Consumo ainda resistiu à inflação no terceiro trimestre

INE confirmou crescimento do PIB de 0,4% em cadeia e de 4,9% em termos homólogos durante o terceiro trimestre deste ano. Ligeira aceleração do consumo ajudou.

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Consumo das famílias no final do ano será decisivo para o PIB de 2022 Nelson Garrido

Apesar do efeito negativo que a escalada da inflação está a provocar no poder de compra da grande maioria dos portugueses, o consumo privado cresceu no terceiro trimestre mais do que tinha crescido no trimestre anterior, contribuindo decisivamente para o desempenho global positivo da economia.

O INE confirmou esta quarta-feira os números do crescimento económico do terceiro trimestre que tinha apresentado, em estimativa rápida, há um mês. O PIB aumentou 0,4% face ao trimestre anterior, o que representa uma aceleração depois de ter crescido 0,1% no segundo trimestre. Em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o crescimento foi de 4,9%, um valor mais baixo do que os 7,4% registados no segundo trimestre, mas que deverá ser o suficiente para que, no total de 2022, a variação anual do PIB português supere os 6%, mesmo num cenário de contracção da actividade económica no final do ano.

Os dados mais completos agora divulgados pelo INE oferecem uma explicação para o facto de a economia ter crescido mais durante o terceiro trimestre (0,4%) do que aquilo que tinha crescido no segundo (0,1%).

Não foram as exportações o motivo, já que, depois de terem crescido 4% no primeiro trimestre e 2,9% no segundo, voltaram a abrandar para uma variação do PIB em cadeia de 1,2% no terceiro trimestre do ano, mostrando que a forte retoma do turismo que impulsionou a economia na primeira metade de 2022 está definitivamente a perder força.

O investimento também pouco ajudou, já que, depois de ter caído 2,7% no segundo trimestre do ano, não evitou nova contracção no terceiro: um pouco menos acentuada, é certo, de 1,7%. O investimento em máquinas e equipamentos foi o que caiu mais, 4,4%. O investimento em construção diminuiu 1,2%, mesmo assim menos do que no segundo trimestre.

É no consumo final das famílias que se observa uma melhoria do desempenho. O crescimento em cadeia do consumo privado tinha sido, no segundo trimestre do ano, de 0,7% e, no terceiro trimestre, acelerou para 1,1%. É um resultado que, pelo peso que o consumo privado tem no PIB, é o suficiente para sustentar positivamente o desempenho registado na economia.

É também um resultado que surpreende, pelo facto de, durante o terceiro trimestre, os portugueses terem visto a taxa de inflação a subir de uma forma que os seus salários não acompanharam. Aparentemente, a perda de poder de compra terá sido compensada por uma poupança mais reduzida, algo que já tinha acontecido no segundo trimestre.

Durante este ano, são evidentes os sinais de que as famílias podem estar a recorrer à poupança que, em média, acumularam durante a pandemia, efectuando algumas compras que adiaram durante 2020 e 2021. As compras de bens duradouros, como equipamentos electrónicos ou automóveis, aumentaram 2,1% face ao trimestre anterior, quando tinham crescido 1,9% no segundo trimestre. Nos bens não duradouros, a taxa de crescimento em cadeia passou de 0,6% para 1%.

Para o quarto trimestre, as expectativas, tanto para Portugal como para o resto da Europa, não são positivas. Com a conjuntura internacional a deteriorar-se e a inflação elevada a pesar no orçamento e na confiança das famílias, é possível que a variação trimestral do PIB seja negativa. Uma recessão concretiza-se, de acordo com a definição mais utilizada, quando se registam de forma consecutiva duas variações negativas do PIB trimestral em cadeia.

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