Grande Barreira de Coral deve ser considerada património em perigo, diz ONU

A colocação do recife de coral australiano na lista de património em perigo já tinha sido considerada no ano passado, devido aos frequentes eventos de branqueamento.

azul,corais,australia,biodiversidade,alteracoes-climaticas,oceanos,
Fotogaleria
Corais na Grande Barreira de Coral, na Austrália REUTERS/Centre for Marine Studies, The University of Queensland/Ove Hoegh-Guldberg
azul,corais,australia,biodiversidade,alteracoes-climaticas,oceanos,
Fotogaleria
REUTERS/Centre for Marine Studies, The University of Queensland/Ove Hoegh-Guldberg
azul,corais,australia,biodiversidade,alteracoes-climaticas,oceanos,
Fotogaleria
REUTERS/David Gray
azul,corais,australia,biodiversidade,alteracoes-climaticas,oceanos,
Fotogaleria
REUTERS/Daniel Munoz

A Grande Barreira de Coral da Austrália deve ser listada como património mundial que está “em perigo”, recomendou esta terça-feira um painel da ONU, declarando que o maior ecossistema de recifes de coral do mundo foi significativamente afectado pelas alterações climáticas e pelo aquecimento dos oceanos.

Os frequentes eventos de branqueamento estão a ameaçar o recife. Foram quatro ao longo dos últimos sete anos, sendo que o primeiro deste ano ocorreu de forma não usual, durante um fenómeno La Niña, que tipicamente traz temperaturas mais frias e arrefece as águas. Parte da Grande Barreira chegou a recuperar, mas o género de coral que lidera a recuperação é muito vulnerável ao stress térmico.

O branqueamento acontece quando a água aquece demasiado, fazendo com que os corais expulsem as algas coloridas que vivem nos seus tecidos e fiquem brancos. Os corais são animais sésseis que “criam raízes” no fundo do oceano. São capazes de sobreviver a um evento de branqueamento, mas este pode retardar o seu crescimento e afectar a reprodução.

“A resiliência do (recife) para recuperar dos impactos das alterações climáticas está substancialmente comprometida”, refere um relatório de uma equipa de cientistas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que visitaram o recife em Março.

O relatório deveria ser divulgado antes de uma reunião do comité do património mundial da UNESCO em Junho, prevista para a Rússia, mas esta foi adiada devido à guerra na Ucrânia. As datas para a próxima reunião ainda não foram decididas.

Embora os esforços para enfrentar as alterações climáticas tenham aumentado recentemente, em particular a investigação sobre a restauração dos corais, é necessária “a máxima urgência” para salvar o recife, diz o relatório.

Corais na lista de perigo perdem estatuto

Camberra tem feito pressão durante anos para manter o recife que contribui com 6,4 mil milhões de dólares australianos (o equivalente a cerca de 4,1 mil milhões de euros) para a economia – fora da lista de perigo, uma vez que poderia levar à perda do estatuto de património, tirando algum brilho à sua atracção pelos turistas. Antes da COVID-19, cerca de dois milhões de turistas visitavam anualmente o recife situado ao largo da costa nordeste da Austrália, segundo dados oficiais, proporcionando emprego a 64 mil pessoas.

No ano passado, a Austrália esquivou-se a uma lista de “em perigo” para o recife, depois de uma forte pressão do governo anterior ter levado a UNESCO a adiar uma decisão para este ano. A Ministra do Ambiente, Tanya Plibersek, disse que o governo iria pressionar a UNESCO a não listar o recife como estando em perigo porque as alterações climáticas estavam a ameaçar todos os recifes de coral em todo o mundo.

“Vamos fazer claramente notar à UNESCO que não há necessidade de isolar a Grande Barreira de Corais desta forma”, disse Plibersek durante uma conferência de imprensa. “A razão pela qual a UNESCO no passado apontou um único lugar como estando em risco é porque queria ver um maior investimento governamental ou uma maior acção governamental e, desde a mudança de governo, ambas as coisas aconteceram”.

O governo trabalhista recentemente eleito da Austrália comprometeu-se a gastar 1,2 mil milhões de dólares australianos (cerca de 772 milhões de euros) nos próximos anos para proteger o recife. O parlamento aprovou, em Setembro, uma legislação para emissões líquidas zero até 2050.

A organização independente Great Barrier Reef Foundation afirmou que já estava ciente da série de ameaças identificadas no relatório da ONU, mas a recomendação de acrescentar o recife à lista de locais ameaçados era prematura. “A Grande Barreira de Corais é uma maravilha, ela tem os seus desafios, mas não está definitivamente nas suas últimas fases, de forma nenhuma”, disse à Reuters a Directora Executiva Anna Marsden.