Paulo Raimundo diz que PS fez mal em abrir as portas à revisão constitucional
O novo secretário-geral do PCP apresentou as linhas de trabalho para dar mais força ao partido.
Uma semana depois da conferência nacional do PCP, o novo líder do partido, Paulo Raimundo, estreou-se num comício em Matosinhos. Naquele que foi o seu primeiro discurso após a reunião de 12 e 13 de Novembro, o comunista traçou “as linhas de trabalho que visam dar mais força ao partido para melhor servir” os trabalhadores e o povo. Falou mais para dentro do que para fora, evitou referir-se à Ucrânia ou à Rússia e disse que o PS “fez mal” em abrir as portas ao processo de revisão da Constituição.
“Tomar a iniciativa política em torno das questões que mais se colocam aos trabalhadores, ao nosso povo, às suas condições de vida e de trabalho e ao desenvolvimento do país; desenvolver a acção política e o reforço das organizações de massas, da luta, iniciativa e participação populares; alargar e ampliar o trabalho em unidade com democratas e patriotas de diferentes sectores; reforçar o partido; são estas as tarefas que temos pela frente e de imediato”, disse Paulo Raimundo na Escola Secundária Gonçalves Zarco, resumindo as suas quatro prioridades.
Depois de elogiar o êxito da conferência em termos de colectivo partidário, o sucessor de Jerónimo de Sousa considerou que a eleição do novo secretário-geral do PCP foi um processo “revelador de grande coesão e unidade”. E falou sobre a necessidade de “desbravar caminhos no sentido de afirmar e construir a alternativa patriótica e de esquerda tão necessária para a solução dos problemas nacionais”. Esta expressão – “alternativa patriótica e de esquerda” – está sempre presente nos discursos dos comunistas e o novo líder não a deixou cair.
Se as empresas de retalho, as gasolineiras e os bancos foram os principais alvos económicos de Paulo Raimundo, em especial por causa da subida de preços, o PS e a direita foram os alvos políticos no discurso de Matosinhos. “Perante esta situação, que é de crise na vida para muitos e oportunidade para poucos, o que faz o Governo do PS? Assume para si na Assembleia da República as dores de PSD, Chega e Iniciativa Liberal, que, de forma cada vez mais evidente, também são as suas, e leva à risca as vontades e interesses do grande capital e não do país, como se vê na sua proposta de Orçamento do Estado para 2023”, criticou.
O comunista lamentou que a proposta de OE aprofunde “o empobrecimento da maioria da população”, dê continuidade à “degradação do SNS e dos serviços públicos” e aumente “a desresponsabilização do Governo pela escola pública, sem dar “respostas de fundo aos problemas da habitação, aos direitos das crianças e dos pais, ao sector da cultura, às dificuldades de milhares de micro, pequenos e médios empresários, agricultores e pescadores”.
Mas não disse qual será a posição do partido em relação ao documento, e essa é outra postura que não mudou com o novo secretário-geral. Paulo Raimundo lembrou algumas das 400 propostas apresentadas pelo PCP, que considerou “urgentes e necessárias”.
“O foco mediático está centrado na agitação de sucessivos casos”, queixou-se. “Para nós, é claro: investigue-se o que há para investigar, apure-se o que há para apurar, responsabilize-se quem for de responsabilizar e ponto final. Há quem queira alimentar estes casos porque vê nisso, mais do que práticas condenáveis, uma forma de atingir o regime democrático e a própria Constituição. Não contem com o PCP para esse objectivo”, concluiu.
Sobre a Constituição da República, “esse documento de grande significado político”, disse que o problema “não está no seu conteúdo”, mas sim “na sua não aplicação integral na vida de todos os dias”. Concretamente sobre a revisão constitucional, explicou: “Fez mal o PS em abrir as portas neste processo, fez mal o PS em ser interveniente e dar espaço e oportunidade para que objectivos e propósitos reaccionários e antidemocráticos bem patentes nos projectos de PSD, Chega e IL tenham campo para medrar.”
Paulo Raimundo prometeu que o PCP intervirá com a sua iniciativa, “no sentido de defender os valores de Abril e aprofundar o projecto de futuro que a Constituição da República comporta, dando firme combate a concepções antidemocráticas que visam a imposição de retrocessos e liquidação de direitos no plano constitucional”.
Terminou o discurso em Matosinhos com um “ao trabalho camaradas, com confiança”.