Portugal-Uruguai: ganham os direitos humanos

Mario Ferri é o nome do adepto que invadiu o campo, que resolveu usar o grande palco que é um jogo do Mundial para divulgar amplamente três mensagens importantes. Não teve medo das consequências.

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Adepto entrou em campo com uma bandeira arco-íris EPA/NOUSHAD THEKKAYIL

O relógio ainda não marcava uma hora de jogo quando os comentadores do jogo Portugal-Uruguai informaram que tinha havido uma invasão no campo. Pensei imediatamente de que se tratava de um fã de Cristiano Ronaldo, até que vi, por segundos, um indivíduo a correr com uma bandeira colorida.

Não tendo percebido ao início do que se tratava, acabaria por pesquisar por o incidente e perceber que o adepto que invadiu o campo trazia três mensagens fulcrais para a sociedade actual:

1) Na sua t-shirt estava escrita uma mensagem de apoio à Ucrânia. É importante que nunca nos esqueçamos que a Rússia invadiu outro Estado soberano. Não declarou guerra à Ucrânia porque, para isso, teria de a reconhecer como Estado, por isso chamaram-lhe uma operação militar. Mas é mesmo uma guerra. Uma guerra com todas as consequências e todas as vidas perdidas que esta palavra envolve. É uma guerra que já fez milhões de refugiados ucranianos, que já separou famílias e em que pais já enterraram os filhos. É uma guerra sem ética, porque até numa guerra tem de haver alguma ética, nomeadamente no que toca a não se atacar hospitais, parques infantis ou orfanatos.

2) Na parte detrás da t-shirt do adepto estava escrita uma mensagem que dizia “Respect for Iranian Women”, sendo claramente uma mensagem de apoio às manifestações que têm ocorrido no Irão que, além de terem como objectivo que as mulheres ganhem uma maior liberdade, apelam ao fim do regime. Estas manifestações começaram com a morte de Mahsa Amini, uma jovem iraniana que morreu pelas mãos da polícia dos costumes, tendo sido a centelha da revolução que começou no Irão desde Setembro. A revolução do Irão tem como lema “Jin, Jiyan, Azadi” – Mulher, Vida, Liberdade. Apesar da distância física e cultural que Portugal tem do Irão, nunca nos podemos deixar de apoiar e nem deixar de glorificar todos aqueles, sejam homens ou mulheres, que lutam por um país mais justo, mais igualitário e mais tolerante.

3) O adepto trazia na mão uma bandeira LGBTQI+, num país onde o embaixador do Mundial diz que a homossexualidade é um distúrbio mental. É importante que seja marcada uma posição e que se mostre uma forte rejeição ao que foi proferido. Se é certo que cada um pode ter direito à sua opinião, também é certo que cada um deve ter a liberdade de fazer o que bem entender com a sua vida, desde que isso não prejudique terceiros. Se alguém quer amar alguém do mesmo género, que o faça, se alguém quer ter determinada religião, que tenha, se alguém quer seguir determinada ideologia política, que siga. Não tem de ser julgado ou proibido por isso: tem de ter a liberdade de o fazer.

Mario Ferri. Mario Ferri é o nome do adepto que invadiu o campo, que resolveu usar o grande palco que é um jogo do Mundial para divulgar amplamente estas três mensagens importantes. Não teve medo das consequências, apesar de elas existirem, os seus valores falaram mais alto e ele fez o que estava correcto. Por vezes, os heróis não usam capas, mas alertam para os problemas reais, problemas esses que infelizmente ainda causam muitas mortes, seja uma guerra injusta, um regime opressor ou a falta de tolerância pelos outros. É necessário reflectirmos sobre isto tudo e ver como podemos fazer a nossa parte.

Obrigada, Mario Ferri, pela coragem, pela ousadia e pelas importantes mensagens.

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