Julgamento do actor Danny Masterson por violação foi anulado
O actor de That 70s Show era acusado por várias mulheres de violação com uso de força, mas o júri não conseguiu chegar a um veredicto unânime.
O actor Danny Masterson (That 70s Show) viu quarta-feira o seu julgamento por violação ser anulado depois de o júri não ter conseguido chegar a um veredicto. Masterson era réu num caso que envolve três acusações de violação com uso de força, no mesmo tribunal de Los Angeles em que o ex-produtor Harvey Weinstein está a ser julgado por mais crimes sexuais.
Masterson, que está afastado de Hollywood desde que as acusações se tornaram públicas na esteira do movimento #MeToo, viu assim o caso terminar num impasse. Quatro mulheres testemunharam — apenas três deles deram origem a acusações formais. “Constato que o júri está num impasse sem solução. Por isso, tenho de declarar que o julgamento é anulado”, disse a juíza Charlaine Olmedo. As decisões do júri eram sobretudo inclinadas para a absolvição, mas nenhuma foi unânime e após dois dias de votações e seis de deliberações, os jurados (sete homens e cinco mulheres) não abdicaram das suas posições individuais.
O processo deverá continuar, existindo já uma data sugerida para um novo julgamento — 27 de Março.
As alegadas violações terão ocorrido num período entre 2001 e 2003, sendo que Masterson nega ter cometido tais actos. Um dos elementos incontornáveis do seu caso é que envolve a Igreja da Cientologia, poderosa organização religiosa norte-americana. Danny Masterson, bem como as três queixosas são ou eram cientologistas na altura dos alegados crimes. A acusação alegou que a organização usou o seu poder para silenciar as acusadoras do seu famoso membro.
Dos testemunhos das queixosas sobressaíram padrões: as mulheres conheceram o actor através da igreja e estavam inebriadas, sendo levadas para o quarto do actor onde ele as violaria sem que elas tivessem capacidade de consentir ou resistir.
Uma delas relatou, no primeiro dia em tribunal, a dor intensa quando foi penetrada no ânus contra a sua vontade e a forma como foi dominada. Outra queixosa descreveu como no final de uma festa em 2003 a bebida que Masterson lhe terá dado a fez sentir-se sem forças e à beira do vómito, tendo este alegadamente aproveitado as perdas de consciência da mulher para a penetrar. Foi usada uma arma para a manter em silêncio, diz, e terá sido agarrada pelo pescoço e desmaiado sob uma almofada posta sobre as vias respiratórias. “Pensei que ia morrer”, disse em lágrimas. Mostrou provas de ter pedido à Cientologia para apresentar queixa sem sofrer represálias, e que esse pedido foi negado.
Fez queixa à polícia em 2004 e depois foi ameaçada pela igreja, alega, de que seria isolada de todos os seus amigos e família (também cientologistas) se não assinasse um acordo de confidencialidade e aceitasse um pagamento de 400 mil dólares pelo seu silêncio. Cada violação desse acordo de silêncio custa-lhe 200 mil dólares, disse, dizendo ter medo dos vários cientologistas que estavam na altura presentes na sala de audiências. As acusações contra Masterson só foram formalizadas em 2020, depois de os primeiros relatos terem vindo a público na esteira do movimento #MeToo, galvanizado em 2017.