Cavaco: “Legalização da eutanásia não respeita o espírito da Constituição”

Ex-Presidente diz que “o modo displicente como alguns dos nossos políticos tratam a retirada da vida a um ser humano é condenável e assustador”.

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O ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva ESTELA SILVA/LUSA

O ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva defende que a despenalização da morte medicamente assistida é “mais um sinal da deterioração da qualidade da nossa democracia”, numa altura em que o Parlamento vota os projectos de legalização desta prática.

Em declarações à Rádio Renascença, Cavaco Silva diz que “o modo displicente como alguns dos nossos políticos tratam a retirada da vida a um ser humano é condenável e assustador” e critica a “prioridade” dos deputados.

Cavaco afirma ainda não ter dúvidas de que “a legalização da eutanásia não respeita o espírito da Constituição” e sublinha que “autorizar por lei um médico a matar outra pessoa é um salto no desconhecido extremamente perigoso”.

“Em alguns países europeus têm sido reportados casos de pressões sobre idosos e doentes para que aceitem ser mortos. Os mais velhos e os doentes são os mais frágeis”, refere.

Cavaco Silva critica a posição do Parlamento que “ao legalizar a eutanásia, contra o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e os pareceres das ordens dos profissionais de saúde, abre a porta à morte de pessoas em que é duvidosa a sua autorização, como se tem verificado aliás noutros países”.

“Num país como Portugal, com um dos piores riscos de pobreza e exclusão social da União Europeia e sem uma rede de cuidados paliativos a que os doentes de famílias mais desfavorecidas possam ter acesso, num Portugal em que se acentua o empobrecimento em relação aos outros países, a prioridade dos deputados é a legalização da prática da eutanásia, autorizar um médico a matar outra pessoa”, critica.

Segundo o ex-Presidente da República, tal “é surpreendente, mas é verdade” e trata-se de “mais um sinal da deterioração da qualidade da nossa democracia”. “São palavras duras, mas há que ter a coragem de dizê-las”, conclui.

Para esta terça-feira está agendada uma reunião da direcção da bancada do PS para decidir se os socialistas apresentarão novas alterações ao texto de substituição sobre a morte medicamente assistida, antes da votação na especialidade na quarta-feira.

Fonte da direcção socialista assegurou à Renascença que “em condições normais” o texto será votado e que a bancada reservou os primeiros dias desta semana para uma “leitura atenta” do diploma “para não haver incongruências”, de forma a evitar o veto de Marcelo Rebelo de Sousa e “antes que se arranjasse um problema a posteriori”.

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