Partidos religiosos querem maior separação de homens e mulheres em Israel

Partidos religiosos fazem exigência a Benjamin Netanyahu para legislação permitindo maior segregação do que a actual, muita feita à margem da lei.

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Homens ultra-ortodoxos: partidos religiosos querem mais separação de homens e mulheres no espaço público ABIR SULTAN/EPA

Os partidos ortodoxos que fazem parte do bloco de apoio a Benjamin Netanyahu, que saiu com uma maioria das eleições de 1 de Novembro, fizeram este domingo uma nova exigência para participarem na coligação que se espera que seja chefiada por Netanyahu: legalizar a separação entre homens e mulheres, em eventos ou actividades financiadas pelo Estado.

O Likud, partido de Benjamin Netanyahu, não respondeu ainda à exigência. O ainda primeiro-ministro, Yair Lapid, secular, que sairá do cargo mal Netanyahu chegue a acordo para um governo, comparou a proposta para o país com o que vive o seu maior inimigo, o Irão: “Enquanto no Irão as mulheres corajosas estão a lutar pelos seus direitos, em Israel [Bezalel] Smotrich e os nacionalistas ultra-ortodoxos estão a tentar deixar as mulheres atrás de barreiras e cimentar na lei a separação entre homens e mulheres. Onde está o Likud? Porque estão calados? Isto não é o Irão.”

Segundo o jornal que deu a notícia primeiro, o Israel Hayom, o partido Sionismo Religioso (considerado de extrema-direita e que foi o terceiro mais votado a 1 de Novembro) e o Judaísmo Unido da Torah querem a legalização da separação de homens e mulheres não só em eventos culturais ultra-ortodoxos mas também no ensino e nos serviços públicos.

Há já alguma separação em Israel, mesmo que não seja legal. Tirando o visível caso instituído do Muro Ocidental, onde há zonas para rezar exclusivas para homens e outra zona, onde as mulheres não podem, no entanto, fazer as orações do mesmo modo que os homens (um grupo, Women of the Wall, luta por condições iguais para a oração das mulheres no muro, com avanços e retrocessos, desde 1988), há regras não escritas que ditam que em autocarros que passem entre bairros ortodoxos ou entre um bairro ortodoxo e um grande terminal de transportes as mulheres não se sentem ao lado dos homens, ou em voos da companhia israelita El Al haver trocas de lugares (é ilegal segregar, mas acontece por acordo de todos).

E, claro, nas zonas ultra-ortodoxas aplicam-se regras de separação e de “modéstia”, e nos jornais destas comunidades não aparecem mulheres nas fotografias – casos famosos incluem o corte de imagens de personalidades de relevância internacional, como aconteceu com a então secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton.

Na educação é permitido, em alguns casos, ter aulas divididas por homens e mulheres. Numa decisão do ano passado, o Supremo admitiu a separação em universidades financiadas pelo Estado, embora apenas nas salas de aula (bibliotecas, cafetaria, etc permanecem mistos). A motivação destas medidas é aumentar a presença de estudantes (masculinos) universitários ultra-ortodoxos, para que possam entrar mais frequentemente no mercado de trabalho e não pesarem tanto no orçamento do país.

Segundo o diário liberal Haaretz, tem sido possível aos ultra-ortodoxos conseguirem cada vez mais excepções, desde excursões organizadas em cidades que proíbem claramente a divisão, como Telavive, ou permitindo autoridades locais que estendessem, por vezes, a segregação de eventos religiosos ortodoxos para outros, desde que justificassem.

Uri Keidar, que chefia a organização Israel Hofsheet (algo como “Israel sê livre"), que apoia o pluralismo religioso, disse ao Haaretz que se for aberta esta porta, muito se pode seguir: “Na realidade deles [dos ultra-ortodoxos], as mulheres não podem liderar departamentos do Governo, ser militares de combate, as raparigas não podem julgar futebol ou basquetebol contra os rapazes, e têm de andar separadas nos autocarros. Isto já está a acontecer hoje, e se conseguirem isto, só vai ficar pior”, declarou.

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