Hoje, para a selecção nacional, trata-se de “comprar” descanso
Terminar em primeiro lugar do grupo dará a Portugal mais 24 horas de repouso antes dos oitavos-de-final. Mas não é só isso que pode ser ganho no duelo com a Coreia do Sul.
Nem sempre o descanso é um dado adquirido para um trabalhador. Podem dizê-lo muitos migrantes que andaram pela construção de estádios no Qatar, mas também pode dizê-lo, num plano felizmente bem menos dramático, a selecção nacional portuguesa.
No fundo, a qualidade do trabalho dos jogadores, nesta sexta-feira, frente à Coreia do Sul (SIC, 18h de Portugal continental), está directamente ligada à probabilidade de poderem ter direito a descanso adicional antes de voltarem a entrar em campo na fase a eliminar. E é sobretudo por isto que a selecção se vai bater.
Pelo menos essa é a tese de Fernando Santos, que, com esta premissa do descanso, arranjou forma de não ter de falar de uma dimensão habitualmente desconfortável para os treinadores – a de definir quem são os adversários a evitar.
Se ficar em primeiro lugar do grupo, é provável que Portugal evite defrontar o Brasil nos oitavos-de-final. E a dificuldade dos adversários, queiramos dizê-lo ou não, é tão ou mais importante do que o descanso – todos nos lembramos de como Portugal teve um quadro “amigo” no Euro 2016.
Mas isso não está na cabeça da selecção, diz Santos. Se o primeiro lugar é importante – e garante que é – é pela tal premissa do repouso, já que o primeiro classificado do grupo H vai jogar um dia mais tarde, nos “oitavos”, do que o segundo colocado.
“Esse é o factor mais importante, mais um dia de descanso. Percebo a questão de fugir do Brasil, mas quando se chega a uma prova destas, não se pode ficar por aí. Essa questão é muito importante, a das 24 horas. Tenho um caso de um jogador que já possa estar apto, se tivermos mais esse dia”, analisou o seleccionador nacional no tête-à-tête com os jornalistas.
Uns mais titulares do que outros
Mas há dois planos em conflito. Por um lado, Portugal valoriza o primeiro lugar e quer, portanto, vencer a Coreia do Sul (embora um empate também sirva). Por outro, o seleccionador não escondeu que há gestão a fazer – quer a nível físico, quer a nível disciplinar.
Embora diga que confia em todos e que todos são possíveis titulares, em todas as equipas do mundo há uns mais titulares do que outros. E serão esses outros que terão a missão de garantir as tais 24 horas a mais de descanso.
“Tenho confiança nos jogadores todos. Não terei três para amanhã [Nuno Mendes, Danilo e Otávio]. Os jogadores apareceram em grande forma, mas vai começar a doer jogar de quatro em quatro dias. Temos alguns com alguma fadiga, temos os amarelos e vamos fazer essa avaliação”, apontou, sugerindo um “onze” bem diferente daqueles que bateram o Gana e o Uruguai.
Nesse sentido, talvez a equipa que vai defrontar a Coreia, treinada por Paulo Bento, seja a mais difícil de prever. Jogadores como Rafael Leão, Gonçalo Ramos, João Mário, António Silva, Diogo Dalot, Palhinha ou Matheus Nunes poderão ir a jogo. Todos eles? Talvez. Ou só alguns. Ou até nenhum.
Certo é que Portugal tem, no papel, a intenção de não abdicar do controlo do jogo e do domínio territorial do relvado – garantia de Fernando Santos –, pelo que a matriz de jogo mostrada nas duas primeiras jornadas prolongar-se-á, provavelmente, a esta terceira.
Portugal defronta uma selecção asiática com dois nomes acima dos demais. Falamos de Son e Kim – o Kim do Nápoles, já que há mais uns quantos “Silvas coreanos” a baralharem a identificação.
Mas mesmo não tendo um lote alargado de craques esta é uma equipa que mostrou competitividade nos primeiros jogos e que vai para esta partida com a obrigação de vencer (com um empate irá ver o resto do Mundial em Seul).
Isto é bom ou mau para Portugal? Por um lado, os coreanos estarão na máxima força e sem nada a perder. Por outro, o fatalismo das contas dotará a equipa de Paulo Bento de uma dose de risco que abrirá, por certo, espaço a jogadores como Rafael Leão – ou Bruno Fernandes, que tem definido bem as transições em jogos anteriores.