O chef exterminador
O Menu é uma sátira maldisposta, divertida e pontualmente perturbante às desigualdades sociais e à gastronomia de luxo, com Ralph Fiennes em grande forma.
Não se pode dizer que O Menu seja um filme surrealista, mas o facto de nos ter vindo à cabeça o Anjo Exterminador de Luis Buñuel, e a sua premissa de um grupo de pessoas presas num jantar do qual não podem sair, não é exactamente um acaso. A bem dizer, a fita do britânico Mark Mylod está mais próxima da sátira maldisposta de Adam McKay, o realizador de A Queda de Wall Street e Não Olhes para Cima, que é um dos seus produtores, e isso detecta-se no modo como articula a sua sátira ao “um por cento” da população mundial. Neste caso, as estrelas de cinema, os empresários hipócritas, os milionários da tecnologia, o pessoal que tem dinheiro que chegue para ir comer ao restaurante hiperexclusivo do chefe Julian Slowik o seu premiado menu de degustação misto de gastronomia molecular e cozinha do terroir. O que o chefe preparou para esta noite, contudo, é um menu literalmente de cair para o lado – porque O Menu é comédia negra mista de thriller perverso, sátira às desigualdades mas também à gastronomia de elite (Chef’s Table desconstruído de dentro para fora), que faz a pergunta: “deve-se fazer alguma coisa apenas porque se pode fazê-la?”
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