Selecção portuguesa, cuidado com o “passarinho”

Se alguém consegue brilhar no Real Madrid de Benzema, Modric e Vinícius, então algo está a ser muito bem feito. Fede Valverde, “o passarinho”, é o homem a vigiar pela selecção no Portugal-Uruguai.

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“O passarinho” Valverde em posição de voo no jogo frente à Coreia do Sul EPA/Neil Hall

Em Bird Song, Florence & The Machine falam de um pássaro que estava a cantar tão alto que tiveram de o prender debaixo de uma caixa de cartão e sentarem-se nela, para o fazer parar. Nesta segunda-feira, quando defrontarem o Uruguai, é bom que os jogadores da selecção portuguesa tenham caixas de cartão suficientes para abafarem o som forte que virá do meio-campo sul-americano.

A alcunha do jogador até parece não ser imponente. Não é um Luisão, um Marcão ou um Geraldão. Mas se Ronaldinho foi melhor do que Ronaldão, também Fede Valverde, “o passarinho, pode ser melhor do que um eventual “passarão”. E ele é, por estes dias, do mais perigoso que há na selecção do Uruguai.

É certo que esta é a equipa onde joga Luis Suárez. E Darwin. Ainda por lá anda Cavani. Até De Arrascaeta tem coisas a mostrar. Mas, aos 24 anos, Valverde chegou-se à frente — no Uruguai, no Real Madrid e onde quer que esteja.

Caros portugueses, cuidado com o passarinho.

Não há pontapé como este

Em Outubro de 2018, Julen Lopetegui tinha nas mãos um Real Madrid que precisava de uma alternativa a Isco num jogo da Champions. Nesse dia, chamou, pela primeira vez, um jovem de 20 anos chamado Federico Valverde.

Hoje, mais de quatro anos depois, Valverde não é o miúdo desvalorizável, mas sim alguém que já se colocou, de pleno direito, no lote de melhores rematadores do mundo. Daquele pé direito saem autênticos “mísseis”, que já se tornaram uma imagem de marca do jogador uruguaio. Se lhe derem espaço, Diogo Costa vai ter problemas.

Cruzando dados dos sites Who Scored e FBref, percebemos que Valverde é o jogador no mundo com mais golos de fora da área nesta temporada — são quatro.

Depois, faz 2,6 remates de fora da área por jogo, sendo que, em média, remata a 24 metros da baliza. Dos 2,6 disparos por jogo, 1,4 vão à baliza e 1,9 são obtidos de jogadas de ataque continuado e não de bola parada.

Estes são dados absolutamente claros sobre um jogador que, por estes dias, está com a confiança de quem sabe que é a principal esperança uruguaia para resolver o jogo “à bomba”. E este predicado ganha ainda maior relevância numa equipa que tem tido dificuldades em colocar no relvado um futebol criativo e capaz de gerar situações de finalização — e há, como se sabe, finalizadores de excelência.

Parte do “engodo” criado poderá ser “afundar” os atacantes na área, limitando a disponibilidade dos centrais portugueses para saírem a eventuais segundas bolas à entrada da área. Por lá, estará Valverde — e, esperará Fernando Santos, estará também pelo menos um dos médios portugueses.

Entra a bola, sai a fralda

Valverde já leva oito golos pelo Real Madrid nesta temporada, metade deles de fora da área, com o “pontapé-canhão” nascido em 1998, em Montevideu.

Na altura, não havia esse pontapé para exibir, bem pelo contrário. Valverde era apenas uma criança, cuja voz suave e pernas finas lhe valeram o epíteto de “pajarito” (passarinho).

Segundo contou o pai à Real Madrid TV, Fede gostava de jogar futebol e até o usou para largar as fraldas e a chupeta. Primeiro, quando celebrou o seu primeiro golo, com quatro anos, fê-lo... tirando a fralda. Mas a chupeta continuou no quotidiano durante bastante tempo, já que o jovem “Fede” a levava para todo o lado. Anos mais tarde, prometeu que, se fosse campeão de benjamins, com o Peñarol, largaria a chupeta. E assim foi.

Detalhes sem especial relevância para o jogo de amanhã, mas que adensam a noção de que se trata de alguém de ideias fixas e que aplica, na vida, a lei do esforço-recompensa.

No Real, a capacidade de trabalho, a polivalência e o pontapé convenceram Lopetegui, Solari, Zidane e Ancelotti. No Uruguai, Valverde tem, no jogo frente a Portugal, a possibilidade de se chegar à frente como líder de uma “banda” cujos principais craques estão na fase descendente da carreira.

É naquele pé direito que está boa parte do futuro da selecção e, a curto prazo, boa parte das possibilidades de o Uruguai deitar abaixo a selecção portuguesa.

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