Duas importantes actrizes detidas por apoio aos protestos no Irão

Katayoun Riahi foi uma das primeiras actrizes iranianas a partilhar uma foto sua sem hijab, dois dias depois da morte de Mahsa Amini. Hengameh Ghaziani fê-lo no domingo.

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A actriz iraniana Hengameh Ghaziani publicou no Instagram um vídeo onde aparece sem o hijab Instagram/@hengamehghaziani

A imagem escolhida para a publicação no Instagram foi a do rosto de Kian Pirfalak, um menino de dez anos morto a tiro pela polícia, na quarta-feira “Este pode ser o meu último post, a partir deste momento, se algo me acontecer, saibam que estarei sempre com o povo do Irão, até ao meu último suspiro”, escreveu domingo no Instagram Hengameh Ghaziani, conhecida e premiada actriz iraniana. Katayoun Riahi, outra importante actriz do país, foi uma das primeiras a surgir em público sem o obrigatório hijab (lenço islâmico), depois da morte de Mahsa Amini. Ambas foram presas, acusadas, segundo a agência de notícias oficial Irna, de conspiração e de agirem contra as autoridades da República Islâmica.

Kian Pirfalak, assassinado quando estava dentro do carro da família, com os seus país e irmãos, não foi a primeira criança morta na repressão aos protestos pacíficos que há mais de dois meses abalam o Irão. Há dezenas de menores mortos, incluindo muitos adolescentes e algumas crianças pequenas. Foram sobre isso os últimos posts de Ghaziani, sobre os líderes do seu país, um “governo assassino de crianças”. Na publicação de domingo, o texto é acompanhado de um vídeo onde aparece no meio da rua sem véu e a atar o cabelo.

Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida a 13 de Setembro pela “polícia da moralidade” por ter alguns cabelos à mostra apesar do hijab; entrou em coma horas depois e morreu no dia 16. A 18 de Setembro, Riahi publicava uma foto sua sem lenço, acompanhada da hashtag #MahsaAmini. No Instagram, onde é seguida por 1,1 milhões de pessoas, houve 997.043 a carregar “gosto”.

Estes protestos, a que os iranianos chamam revolução, são a maior ameaça ao regime desde a Revolução Islâmica de 1979. Não só pela dimensão e persistência, por juntarem etnias, classes sociais, gerações e o campo às cidades, não só por serem acompanhados de greves de professores, comerciantes ou trabalhadores das plataformas petrolíferas, mas também por terem atraído o apoio de um sem número de personalidades do país. E não apenas os suspeitos do costume – activistas de direitos humanos, jornalistas, cineastas –, mas também estrelas da televisão ou desportistas de todas as modalidades.

No domingo, véspera da estreia da equipa no Mundial do Qatar, o capitão da selecção iraniana de futebol, Ehsan Hajsafi, comentou a situação: “Temos de aceitar que as condições actuais do nosso país não estão bem e que o nosso povo não está feliz”. Ao mesmo tempo, o chefe da federação de boxe do Irão, Hossein Soori, fez saber que por causa da repressão dos protestos decidiu que não regressará a casa depois de um torneio em Espanha.

Há um mês, a escaladora Elnaz Rekabi desafiou o regime ao competir sem hijab nos Campeonatos da Ásia: depois de notícias de que tinha sido detida, regressou a Teerão afirmando que a falta de hijab não tinha sido “intencional”, perante centenas de iranianos que a esperavam no aeroporto aos gritos de “heroína”. Para a pressionar, as autoridades tinham detido o seu irmão e, segundo vários activistas dos direitos humanos, a desportista continua em prisão domiciliária. Apesar das suas declarações, Rekabi aterrou e foi levada a um encontro no Ministério do Desporto sempre de capuz e boné na cabeça, sem hijab.

As manifestações e os gestos quotidianos de desafio continuam a suceder-se no Irão, assim como a repressão – grupos de direitos humanos iranianos contabilizam já quase 400 manifestantes mortos e 16 800 detidos, com pelo menos sete já condenadas à morte. No final da semana passada, alguns manifestantes incendiaram a casa-museu do ayatollah Ruhollah Khomeini, o fundador da República Islâmica.

Nos liceus e nas universidades, a contestação é permanente e são muitos os estudantes presos. Num vídeo partilhado este domingo, vêem-se estudantes sentados de costas uns para os outros e de frente para a parede, cabeça baixa, duas filas ao longo de um corredor. Entre eles, no chão, há folhas com slogans e rostos de jovens mortos e presos: protestam contra a detenção de nove estudantes em Teerão. Como noutras manifestações anteriores, cantam “Um estudante morre, mas não aceita humilhação”.

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