Um ano depois do “maior desastre” no canal da Mancha, travessias estão a aumentar

Entre segunda e terça-feira, serviços de emergência franceses resgataram 240 pessoas no mar. Este ano, dizem os britânicos, mais de 40 mil migrantes já passaram o canal.

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As praias francesas vão passar a ser patrulhadas também por agentes fronteiriços britânicos PASCAL ROSSIGNOL/Reuters

A meio da noite de segunda-feira surgiu o alerta de que uma embarcação estava em dificuldades ao largo de Calais. Os serviços franceses de socorro a náufragos resgataram então 23 pessoas, naquela que seria a primeira de uma série de operações semelhantes durante as 24 horas seguintes.

O resgate de pessoas que tentam atravessar o canal da Mancha entre França e o Reino Unido é um acontecimento relativamente comum, mas o número de náufragos registado entre a noite de segunda-feira e a noite de terça-feira já não o é: 240.

A informação foi prestada pela autoridade marítima regional francesa, que num comunicado de imprensa “avisa todas as pessoas que pensem atravessar a Mancha para os riscos que correm”, uma vez que é uma zona marítima “particularmente perigosa” devido ao elevado volume de navios mercantes que ali passam e às “condições meteorológicas frequentemente difíceis”.

Muitas vezes em barcos de borracha que não garantem qualquer segurança, milhares de albaneses, iranianos, afegãos, sudaneses e iraquianos, entre outros, lançam-se anualmente na perigosa travessia com a esperança de alcançar a costa britânica. O Governo do Reino Unido comunicou em meados de Novembro que 40 mil pessoas tinham atravessado a Mancha desde o início do ano, batendo o recorde de 28.526 migrantes que fizeram o mesmo percurso em 2021.

Desde que a Organização Internacional para as Migrações começou a recolher dados, em 2014, pelo menos 205 pessoas morreram ou desapareceram durante a travessia. As associações de direitos humanos e de apoio a migrantes dizem que foram 325 os mortos desde 1999. “O maior desastre” na Mancha, como a instituição lhe chamou, deu-se há precisamente um ano, a 24 de Novembro de 2021, quando pelo menos 27 pessoas morreram afogadas no percurso. Outras quatro continuam desaparecidas até hoje.

As autoridades britânicas anunciaram esta semana a detenção de um homem de 32 anos “suspeito de ser membro de um grupo criminoso organizado que conspirou para transportar os migrantes para o Reino Unido a bordo de um pequeno barco”. Em França também decorre uma investigação que tem, para já, dez suspeitos.

Os governos dos dois países assinaram este mês um novo acordo com vista a reduzir as travessias no canal, que prevê um aumento da transferência de verbas do Reino Unido para França e a presença de agentes fronteiriços britânicos nas praias francesas.

Numa carta aberta publicada no Le Monde na semana passada, os responsáveis de mais de 80 organizações de direitos humanos e de apoio a migrantes acusam britânicos e franceses de insistir numa “lógica securitária” e de quererem “fazer deste espaço fronteiriço um ambiente fundamentalmente hostil para as pessoas exiladas”.

O mesmo jornal e a rádio France Info revelaram há poucos dias que, na madrugada de 24 de Novembro de 2021, os ocupantes da embarcação naufragada pediram ajuda várias vezes aos serviços de emergência franceses e britânicos, mas que nenhum meio de socorro foi enviado. A meio da tarde seguinte, um barco de pesca começou a encontrar os corpos de 27 pessoas.

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