Esta quinta oferece abraços de perus — e não é uma brincadeira

Quem visita os santuários Gentle Barn, nos EUA, pode abraçar e alimentar perus. Ellie Laks, a proprietária, garante que as aves são dóceis, mas quem tiver receio pode sempre abraçar vacas.

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No Santuário Gentle Barn, os visitantes podem abraçar os perus Courtesy of Gentle Barn

Os perus têm garras afiadas, bicos pontiagudos e pontas vermelhas flácidas no pescoço. Abraçá-los pode não ser a primeira palavra que te vem à cabeça quando vês um peru emplumado a andar numa quinta.

Mas Barbara Slaine estava sentada no chão numa quinta da Califórnia, no ano passado, quando uma peru fêmea chamada Sun lhe subiu para o colo.

Slaine, de 63 anos, estava a visitar o Santuário de Animais Gentle Barn de Nova Iorque, e nunca tinha encontrado um peru vivo antes. “Ela encostou-se ao meu peito e curvou-se, e eu fiquei impressionada com o quão suave ela era, sobretudo o topo da cabeça”, recorda. A mulher não queria que aquele momento acabasse.

“Foi um momento muito carinhoso – podia ter-me sentado com ela para sempre”, acrescenta.

Ellie Laks vê visitantes como Slaine abraçarem perus quase todos os dias no seu santuário de animais em Santa Clarita, perto de Los Angeles. “Este lugar era o meu sonho desde os meus sete anos”, afirma Laks, 54 anos, que fundou o Gentle Barn há 20 anos e agora tem cerca de 200 vacas, cavalos, burros, porcos, ovelhas, cabras, lamas e uma variedade de pássaros, incluindo galinhas e perus.

Laks resgatou o primeiro peru fêmea, uma sociável ave chamada Spring, em 2002. Aconteceu poucos anos depois de ter aberto as portas do santuário aos visitantes.

“Todas as manhãs fazia as minhas tarefas e a Spring seguia-me e falava comigo”, afirma, explicando que o “falar” acontecia quando o animal emitia pequenos ruídos. “Um dia, quando ela falava comigo durante mais tempo, eu pousei o meu ancinho e sentei-me no chão.” A Spring subiu-lhe para o colo e adormeceu.

“Fiquei ali sentada durante uns bons 25 minutos, e ela fechou os olhos e tivemos um bom abraço”, revela. “Eu estava a cantar-lhe pequenas canções e a dizer-lhe como ela era bonita, e foi um momento especial”, acrescenta.

A mulher pensou que outras pessoas também poderiam gostar de a abraçar, por isso afixou panfletos pela cidade nesse ano, convidando qualquer pessoa a visitar o Gentle Barn no Dia de Acção de Graças para a abraçar e comer uma fatia de tarte. “Não sabia se alguém iria aparecer, mas tínhamos uma fila de 100 pessoas”, recorda Laks, que dirige o santuário como uma entidade sem fins lucrativos e depende de doações.

Decidiu tornar o evento uma tradição anual e chamar-lhe Gentle Thanksgiving (Dia de Acção de Graças Gentil). “Queria que os convidados fossem embora e soubessem que os perus eram criaturas doces e amáveis”, revela.

Por uma doação de 48 euros na Califórnia e de 24 nos espaços do Gentle Barn no Missouri e Tennessee, os visitantes no Dia de Acção de Graças podem visitar a quinta, provar a tarte e sidra quente, abraçar os perus e alimentá-los com guloseimas como arandos e uvas, explica Laks. “Também vamos dar tarte aos perus”, revela. “No ano passado, eles gostaram muito de tarte de maçã. Cortámo-la em pequenos pedaços para eles comerem.”

Ellie Laks com Adeline, uma das peruas resgatadas Courtesy of Gentle Barn
Barbara Slaine abraçou Sun no Gentle Barn no ano passado Courtesy of Barbara Slaine
Quem visita a quinta no Dia de Acção de Graças é incentivado a alimentar os perus e abraçá-los Michelle Shiers
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Ellie Laks com Adeline, uma das peruas resgatadas Courtesy of Gentle Barn

Laks costuma manter até uma dúzia de perus em 2,5 hectares da Gentle Barn, na Califórnia, que gere com o marido, Jay Weiner. Os convidados são encorajados a acarinhar as aves em qualquer altura, mesmo que não seja Dia de Acção de Graças, explica.

“A maioria destas aves foram resgatadas, por vezes, de mercados vivos onde os clientes os compravam para os levar para casa e comer no Dia de Acção de Graças”, revela. “Outras vezes, trabalhamos com as autoridades para acabar com as situações de crueldade e trazer os perus para aqui”, completa.

A maioria dos perus são fêmeas, mas Laks também acolheu alguns ruidosos e elegantes machos. “O meu primeiro peru macho resgatado chamava-se Tommy, e veio de uma família que o tinha criado para o jantar de Acção de Graças e não conseguiu terminar a tarefa”, afirma.

“Disseram-me que ele era agressivo e estúpido, mas eu encontrei o oposto. Ele era um cavalheiro bonito e inteligente, e adorava posar para fotografias com as crianças que o visitavam.”

Laks nunca teve problemas com os perus a agirem de forma agressiva com os visitantes da quinta, mas, normalmente, os peritos em vida selvagem não aconselham as pessoas a segurar em aves, especialmente na natureza. “Há uma grande diferença entre um peru selvagem e um peru domesticado”, explica Mark Hatfield, um biólogo da vida selvagem e director dos serviços de conservação da Federação Nacional de Perus Selvagens em Edgefield, na Carolina do Sul.

Durante a época de reprodução, os perus selvagens podem ser territoriais e agressivos, sinaliza, observando que “são animais selvagens e devem ser tratados como tal”.

Kevin McGowan, um ornitólogo do Laboratório Cornell de Ornitologia em Ithaca, Nova Iorque, admite que aprecia perus e considera as penas destes animais “obras de arte”. Mas nunca pensou abraçar um.

“A minha cunhada tinha perus, e eu era seguido por um que parecia estar apaixonado por mim há alguns anos”, revela. “Imagino que se um destes animais nos deixar aproximar o suficiente, poderá ser mais confortável e dócil do que a maioria – e poderá deixar-nos segurá-lo”, acrescentou. “Mas a maioria tem medo das pessoas até certo ponto, especialmente se não nos conhecerem.”

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A perua Heather é outro dos animais do Gentle Barn Courtesy of Gentle Barn

Os perus do Gentle Barn estão habituados a ter pessoas por perto e parecem gostar de se juntar aos convidados de todas as idades, diz Laks. “Estão a viver as melhores vidas deles”, afirma. “Os perus machos adoram pavonear-se e exibir-se e as fêmeas adoram relaxar no nosso colo. Muitas pessoas não esperam essa doçura vinda de um peru. Vão comover-se quando nos visitarem.”

Segundo Barbara Slaine, foi isto que aconteceu com ela no ano passado. “Era conhecida por comer peru com pão de centeio e mostarda três vezes por semana”, afirma, para acrescentar que já não o faz.

Laks incentiva qualquer pessoa a visitar a quinta e aprender mais sobre os perus. No entanto, também percebe que aconchegar uma ave destas não é para todos, razão pela qual oferece uma alternativa aos convidados, algo que se tornou popular na pandemia: “Também oferecemos terapia de abraços a vacas”, conclui.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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