Óculos icónicos: o acessório que dá lições de estilo e personalidade
É longa a lista de personalidades cuja imagem nos surge sempre associada a um par de óculos. De Audrey Hepburn a John Lennon, os nomes são muitos e o estilo, esse, é infinito.
Podemos dizer que há dois tipos de pessoas no mundo: as que usam óculos como uma absoluta necessidade e as que o fazem como uma oportunidade. E isto, acredite, pode fazer toda a diferença. Mais do que um auxiliar de visão, os óculos são aquele acessório que, de forma muito rápida e fácil, consegue transformar radicalmente qualquer visual, acentuar traços de personalidade, conferir estilo e até - a avaliar pelo resultado de alguns estudos - chamar a atenção para a inteligência de quem os usa. Sim, tudo isto com um simples par de óculos.
Mas claro que este efeito bombástico – por ser tão transformador e alterador da percepção que os outros têm de quem usa óculos – não se consegue com uma armação qualquer. Na verdade, é a conjugação de uma série de factores, em que se incluem a personalidade, o estilo e as características do rosto do utilizador, que vai determinar o sucesso da escolha.
Para percebermos mesmo o que está – ou pode estar – em causa, convém darmos uma vista de olhos a alguns nomes que estão e estarão, para sempre, associados a um par de óculos icónicos.
Audrey Hepburn
É impossível pensar nela sem vê-la com uns enormes óculos escuros, hiperfemininos e elegantes, a combinar na perfeição com um vestido preto e um colar de pérolas. A imagem ficou-nos do filme Breakfast in Tiffany’s, mas a verdade é que Audrey Hepburn transportava sempre consigo, para onde quer que fosse, aquela aura de beleza e sofisticação, acentuada na perfeição pelos óculos escuros que acabaram por se tornar a sua imagem de marca. Considerada uma das maiores lendas femininas da sétima arte, Audrey Hepburn dedicou ainda parte da vida a acções humanitárias, nomeadamente como embaixadora da UNICEF.
Mahatma Gandhi
Quem também ficou para sempre associado a questões humanitárias – e a um par de óculos - foi Mahatma Gandhi. De modelo Windsor (muito em voga em Inglaterra durante o período em que Gandhi ali estudou, no final do século XIX), as armações que usou grande parte da vida eram de metal, formato redondo e pequeno, e – pasme-se - acabaram vendidas num leilão, em 2020, por uma pequena fortuna: 260 mil libras (cerca de 301 mil euros). É muito provável que o líder político e espiritual indiano, famoso pelo movimento de desobediência civil não violenta e o modo de vida espartano que levava, jamais tivesse sonhado que os seus simples óculos conseguissem tal proeza.
Steve Jobs
O que Gandhi também desconhecia é que acabaria por vir a inspirar profundamente – até no estilo de óculos – alguém que, anos mais tarde, viria a ser reconhecido à escala mundial pelo seu contributo na área tecnológica. O cofundador da Apple, Steve Jobs, ficou famoso não só pelo iPod e iPhone, mas também pelo estilo inovador de liderança e foco que colocou no trabalho de equipa. Ao longo da vida, admitiu várias vezes a admiração que sentia pelo “pai” da nação indiana, ao ponto de optar, por volta dos 20 anos de idade, por copiar o estilo de óculos redondos por ele usados. Mais tarde, acabou por mudar para um modelo sem aros, da marca alemã Lunor, inspirando também ele inúmeras pessoas em todo o mundo, que mimetizaram o seu estilo, dos pés à cabeça, dos óculos aos ténis.
John Lennon
Ao que parece, o modelo Windsor continuou a ser usado em Inglaterra durante largas décadas, acabando por ficar também para sempre associado à imagem de um dos músicos mais famosos da história. Por sofrer de miopia grave, John Lennon tinha forçosamente de usar óculos, algo que durante anos o deixou desconfortável. Afinal, usar óculos não seria propriamente o visual mais esperado para o elemento de uma banda pop com a projecção planetária dos The Beatles. Mas isso terá mudado quando os óculos se tornaram uma espécie de assinatura e passaram a inspirar o estilo de gerações. Algo que John Lennon nunca teria imaginado.
Fernando Pessoa
Falar de óculos redondos e não mencionar Fernando Pessoa seria imperdoável. Tanto mais que, a par do chapéu preto, aquele era um apetrecho de que o famoso criador de inúmeros heterónimos não se separava, compondo o visual com um bigodinho sempre bem aparado. Actualmente, os óculos do mais genial dos poetas portugueses, autor de A Mensagem, estão em exposição n’A Brasileira do Chiado, histórico café situado na baixa lisboeta, muito frequentado por Fernando Pessoa e outros intelectuais e artistas portugueses seus contemporâneos.
Marilyn Monroe
Foi uma das maiores estrelas de cinema de todos os tempos, deslumbrante diva e eterna imagem icónica, habitualmente fotografada de óculos escuros. Mas o que nem sempre temos presente quando ouvimos o seu nome é que Marilyn Monroe também usava óculos com graduação. O modelo a que a actriz de Os Homens Preferem as Loiras ou Quanto Mais Quente Melhor se tornou fiel foi o das armações estilo olho de gato, que encaixavam na perfeição nas características do seu rosto – em forma de coração – acentuando a sua beleza e sensualidade naturais. Por ter a testa mais larga, optou por um estilo em que as armações fossem mais amplas que o rosto, escolha que replicava também com frequência nos óculos escuros.
Elton John
É muito provavelmente o utilizador de óculos mais famoso de todos os tempos e há quem jure a pés juntos que Elton John possui uma colecção de milhares de armações. Não é difícil acreditar, tendo em conta que desde o seu surgimento na cena musical, no final dos anos 1960, até hoje, nunca deixou de surpreender pelo visual exuberante, sempre acentuado por um par de óculos a condizer. Por isso, temas como Your Song, Rocket Man ou Nikita irão sempre chegar-nos aos ouvidos enquadrados por uns inevitáveis e originais óculos.
Iris Apflel
A combinação de excentricidade, óculos e estilo numa mesma pessoa é algo que também encaixa perfeitamente em Iris Apfel. Autodenominada “ícone acidental” – expressão que dá título a um livro que publicou em 2018 – a centenária mais exuberante do planeta (fez 101 anos em Agosto) é famosa pelas conjugações arriscadas que continua a imaginar (e vestir) de tecidos de diferentes padrões e texturas, cores intensas, bijuteria oversize e óculos enormes, coloridos e dramáticos. A originalidade do estilo de Iris Apfel é de tal ordem que o nova-iorquino The Costume Institute, do The Metropolitan Museum of Art, chegou a dedicou-lhe, em 2005, uma exposição com curadoria da própria.
Jackie Kennedy
Mesmo quando mais tarde se tornou Jackie O. (de Onassis, quando casou com o armador grego, em 1968) houve duas coisas, pelo menos, que não mudaram em Jackie Kennedy: por um lado, continuou a ser uma figura cujo estilo único, elegante e sofisticado era copiado por meio mundo, ditando tendências e conquistando seguidoras; por outro lado, nunca deixou de usar grandes óculos escuros, talvez o acessório que mais a popularizou e que acentuava a sua elegância. Ao que parece, Jackie Kennedy terá começado a usar óculos escuros a conselho do escritor Gore Vidal, que lhe terá dito que estes são úteis não só para nos escondermos atrás deles, mas para estudar quem nos rodeia sem que ninguém se aperceba.
Karl Lagerfeld
Mas se houvesse um prémio para a justificação mais original para a utilização de óculos escuros, caberia sem dúvida a Karl Lagerfeld, o lendário director criativo da casa Chanel, desaparecido em 2019, cuja indumentária incluía sempre um fato escuro, o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo e um par de óculos. Ao que consta, dizia ele que “os óculos escuros são como uma sombra de olhos. Através deles o mundo fica mais bonito e toda agente parece dez anos mais nova”. O que parece que é mesmo verdade é que Kaiser Karl, como também era chamado, terá decidido usar óculos escuros sempre (até mesmo quando fotografava, o que fazia frequentemente) na sequência de um susto que apanhou numa discoteca em que, alegadamente, se não estivesse a usar óculos na altura poderia ter perdido um olho.
Anna Wintour
Ainda no mundo da moda, há outro nome que nos surge quando o tema é óculos escuros. Anna Wintour, a temida editora-chefe da revista Vogue americana (todos nos lembramos do filme O Diabo Veste Prada, certo?), não os dispensa, nem sequer em situações muito especiais e únicas, como quando esteve lado a lado com a rainha Isabel II, durante um desfile de moda, em 2018. A justificação já a tinha dado vários anos antes: mais do que proteger os olhos do sol, o que pretende mesmo é proteger-se do olhar dos outros, e assim permitir-se ficar entediada, ensonada ou desinteressada, sem que ninguém suspeite sequer.
Fontes:
- https://www.wcrf.org/cancer-trends/colorectal-cancer-statistics
- Hellström, Åke; Tekle, Joseph (1994), “Person perception through facial photographs: Effects of glasses, hair, and beard on judgments of occupation and personal qualities”, European Journal of Social Psychology, disponível em https://doi.org/10.1002/ejsp.2420240606, acedido em 09/11/2022.
- Leder, Helmut; Forster, Michael; Gerger, Gernot (2011). “The glasses stereotype revisited: Effects of glasses on perception, recognition and impressions of faces”. Swiss Journal of Psychology, disponível em https://www.researchgate.net/publication/216485057_The_glasses_stereotype_revisited_Effects_of_glasses_on_perception_recognition_and_impressions_of_faces, acedido em 09/11/2022.