Árvore de Natal verdadeira ou artificial? Qual é a melhor escolha para o ambiente?
A opção não é tão simples como parece. Mais do que escolher entre uma árvore real ou artificial, importa o que fazemos para a obter e como nos livramos dela.
Em muitas casas, as famílias começam a preparar-se para uma importante época do ano: o Natal. E, para aqueles que celebram, isso significa muitas vezes descobrir o que fazer com uma árvore — a peça central no tempo das festividades do Natal.
Que tipo de árvore ou, em alguns casos, que árvores escolher resume-se em grande parte a uma preferência pessoal. Para muitas pessoas, uma verdadeira árvore representa a tradição — uma oportunidade de recriar memórias de encontrar “a árvore certa” e trazê-la para casa da floresta ou de um lote de árvores do bairro — com um cheiro fresco que ajuda a criar o ambiente de férias.
Por outro lado, as árvores artificiais oferecem conveniência, uma vez que podem ser reutilizadas ano após ano e normalmente vêm com luzes ou decorações incorporadas.
Mas, com mais consumidores cada vez mais preocupados com o impacto ambiental das suas compras, poderá estar a perguntar-se que tipo de árvore de Natal é a opção mais amiga do planeta. Eis o que precisa de saber quando se trata de saber se as árvores reais ou artificiais são melhores para o ambiente.
O argumento das árvores verdadeiras
Embora se possa preocupar que cortar dezenas de milhões de árvores por ano seja um pesadelo ambiental, uma verdadeira árvore de Natal pode ser mais sustentável do que uma artificial, diz Bill Ulfelder, director executivo da Nature Conservancy em Nova Iorque.
“Não deve haver remorsos, nem culpa, como: ‘Oh meu Deus, é uma árvore cortada.’ É absolutamente o contrário”, diz Ulfelder, que tem um mestrado em Silvicultura. “As árvores são um recurso renovável. Quando estão a ser cortadas, estão a ser colhidas de forma a serem replantadas, por isso é um grande recurso renovável que proporciona muitos benefícios ambientais, de conservação e da natureza.”
Por exemplo, as árvores vivas absorvem dióxido de carbono — um dos principais contribuintes para o aquecimento global — do ar e libertam oxigénio. Pode levar pelo menos sete anos a plantar uma árvore de Natal até à sua altura normal de um a dois metros, segundo a Associação Nacional das Árvores de Natal (NCTA), um grupo comercial que em parte representa os produtores e vendedores de árvores reais.
Embora as estimativas possam variar significativamente, um estudo sugere que o cultivo de árvores de Natal pode sequestrar quase uma tonelada de dióxido de carbono por hectare, de acordo com o Sightline Institute. O que acontece a esse carbono depende de como essas árvores são tratadas uma vez cortadas e descartadas.
À medida que estas árvores crescem, não só fornecem ar puro, mas também podem servir como habitats de vida selvagem, ajudar a melhorar a qualidade da água e a retardar a erosão e a preservar espaços verdes. As árvores de Natal são frequentemente cultivadas em encostas que não seriam adequadas para a agricultura de outros tipos de culturas e, para cada árvore colhida, são plantadas uma a três plântulas [uma pequena planta recém-nascida] na Primavera seguinte, de acordo com a NCTA.
Além disso, as verdadeiras árvores podem ser recriadas de forma a continuarem a beneficiar o ambiente, mesmo depois de já não estarem vivas. Cidades como Nova Iorque e D.C. têm programas municipais que recolhem árvores de Natal mortas e as transformam em cobertura. As árvores também podem ser utilizadas para evitar a erosão das dunas ou afundadas em lagoas e lagos para criar habitats naturais para a vida selvagem de água doce, diz Ulfelder.
“Há vida para árvores [verdadeiras] de Natal depois do Natal”, diz ele. Mas Ulfelder e outros especialistas reconhecem que há um custo ambiental para a agricultura e distribuição de árvores verdadeiras. O cultivo de árvores requer água e, em muitos casos, fertilizantes e pesticidas. Além disso, a colheita de árvores e o seu transporte das quintas para as lojas ou lotes pode produzir emissões.
Ainda assim, as árvores verdadeiras podem ser a escolha preferida em relação às artificiais quando se trata de sustentabilidade global, o que também tem em conta os impactos económicos e sociais, diz Bert Cregg, professor de Horticultura e Silvicultura na Michigan State University. “É aí que eu penso que as árvores verdadeiras são muito melhores” do que as árvores artificiais, diz Cregg.
Existem quase 15 mil explorações de árvores de Natal nos Estados Unidos, a grande maioria das quais são operações familiares, e a indústria fornece emprego a tempo inteiro ou parcial a mais de 100 mil pessoas, de acordo com a NCTA. “Como qualquer outra agricultura, vai apoiar os agricultores locais ou vai apoiar um grande fabricante noutro sítio qualquer?”, questiona Cregg.
Optar pela artificial
A maioria das árvores artificiais vendidas nos Estados Unidos [e em muitos outros países] é fabricada na China, segundo a NCTA, citando dados do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. As árvores são normalmente carregadas em cargueiros marítimos que queimam combustíveis fósseis nas viagens para os seus destinos, onde são distribuídas a retalhistas. Mas os peritos dizem que as emissões associadas ao transporte de árvores artificiais são menos significativas do que o que é produzido ao fazê-las.
As árvores artificiais são frequentemente feitas de plástico, um material à base de petróleo e aço. Muitas árvores utilizam PVC, um plástico difícil de reciclar e com aditivos tóxicos, que tem estado ligado a riscos sanitários e ambientais. As árvores também podem ser feitas de polietileno, outro tipo de plástico, diz Mac Harman, fundador e CEO da Balsam Hill, um dos principais retalhistas de árvores artificiais de Natal e decoração de festas nos Estados Unidos.
Apesar de uma árvore artificial não soar a algo amigo do ambiente, em certos casos, elas podem ser a escolha mais consciente do ambiente, de acordo com a Associação Americana de Árvores de Natal (ACTA), um grupo industrial sem fins lucrativos que representa fabricantes de árvores artificiais.
Um estudo de 2018 analisou árvores de Natal reais e artificiais em diferentes métricas ambientais, incluindo o potencial de aquecimento global, a procura de energia primária e o consumo de água, entre outros, e descobriu que as árvores artificiais podem ter menos impacto ambiental se forem reutilizadas durante pelo menos cinco anos em comparação com a compra de uma nova árvore real a cada ano.
“O impacto de ambos os tipos de árvores varia com base na distância que os consumidores percorrem para obter a sua árvore, o que fazem para se desfazer da sua árvore (para árvores vivas, aterro sanitário, incineração ou compostagem) e quanto tempo os consumidores utilizam as suas árvores”, de acordo com um resumo do estudo da ACTA, que divulgou a avaliação conduzida pela WAP Sustainability Consulting.
Mas outro estudo aprofundado divulgado em 2009 concluiu que as árvores artificiais só se tornariam melhores do que as naturais se fossem utilizadas durante 20 anos.
Segundo Harman, um estudo da Nielsen pago pelo ACTA revelou que quase 50% dos proprietários de árvores artificiais declararam ter planeado utilizar as suas árvores durante dez ou mais estações.
Este responsável acrescenta que as árvores artificiais também são frequentemente doadas, o que pode prolongar o seu tempo de vida. A desvantagem, porém, é que, quando estas árvores já não são úteis a ninguém, “na maioria dos casos, acabam em aterros”, refere. Fazer com que mais plástico acabe por ir parar a aterros sanitários deve preocupar os consumidores, alerta Ulfelder.
“Se se mantiverem árvores artificiais durante tempo suficiente, a pegada de carbono pode ser menor, mas depois ainda se tem plástico e depois há plástico a ir para o aterro sanitário”, diz ele. “Portanto, esta é apenas uma forma de olhar para a comparação, e penso que só precisamos de olhar para todos os benefícios da natureza das árvores naturais.”
Mas, então, o que devemos fazer?
Se estiver interessado numa árvore verdadeira, Ulfelder recomenda que tente comprar uma árvore local sempre que possível. Conduzir uma longa distância num carro a gasolina para chegar a uma quinta ou a um vendedor pode ser uma fonte significativa de emissões.
Comprar a sua árvore de uma quinta ou lote na sua área também pode ajudar a apoiar a economia local. Os principais estados produtores de árvores de Natal nos EUA incluem Oregon, Carolina do Norte, Michigan, Pensilvânia, Wisconsin e Washington, segundo a NCTA.
Procurar uma árvore de Natal cultivada organicamente é um passo adicional que pode dar para ajudar o ambiente, diz Ulfelder.
O US Forest Service também vende licenças a pessoas que querem sair para o meio selvagem e cortar a sua própria árvore. “Por cada árvore que é encontrada, cortada e transportada para casa, como um local de férias, está também a contribuir para a saúde geral da floresta”, de acordo com um website governamental que vende as licenças.
Comprar uma árvore viva ou uma que possa ser replantada ao ar livre é outra opção. “O grande truque é conseguir que a árvore viva depois”, diz Bert Cregg.
Se tiver uma árvore viva, é fundamental não a manter dentro de casa por muito tempo, especialmente se estiver no Norte dos EUA, porque pode começar a perder a sua capacidade de resistir a temperaturas frias, avisa Cregg. Sugere deixar a árvore em pé durante duas semanas, no máximo, antes de a mudar para uma garagem ou pátio não aquecido até à Primavera. “Depois, pode plantá-la tal como faz na sua rotina normal de plantação na Primavera.”
Também é importante cuidar das árvores verdadeiras, nota Bert Cregg. As árvores precisam de muita água e ele recomenda que verifique diariamente a sua árvore, para se certificar de que a não está a secar.
A forma que usa para se desfazer das suas verdadeiras árvores também é importante. “Se as pessoas puserem a árvore numa fogueira, todo aquele carbono volta para a atmosfera”, lembra Cregg. Para aqueles que preferem árvores artificiais, tente mantê-las em uso e fora dos aterros o máximo de tempo possível.
E, embora árvores reais e artificiais possam ter impactos variados, os especialistas dizem que é importante considerar esta decisão no contexto de outras escolhas pessoais que podem contribuir para as alterações climáticas.
“Afinal de contas, assumindo que uma árvore artificial é utilizada durante pelo menos cinco anos, nenhuma das árvores tem um impacto significativo no ambiente quando comparada com outras actividades da vida diária como conduzir um carro”, constata Harman.