Ópera sobre violência doméstica estreia-se esta sexta-feira no Porto

Projecto promovido pela Santa Casa da Misericórdia do Porto e pelo Quarteto Contratempus parte de relatos de mulheres acolhidas na Casa Abrigo de Santo António. A entrada é gratuita.

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Leonor Keil (no centro do grupo) é uma das intérpretes desta ópera Pedro Sardinha
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O projecto, promovido O projecto envolveu vários grupos de utentes da Misericórdia do Porto, nomeadamente crianças e jovens, pessoas com deficiência e/ou incapacidade, idosos, vítimas de violência doméstica e pessoas em situação de emergência social Pedro Sardinha
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O espectáculo conta com duas apresentações de entrada gratuita Pedro Sardinha

A Misericórdia do Porto e o Quarteto Contratempus estreiam na sexta-feira, no Teatro Municipal Rivoli, a ópera Lugar Comum, resultado de um projecto de prevenção e sensibilização contra a violência doméstica desenvolvido ao longo de 36 meses. O espectáculo terá duas apresentações, na sexta-feira e no sábado, ambas às 19h30.

O projecto, promovido pela Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), envolveu, além de artistas profissionais, vários grupos de utentes das respostas sociais da SCMP, nomeadamente crianças e jovens, pessoas com deficiência e/ou incapacidade, idosos, vítimas de violência doméstica e pessoas em situação de emergência social.

“A ópera sempre foi um veículo de intervenção social, outrora, quando estava no seu apogeu na Europa. Queremos resgatar essa faceta”, explicou à Lusa a directora artística do Quarteto Contratempus, Teresa Nunes.

Do libreto constam vários testemunhos de mulheres acolhidas na Casa Abrigo de Santo António, vivências que o Quarteto Contratempus transportou para palco.

“Ao longo da estrutura de um requiem, uma mulher conta a sua história, o encontro, o casamento, os momentos de tensão e os momentos em que [o agressor] trouxe flores para se reconciliar”, explicou Teresa Nunes.

Quando o público entra na sala, “já tudo aconteceu": “A mulher, enrodilhada nas teias da vida traumática, está morta. A peça começa com o funeral, está lá um conjunto de pessoas a testemunhar a sua morte. E, para surpresa dos amigos, ela volta para contar a sua história, que é a mesma de milhares e milhares de mulheres.”

O autor do libreto, Mário João Alves, disse ter sido inspirado pelos testemunhos que ouviu na Casa Abrigo de Santo António, da SCMP.

A este propósito, Mário João Alves escreve: “As flores é coisa com jeito para preencher espaços vazios, físicos, imaginários, afectivos ou quaisquer que possam iluminar-se com estes seres de carne colorida, carne viva e carne signo de lugares opostos que podem ser de aproximação, sofrer, amor ou morte. O lugar-comum das flores, das mulheres, dos ditos e não ditos por razões de silêncio maior é o mesmo lugar onde se entrelaçam dedos de mãos que afagam e dedos que doem. E as flores são luto como são poema.”

Segundo o encenador, António Durães, Lugar Comum contraria “o estafado dito popular que manda que ‘entre marido e mulher não metas a colher'”. O lugar-comum do título é “o lugar para nos encontrarmos com esta narrativa, nos desafiarmos a pensar e nos sensibilizarmos para que possamos fazer alguma coisa, agir, e não apenas poeticamente”.

A história é genérica, mas, diz António Durães, “a ficção sofrida dentro da vertigem repetida é concreta”.

Para o provedor da Misericórdia do Porto, António Tavares, este é “um projecto que se quer transformador, para as vítimas, convertendo as suas experiências traumáticas em exemplo de voz e empoderamento, inspirando outras que agora vivem essa realidade; e transformador para a sociedade, transformando a indiferença e as omissões em espelhos de rejeição à violência”.

“Não é ao acaso que decidimos que as portas do espectáculo vão estar abertas. É um convite (que não pode ser recusado) à participação de todos, com o objectivo de sensibilizar, envolver e responsabilizar. Este é um projecto de todos e para todos, porque amanhã todos podemos ser a vítima. Temos de parar, temos de mudar este lugar-comum”, afirmou António Tavares.

A composição da obra esteve a cargo de Sofia Sousa Rocha, a encenação é de António Durães, a assistência de encenação de Tatiana Rocha e o apoio ao movimento de Leonor Keil. O elenco é composto por Teresa Nunes (soprano), Miguel Leitão (tenor), Crispim Luz (clarinete), Manuela Ferrão (violoncelo), Sérgio de A (piano) e Leonor Keil. Ana Rosa, Beatriz Ramos, Natalie Gonçalves e Teresa Queirós dão corpo ao coro.

A entrada para o espectáculo é livre, ficando os bilhetes disponíveis no Rivoli e online (dois por pessoa), a partir das 11h de sexta-feira.