Chefes das equipas do Serviço de Urgência do Amadora-Sintra apresentam demissão
Conselho de administração já reuniu com as chefias demissionárias e agendou novo encontro para a próxima semana.
Os chefes e subchefes das equipas do Serviço de Urgência de Medicina do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) apresentaram esta terça-feira a demissão, por considerarem estar em causa a qualidade assistencial e a segurança dos utentes. Conselho de administração já reuniu com as chefias demissionárias e agendou novo encontro para a próxima semana.
Numa carta dirigida à directora clínica do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), com conhecimento da presidente do Conselho de Administração, os 44 médicos signatários afirmam que o hospital “vive, uma vez mais, momentos de enorme dificuldade na nobre missão de prestar a melhor actividade assistencial à população que a ele recorre”.
“Depois de, com elevado esforço e sentido de dever, termos superado uma pandemia que exigiu a todas as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) o melhor dos seus profissionais, olhamos para o futuro com enorme preocupação e apreensão”, afirmam na carta divulgada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
“Às portas de mais um inverno, cuja conjugação de factores faz sentir uma elevadíssima pressão na actividade assistencial”, não podem deixar de evidenciar “as ausências de rumo e de estratégia que, face às dificuldades inerentes ao próprio SNS, permitiriam enfrentar os difíceis momentos que se avizinham com o melhor das capacidades do HFF e dos seus profissionais”, dizem. “Esta situação reflecte-se no internamento e, por conseguinte no Serviço de Urgência, em condições de trabalho para profissionais, e de segurança para os doentes, não toleráveis”, salientam.
Os profissionais lamentam que, “apesar das múltiplas propostas de restruturação submetidas ao longo dos últimos anos”, no sentido de promover reformas que possibilitem aos serviços melhorar a qualidade e eficiência da sua actividade assistencial, não tenha havido por parte dos órgãos dirigentes do hospital “abertura ou acolhimento para as mesmas, perpetuando deficiências há muito identificadas”.
“Em contraponto, somos confrontados com medidas avulsas, desprovidas de sentido ou debatidas em órgãos intermédios, cuja comunicação e implementação são geradoras de entropia e desmotivação junto dos diversos profissionais”, sublinham os médicos, que, por estas razões, apresentaram a demissão dos respectivos cargos de chefia.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, manifestou solidariedade com os médicos, afirmando que estes têm vindo a alertar “há vários meses” para “as graves deficiências” em termos da constituição das equipas. Roque da Cunha salientou que este hospital, que tem como responsabilidade cerca de 600.000 portugueses, dos quais cerca de 150.000 sem médico de família, tem “uma grande pressão na procura”. Sublinhou que o SIM “apela veementemente” ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, “que ouça estes gritos de alerta”, criando condições para contratar médicos para o SNS.
“Não adianta dizer que as pessoas recorrem em demasia ao serviço de urgência, porque não tendo alternativa, particularmente numa região onde há tantos utentes sem médico de família” têm de recorrer ao hospital. Além das pessoas que têm sintomas ligeiros, disse, “há cada vez mais pessoas que têm sintomas graves”. “São idosos que precisam de maiores cuidados. Portanto, é necessário que as equipas sejam robustecidas e que se cesse a sangria de médicos que saem do Serviço Nacional de Saúde”, disse o dirigente sindical, afirmando que no ano passado cerca de 1000 médicos pediram a rescisão e que este ano esse número será ultrapassado “com toda a certeza”
Maior procura pela urgência
Já durante a noite, numa nota enviada aos meios de comunicação, o conselho de administração do hospital disse ter mantido sempre contacto com as direcções dos serviços e chefias de equipa do serviço de urgência. “Neste contexto, contactou de imediato as 15 Chefias de Equipa do Serviço de Urgência signatárias da carta e reuniu ainda esta tarde com as Chefias de Equipa, mostrando-se disponível para encontrar e implementar medidas adicionais ao Plano de Contingência de Inverno, actualmente em vigor”. Adiantou que ficou agendada uma nova reunião para a próxima semana, “de forma a debater eventuais propostas dos 15 signatários” da carta.
Na mesma nota, a administração reconhece que tem havido uma maior procura pela urgência, com uma média de admissões de cerca de 800 por dia entre os dias 21 e 27 de Novembro. Seis em cada dez doentes são triados como pouco urgentes ou não urgentes, acrescentou, referindo que “está em curso o alargamento dos horários de atendimento complementar nos cuidados de saúde primários dos concelhos de Amadora e de Sintra” no âmbito do plano de Inverno recentemente apresentado pelo Ministério da Saúde.
“Como medidas já implementadas, salienta-se o aumento do espaço físico alocado ao Serviço de Urgência, com reflexo na melhoria das condições de segurança e conforto para os utentes e profissionais, bem como a contratação de 83 camas no exterior”, disse ainda.