Morreu o cantor e compositor brasileiro Erasmo Carlos (1941-2022), ex-Jovem Guarda
Sofria de um edema e voltou a ser internado esta segunda-feira, de urgência. Tinha 81 anos.
O cantor e compositor brasileiro Erasmo Carlos morreu esta segunda-feira, após um súbito internamento hospitalar. Tinha sido internado há um mês (sofria de um edema) mas o hospital deu-lhe alta, até que, de novo internado no Hospital Barra D’or, na Barra da Tijuca, no Rio, não resistiu. Tinha 81 anos e a causa oficial da morte não foi ainda divulgada.
De seu verdadeiro nome Erasmo Esteves, nascido no Rio de Janeiro em 5 de Junho de 1941, Erasmo foi, na década de 1960, um dos nomes de maior relevo do movimento Jovem Guarda (onde era conhecido como o “Tremendão”), juntamente com Roberto Carlos, com quem selou uma duradoura parceria em centenas de canções (com o seu nome, existirão mais de 500).
Ainda jovem, começou a interessar-se pela música quando o rock surgiu no Brasil, em 1957, segundo a Enciclopédia da Música Brasileira (ed. Art Editora, 1977). Os primeiros acordes no violão, tocou-os de ouvido, aprendidos com Tim Maia (1942-1998) e integrou com este o conjunto The Snacks, do qual fazia também parte Roberto Carlos. Foi depois crooner e guitarrista no grupo Renato e seus Blue Caps, conseguindo que a sua primeira composição, Eu quero twist, fosse gravada e editada pela Copacabana, por intermédio de Reynaldo Rayol (1944-2021), que também integrava os Blue Caps.
A sua profissionalização ocorreria mais tarde, em 1962, quando gravou com Roberto Carlos, pela RGE, o tema Terror dos namorados. Não tardariam os êxitos: Parei na contramão, gravado em 1963 por Roberto Carlos e já com a assinatura da dupla Roberto e Erasmo (que apesar de partilharam o apelido “Carlos”, que Erasmo artisticamente adoptou, não tinham quaisquer ligações familiares); e em 1964, a solo, Festa de arromba.
Respondendo a um desafio da TV Record, de São Paulo, que queria lançar um programa televisivo para jovens, acabou por ser criado um movimento que adoptou o nome desse programa, Jovem Guarda, onde pontificavam Roberto, Erasmo e Wanderléia, abrangendo também nomes como Ronnie Von, Jerry Adriani, Vanusa ou Reginaldo Rossi. Erasmo e Roberto, ambos fãs de Elvis Presley, começaram a destacar-se pelas suas composições em dupla. Uma delas, Quero que vá tudo pro inferno, foi uma espécie de hino do movimento.
A solo
Terminada a Jovem Guarda, Erasmo começou a gravar a solo, lançando em 1965 o seu primeiro LP, A Pescaria, e nos anos seguintes editou praticamente um disco por ano: Você Me Acende (1966), Erasmo Carlos (1967), Erasmo (1968), Erasmo Carlos e os Tremendões (1970), Carlos, Erasmo (1971), Sonhos e Memórias (1972), Projeto Salva Terra (1974), Banda dos Contentes (1976), Pelas Esquinas de Ipanema (1978), etc. Enquanto isso, participava também em filmes, como Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa (1969) ou A 300 km por hora (1970), de Roberto Farias.
Em 1974, devido ao seu gosto pelo rock, Erasmo formou a Companhia Paulista de Rock e no início da década de 80 lançou o projecto Erasmo Convida, fazendo, para um disco lançado em 1980, duetos com Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléia, A Cor do Som, As Frenéticas, Gilberto Gil, Rita Lee, Tim Maia, Jorge Ben e Caetano Veloso.
Apesar de formalmente extinta, a Jovem Guarda continuou a ter um papel de relevo na sua carreira. Em 1995, participou nas comemorações dos trinta anos do movimento e em 1996 gravou um álbum chamado É Preciso Saber Viver, regravando canções do seu repertório, entre as quais Do fundo do meu coração, cantada em dueto com Adriana Calcanhotto. E em 2021 lançou um outro álbum intitulado O Futuro Pertence à... Jovem Guarda.
Não há muito tempo, Erasmo tinha sido dado erradamente como morto, na sequência de um internamento hospitalar. E ele até brincou com isso, quando teve alta do hospital, no passado dia 1 de Novembro. Segundo a Globo, na recente notícia (esta verdadeira) da sua morte, terá dito: “Depois de me matarem, ressuscitei no Dia de Finados”. Morreu no mesmo Rio que o viu nascer, com 81 anos.