Grávidas expostas à poluição do ar com maior risco de nados-mortos

A exposição a partículas finas (PM 2,5) durante a gravidez pode aumentar o risco de as mulheres darem à luz bebés mortos em países de baixo e médio rendimento, revela estudo.

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Programas robustos de melhoria da qualidade do ar podem contribuir para aumentar a saúde materna Reuters/Regis Duvignau

Grávidas expostas à poluição do ar têm maior probabilidade de dar à luz bebés que nascem mortos, revela um estudo publicado esta terça-feira na revista científica Nature Communications.

“A exposição a partículas finas (PM 2,5) durante a gravidez pode aumentar o risco de nados-mortos”, afirma ao PÚBLICO Tao Xue, autor principal do estudo e professor da Universidade de Pequim, na China.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores analisaram dados relativos a um total de mais de 45 bebés nascidos vivos e nados-mortos em países de baixo e médio rendimento, incluindo Paquistão, Índia e Nigéria.

Os resultados obtidos indicam que programas robustos de melhoria da qualidade do ar podem contribuir para aumentar a saúde materna e reduzir o número de nados-mortos nessas nações.

“Esperamos que as nossas descobertas possam encorajar os países de baixo e médio rendimento a aplicar critérios de qualidade do ar mais exigentes, a fim de proteger a saúde materno-infantil”, afirmou ao PÚBLICO Tao Xue, numa resposta por e-mail. Os bebés nados-mortos são, segundo as Nações Unidas, uma tragédia negligenciada.

As partículas finas constituem uma forma de poluição atmosférica. Estes materiais suspensos no ar, que escurecem os céus das cidades, são chamados PM 2,5 precisamente porque têm 2,5 micrómetros de diâmetro. São pequeníssimos, dezenas de vezes mais estreitos do que um fio de cabelo.

Estas partículas a que quase todos nós estamos expostos, em maior ou menor grau consoante o lugar onde vivemos, estão associadas a diversas doenças dos sistemas circulatório, respiratório, nervoso e imunitário. Além das PM 2,5, existem ainda as PM 10, cerca de quatro vezes maiores do que aquelas.

Os cientistas reuniram um manancial de dados, cruzando estimativas detalhadas de nados-mortos com estudos prévios de taxas de exposição a poluição atmosférica 54 países de baixo e médio rendimento. Ao todo, foram coligidos dados relativos a 13.870 nados-mortos e 32.449 bebés nascidos vivos no período de 1998 a 2016.

Os dados em causa oferecem um alto grau de confiança uma vez que são oriundos de estudos de meta-análise e casos-controlo. Enquanto a meta-análise consiste numa técnica estatística que combina dados de múltiplos estudos sobre um tópico específico, o caso-controlo permite comparar diferentes grupos retrospectivamente.

Os autores do estudo descobriram que um aumento na exposição a partículas PM 2,5 de cerca de 10 microgramas por centímetro cúbico foi associado a uma subida de 11% no risco de os bebés nascerem mortos. Essa associação foi reforçada pelo aumento da idade materna.

Em seguida, os cientistas estimaram a incidência deste problema de saúde reprodutiva em 137 países. Estas nações são precisamente aquelas que testemunham mais de 98% dos nados-mortos no planeta. Nos cálculos desta equipa, a exposição às partículas PM 2,5 pode ter contribuído para quase 40% dos bebés nascidos mortos nessas geografias.

Satélites ajudam a analisar a poluição atmosférica

“Antigamente, a falta de dados de monitorização era um problema para estudar os efeitos da poluição atmosférica global na saúde humana. Só que, entretanto, os especialistas desenvolveram um método para avaliar as concentrações de PM 2,5 combinando modelos de monitorização remota da qualidade do ar com recurso a satélites”, explica o professor da Universidade de Pequim especializado na relação entre saúde reprodutiva e poluição.

“Graças a estas conquistas, estudar hoje as PM 2,5 no mundo já não é uma dificuldade técnica. No entanto, há um grande número de incertezas envolvidas nesta nova forma de fazer estimativas. Portanto, continua a ser um desafio usar cuidadosamente estes dados em estudos epidemiológicos (para reduzir a classificação incorrecta da exposição)”, acrescenta Tao Xue.

A poluição do ar é uma das maiores ameaças ambientais à saúde humana. Segundo a Organização Mundial da Saúde, este agente é responsável pela morte prematura de cerca de nove milhões de pessoas por ano.

Um relatório recente, divulgado durante a Cimeira do Clima no Egipto, mostrava que cerca de 880 mil mortes por ano poderiam ser evitadas até 2063 se os líderes africanos colocassem em prática, o quanto antes, medidas de combate à crise climática e à poluição do ar - duas áreas que, devido ao papel preponderante da combustão nas emissões de gases de efeito estufa, andam quase sempre de mãos dadas. ​