Pode ser o animal mais longo do mundo. Avistamentos em Portugal são comuns
Criatura gelatinosa encontrada em 2020 a 600 metros de profundidade pode chegar aos 45 metros. Avistamentos de sifonóforos em Portugal são comuns.
Não se trata de uma espécie nova, mas a dimensão do avistamento na costa da Austrália pode mesmo ser irrepetível. Nos últimos dois anos, pelo menos, nenhum outro animal conseguiu aproximar-se dos cerca de 45 metros de comprimento do sifonóforo avistado em Abril de 2020 na costa da Austrália.
Através da coluna científica Discovered in the deep [Descoberto nas profundezas], o jornal britânico The Guardian relembrou o gigante sifonóforo do género Apolemia, um “parente” da caravela-portuguesa, que foi visto e fotografado durante uma expedição de uma equipa de cientistas do Schmidt Ocean Institute. A confirmarem-se as expectativas, será um dos maiores sifonóforos já avistados, com alguns cientistas a suspeitar mesmo que pode tratar-se do animal mais longo do mundo, ultrapassando em cerca de dez metros as maiores baleias.
Em Portugal, não é todo incomum encontrarem-se estes organismos, como explica ao PÚBLICO Antonina Santos, do Departamento do Mar e Recursos Marinhos do IPMA. A especialista revela que a grande maioria dos casos de avistamento reportados pelos portugueses dizem respeito a espécimes até um metro. Um caso desta dimensão é inédito, diz uma das responsáveis pelo programa GelAvista, que se dedica à monitorização de organismos gelatinosos em Portugal.
“Este sifonóforo é um conjunto de indivíduos em cadeia. Costumo dizer que este tipo de organismo é uma aldeia, mas, com esses metros todos, digo que é uma cidade”, explica, com um toque humorístico, Antonina Santos.
Apesar de ser um único animal, o sifonóforo avistado na Austrália integra milhares de pequenos outros organismos individuais que repartem entre si as funções básicas necessárias para a sobrevivência do todo. Ou seja, alguns zoóides são responsáveis por garantir tarefas como a alimentação, a movimentação e a reprodução.
“Uma caravela portuguesa é um sifonóforo, mas, neste caso, temos animais coloniais. Estes sifonóforos vivem parte da sua vida unidos em cadeia, mas também podem viver afastados uns dos outros. É parte do seu ciclo de vida, a fase zoóide”, detalha a especialista.
O encontro com este gigante sifonóforo na costa da Austrália foi um acontecimento fortuito e causou estupefacção junto dos investigadores. O facto de a descoberta ter ocorrido nos momentos finais da expedição num dia em que o limite de tempo para o mergulho já tinha sido ultrapassado, impediu um estudo mais aprofundado.
“Fizemos uns círculos, captámos imagens e recolhemos uma amostra de tecido. Depois tivemos de seguir o nosso caminho [de regresso à superfície] “, recorda a bióloga Nerida Wilson do Western Australian Museum, em declarações ao The Guardian.
Este sifonóforo, da classe dos invertebrados marinhos, foi avistado a 600 metros de profundidade, nos desfiladeiros submarinos de Ningallo, no Oceano Índico. As imagens mostram os longos conjuntos de zoóides que formam este animal gigante.
Os investigadores apenas tiveram tempo para recolher algumas imagens e amostras deste organismo gigante. Por esse mesmo mesmo motivo, prossegue o trabalho de medição através das imagens recolhidas pelas câmaras do submersível usado nesta expedição. A dimensão do animal e os ângulos das fotos dificultam uma medição rigorosa, mas os biólogos estão confiantes de que este é o animal mais comprido alguma vez observado.
No entanto, esta pode ser uma luta contra o tempo, visto que há a probabilidade de estas longas cadeias já se terem, ao longo dos últimos dois anos, fracturado. “Vivem no mar aberto e e tanto podem estar perto da superfície como a vários metros de profundidade. Quando dão à costa, devido ao efeito das correntes e das marés separam-se com facilidade. Costumam dar à costa separados, portanto pode existir a eventualidade de isso ter acontecido”, prossegue Antonina Santos.
Se se cruzar com um destes sifonóforos durante um mergulho, não precisa de se preocupar. Estes animais são inofensivos, não representando perigo para um ser humano, tranquiliza a especialista Antonina Santos.