eram, geravam pouca energia – um problema que teria de ser colmatado para haver um uso massificado desta tecnologia.
“O nosso dispositivo captura especialmente a energia de movimentos fracos”, explica Zutao Zhang, também co-autor do projecto, no mesmo comunicado. A concepção, neste caso, é única devido a um mecanismo de amplificação do movimento.
Ao perceber que existe um movimento, o dispositivo de captura wearable faz abanar um pêndulo, que tem um íman de cada lado. O efeito dos ímanes intensifica este movimento que, somado com o do animal, cria uma maior quantidade de energia. O artigo científico revela ainda que os primeiros testes registaram 103% mais energia do que um dispositivo de captura de energia cinética normal. Assim, é possível alimentar a tecnologia de monitorização.
Um teste em humanos provou que, por exemplo, uma corrida leve tem a capacidade de repor a energia gasta para a medição de temperatura, e os investigadores esperam um futuro em que esta tecnologia baseada no movimento também possa ser aplicada a monitorização desportiva, assistência médica ou casas inteligentes.
“A energia cinética está em todo o lado no meio ambiente – nas folhas a balançar com o vento, no movimento das pessoas e dos animais, nas ondas do mar, na rotação da terra. Todos estes fenómenos têm muita energia cinética”, afirma Zutao Zhang. “Não devemos deixar que esta energia seja desperdiçada.”
Texto editado por Claudia Carvalho Silva