Perda auditiva: auriculares e concertos podem pôr os jovens em risco. Sabe como te protegeres

Cerca de 24% dos jovens têm práticas auditivas inseguras por usar auriculares e 48% por irem uma vez por mês a concertos ou discotecas, actividades que podem levar à perda auditiva permanente.

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Tiago Lopes

Um estudo recente publicado no BMJ Global Health estima que mais de mil milhões de pessoas entre os 12 e os 34 anos, de todo o mundo, podem estar em risco de perda auditiva induzida pelo ruído.

Da revisão e metanálise, descobriu-se que 24% dos jovens têm práticas auditivas inseguras ao usar dispositivos como auriculares. Cerca de 48% têm práticas auditivas pouco seguras pelo menos uma vez por mês ao participar em eventos com muito ruído (como concertos ou discotecas).

Neste estudo, a “escuta insegura” refere-se não apenas ao quão alto é o ruído, mas também à quantidade de tempo a que uma pessoa está exposta. A dose máxima recomendada de exposição ao ruído não é superior a 85 decibéis (dB) por pessoa durante oito horas por dia. Isto é quase tão alto como o trânsito de uma cidade ou um restaurante muito movimentado.

Cada aumento de três decibéis no ruído equivale a uma duplicação da energia sonora – o que significa que o tempo de exposição deve ser reduzido para metade (é a conhecida “regra dos três dB”). Assim, se um concerto normal tiver um ruído de cerca de 105 dB, uma pessoa excederia a dose diária recomendada de ruído em aproximadamente cinco minutos. Os auscultadores e os auriculares podem atingir níveis semelhantes quando colocados no volume máximo.

O envolvimento frequente em práticas auditivas inseguras pode levar à perda auditiva permanente. Felizmente, há muitas dicas fáceis que podes pôr em prática para diminuir esse risco.

Conhece o risco

É importante sublinhar que este estudo aponta apenas para o número de jovens que podem estar em risco de perda auditiva – e não estima quantas pessoas já desenvolveram perda auditiva devido a práticas auditivas inseguras. Os autores reconhecem que são necessários estudos mais aprofundados para entender melhor os efeitos da exposição recreativa ao ruído ao longo da vida.

No entanto, sabemos, por causa de estudos sobre outros tipos de ruído, o quão prejudicial este pode ser para a audição. Por exemplo, os estudos que se debruçaram sobre os efeitos da exposição ao ruído de máquinas de construção barulhentas mostraram que este está relacionado com altos níveis de perda auditiva e o desenvolvimento de tinnitus (uma sensação de zumbido nos ouvidos).

Nesses trabalhos, a exposição média diária ao ruído pode exceder os 100dB. Problemas semelhantes também foram registados na indústria da música, com aproximadamente 64% dos músicos de pop-rock a dizerem ter perda auditiva.

Em teoria, as partes delicadas do ouvido interno são tão susceptíveis a danos causados por música alta como por máquinas e ferramentas eléctricas barulhentas. A exposição regular a altos níveis de ruído pode destruir as células ciliadas no ouvido, responsáveis pela amplificação dos sons do dia-a-dia. Os danos nestas células são irreversíveis, o que significa que a perda auditiva causada pelo ruído é permanente.

Os primeiros sinais de danos auditivos podem incluir a audição abafada (como ter algodão nos ouvidos) e os zumbidos – ambos os sintomas podem ser comuns após a exposição a ruídos altos. No entanto, embora estes sintomas possam desaparecer dentro de algumas horas ou dias, também podem ser um alerta inicial de danos mais insidiosos a partes do ouvido interno.

Embora estes primeiros sinais de perda auditiva possam ser nada mais do que um pequeno aborrecimento enquanto se é jovem, à medida que a perda auditiva piora podem ter um grande impacto na qualidade de vida. Alguns estudos até mostram que estes sintomas estão associados à depressão e ao declínio cognitivo ao longo dos anos, daí ser essencial cuidar da audição, mesmo quando se é jovem.

Protege a tua audição

A forma mais eficaz de reduzir o risco de perda auditiva é eliminar o ruído na sua origem. Noutras palavras: baixa o volume. Isto é fácil de fazer com dispositivos de áudio, uma vez que muitos smartphones já conseguem alertar o utilizador para as alturas em que está a ouvir ruídos durante muito tempo e num volume muito alto.

Diminuir o volume dos ruídos pode ser mais difícil no caso de eventos barulhentos. Para te protegeres, limita a exposição: afasta-te da fonte do som (evita ficar junto às colunas) ou faz uma pausa num local silencioso a cada 15 minutos. Também é recomendado que dês aos teus ouvidos pelo menos 16 horas de descanso se passares cerca de duas horas num ambiente onde os ruídos excedem os 100dB, como uma discoteca ou um concerto.

Também podes usar dispositivos de protecção auditiva (como tampões dos ouvidos) em eventos ruidosos. Estes são geralmente considerados a última linha de defesa, mas podem ser a melhor opção se não conseguires – ou não quiseres – limitar a exposição aos sons em questão.

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Podes usar dispositivos de protecção auditiva (como tampões dos ouvidos) em eventos ruidosos Unsplash

Os tampões descartáveis de espuma vão ajudar a prevenir a perda auditiva induzida pelo ruído, desde que usados ​​correctamente. No entanto, não são ideais para ouvir música e podem fazer com que as melodias pareçam abafadas, o que desincentiva muitas pessoas. Para os músicos, os tampões de ouvido são uma boa solução porque estão projectados para equilibrar a redução de ruído de forma uniforme em todas as frequências, o que preserva a qualidade da música.

Mesmo que sigas estas medidas para proteger a tua audição, ainda é aconselhável que sejas examinado por um otorrino. Embora não exista uma regra sobre a frequência com que deves ir ao médico, alguns especialistas recomendam fazer pelo menos um teste aos 20 anos para os resultados servirem como linha de base e, em seguida, fazer um novo teste aproximadamente a cada cinco anos para monitorizar quaisquer alterações.

Se estás regularmente exposto ao ruído ou se já tens alguma perda auditiva, é aconselhável que vás ao médico com mais frequência. Também deves entrar em contacto com um especialista se notares qualquer mudança repentina na tua audição.


Exclusivo P3/The Conversation
Samuel Couth​ é investigador na Universidade de Manchester​

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