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Arménio Carlos sobre resultados eleitorais do PCP: “Não podemos ficar satisfeitos”

O antigo secretário-geral da CGTP considera que está na hora de unir e não de criar mais sindicatos.

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Arménio Carlos, ex-secretário-geral da CGTP e antigo membro do comité central do PCP Nuno Ferreira Santos

Em entrevista para o programa Hora da Verdade do PÚBLICO-Rádio Renascença, o antigo líder da CGTP defende que o PCP podia ter discutido na conferência anual as causas dos últimos resultados eleitorais. Arménio Carlos diz que esses resultados também tiveram causas internas.

Disse em entrevista ao Observador que ficou surpreendido com a escolha de Paulo Raimundo para secretário-geral comunista. Já recuperou da surpresa?
Acho que a surpresa foi geral. De qualquer forma, a conferência nacional não só apoiou como inclusive aprovou essa indicação. Desta conferência, aquilo que retiro como mais importante, em primeiro lugar, foi a mensagem clara e objectiva do novo secretário-geral e, por outro lado, a mobilização significativa do partido para os desafios que se avizinham nos próximos tempos.

É dos poucos militantes do PCP que publicamente fizeram críticas directas a este processo de escolha. Isso faz de si um desalinhado, um crítico?
Não critiquei. O que eu manifestei foi a surpresa, tal como muitas outras pessoas. Não sou desalinhado. Agora nunca deixei foi de manifestar a minha opinião no quadro da lealdade que, enquanto militante, devo ter em relação ao PCP.

Esta decisão do partido, a escolha do partido, foi uma coisa feita na bolha da cúpula do Partido Comunista, ou acha que foi algo que teve a discussão devida?
O PCP sempre teve uma forma de funcionamento diferente dos restantes partidos. Até aqui não se tem dado mal. Se me perguntar se este processo podia ter tido uma maior auscultação, com uma maior participação dos militantes, sim, podia ter, mas não aconteceu. Também não vejo nisso um grande problema, neste momento.

Pensa distanciar-se do PCP, de alguma forma?
Não tenho razão nenhuma para o fazer. Continuo a dizer que sou militante de base por opção. Portanto fui eu que decidi que não devia integrar o novo comité central e fi-lo com muita antecedência, quando disse também, enquanto era secretário-geral da CGTP, que, quando saísse da CGTP, voltaria ao meu local de trabalho e que não iria assumir nenhumas responsabilidades políticas acrescidas.

Isso não implica que eu, como militante de base, não tenha e não deva ter a obrigação de continuar a manifestar as minhas opiniões. Do ponto vista global, estou no essencial de acordo com as orientações que têm sido seguidas pelo partido, nomeadamente agora as orientações para uma intervenção mais activa e mais quantitativa e qualitativa nos próximos tempos.

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Vem aí um ciclo eleitoral bastante intenso. Há uma liderança da CGTP que acabará daqui a nada. Que papel acha que terá?
Creio que são duas situações distintas. Uma coisa é o PCP, outra coisa é a CGTP. E em relação ao PCP, há dois grandes desafios neste momento. Em primeiro lugar é responder aos problemas com que os portugueses se confrontam, com esta redução significativa dos rendimentos. Neste momento o Governo está a meter a mão no bolso dos portugueses e isto implica que haja uma resposta, uma resposta de todos, sem excepção.

Porque aqueles que estão a ser penalizados com esta redução de rendimentos não são apenas aqueles que votaram na CDU. São aqueles que votaram no PS e noutros partidos e, portanto, neste caso em concreto, isto justifica uma maior participação cívica. A segunda parte é, a partir daqui, criar condições para melhorar os resultados eleitorais do PCP e da CDU. Agora é por de mais evidente uma coisa que é lapidar. Portanto, é preciso melhorar aquilo que é o apoio social, para que depois este se transforme num aumento da representatividade eleitoral.

Arménio Carlos gostava de protagonizar uma candidatura para uma qualquer eleição ou voltar aos tempos da CGTP? Ou isso está completamente fora de causa?
Fora de causa.

Acha que é possível uma nova ligação do PCP à sociedade? É uma questão de sobrevivência da parte do próprio partido…
Acho que não é uma questão de sobrevivência. Acima de tudo, é uma questão de necessidade dos portugueses.

O partido está condenado a crescer, depois dos maus resultados que teve?
Creio que sim. Quando se apresentam propostas, quando se tem uma relação de grande proximidade e também de ligação aos trabalhadores e às populações, abordando os seus problemas, é natural que os mesmos que não deram o voto à CDU nos últimos tempos possam vir a alterar o seu sentido de voto. Na política há ciclos. Há momentos em que se sobe. Outros em que se desce.

Pensa que Paulo Raimundo beneficiará de um efeito estatístico?
Creio que esse não é o desafio do novo secretário-geral do PCP. Esse é um desafio de todo o PCP. Não podemos ficar satisfeitos com aquilo que se tem passado em termos de resultados eleitorais. Temos de fazer uma avaliação, porque há factores externos que contribuíram para que isso acontecesse e também questões internas que acabaram por conduzir a este resultado.

Temos de fazer um apelo muito forte aos portugueses, independentemente das suas opções partidárias, para que, num quadro em que a sua vida se está a deteriorar a um ritmo crescente, que também é altura de afastarem as divergências que eventualmente possam ter e juntar forças e criar condições para a unidade na acção e para se poder exigir outras políticas.

O que será um bom resultado na greve de 18 de Novembro da Frente Comum?
É os trabalhadores da administração pública aderirem de uma forma significativa a esta luta.

Espera então que haja uma grande adesão? Não há outra hipótese na sua cabeça?
Acho que deve haver uma grande adesão. Por uma razão muito simples: é que o acordo que o Governo assinou com outras forças sindicais é um acordo que, a priori, promete logo aos trabalhadores da administração pública uma redução do seu poder de compra.

A conferência nacional não discutiu os porquês dos resultados eleitorais dos últimos anos. Devia tê-lo feito?
Na minha opinião podia tê-lo feito.

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E não o fez. E aí o partido não tem uma base de discussão para ter outro tipo de estratégia para enfrentar eleições….
Creio que o facto de não o ter feito de uma forma aprofundada teve como pressuposto a ideia de que essa reflexão, de alguma forma, foi sendo construída ao longo dos últimos meses.

A CGTP tem respondido aos desafios e à capacidade de organização que agora é pedida pelo PCP?
A força da CGTP está nos locais de trabalho. Não é por acaso que nos últimos tempos tem aumentado o número de pré-avisos de greve.

Como podemos acreditar que o PCP ou até a CGTP podem fazer alguma conquista na legislação laboral, quando, durante o tempo em que o PCP era parceiro na “geringonça”, não conseguiu vencer batalhas que considera importantes nesta área?
Várias vezes dissemos que não havia resposta para os problemas estruturais do país, enquanto não se valorizasse o trabalho. Uma forma de valorizar o trabalho é mexer na legislação do trabalho, o que implica mexer na contratação colectiva. Mas como é que se negoceia, quando se impede os sindicatos de entrar nas estruturas locais de trabalho? O Governo quer ou não quer resolver em primeiro lugar o problema da liberdade sindical?

O sindicalismo não está a perder para os movimentos inorgânicos e para outras estruturas?
Já tivemos algumas experiências de movimentos inorgânicos que se saldaram naquilo que nós tivemos oportunidade de verificar. Não precisamos de mais divisão, não precisamos de mais sindicatos.

Os aumentos extraordinários das pensões dos últimos anos comprometeram a sustentabilidade na Segurança Social?
Não. A sustentabilidade financeira da Segurança Social acabou por ser reforçada nos últimos tempos. Aliás, são números do próprio Governo.

Porque acha que o primeiro-ministro a invoca?
Ou porque estava enganado, ou porque quis enganar.

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