Mais um dia de bombardeamentos em larga escala na Ucrânia

Volodymyr Zelensky admite não saber “a 100%” o que causou a queda de um míssil na Polónia e acusa a Rússia de não querer negociar a paz. Sistema energético da Ucrânia sofre com bombardeamentos.

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Um edifício de apartamentos em Dniepropetrovsk ficou danificado num bombardeamento russo STRINGER/Reuters

Pela segunda vez esta semana, o território ucraniano foi atacado em larga escala por mísseis e drones lançados pela Rússia, provocando feridos e danos às infra-estruturas energéticas da Ucrânia. Foram atingidos alvos nas regiões de Odessa e Mikolaiv, perto de Izium e em Dnipro, enquanto em Kiev os sistemas de defesa antiaérea terão conseguido abater os mísseis que se aproximavam.

Dois dias depois de um ataque de envergadura semelhante que terminou com um míssil a cair em território polaco e a matar duas pessoas, Zelensky admitiu pela primeira vez a possibilidade de isso ter acontecido em resultado de uma acção ucraniana. “Não sei a 100%, penso que o mundo também não sabe a 100% o que se passou. Não podemos dizer especificamente que se deveu à defesa aérea da Ucrânia”, disse o Presidente daquele país, que discursava numa conferência económica.

Na véspera, Zelensky tinha contrariado abertamente a tese de “acidente” envolvendo o sistema de defesa ucraniano que é defendida pela NATO, Estados Unidos e o Governo polaco. “Não tenho dúvidas de que não foi um míssil nosso”, afirmou o chefe de Estado ucraniano. “Não são essas as provas que temos”, respondeu o Presidente dos Estados Unidos esta quinta.

Um grupo de investigadores polacos e americanos estão na aldeia de Przewodów, onde caiu o míssil, e os ucranianos também se vão juntar às diligências.

Zelensky considerou que a nova vaga de mísseis desta quinta-feira mostra que a Rússia não está verdadeiramente interessada em iniciar negociações de paz, como alguns dos seus responsáveis políticos têm dito publicamente. Em Moscovo, a acusação foi devolvida. “O lado ucraniano não quer quaisquer negociações”, disse o porta-voz do Kremlin, acrescentando que “a operação militar especial prossegue e os seus objectivos devem ser alcançados”.

Dmitri Peskov também acusou os Estados Unidos e a NATO de serem “a principal causa” da invasão da Ucrânia. “Washington diz que se não houvesse bombardeamentos russos não teria caído um [míssil] S-300 das Forças Armadas da Ucrânia na Polónia. Mas, seguindo esta lógica, se não tivesse havido uma total falta de vontade dos Estados Unidos e da NATO em atender às preocupações da Rússia, não teria havido operação militar especial na Ucrânia”, afirmou.

Apesar desta conjuntura e de não se vislumbrarem sinais de mais negociações entre as partes, o acordo para a exportação de cereais e fertilizantes da Ucrânia, que expirava no sábado, foi renovado por um período de quatro meses. “A iniciativa demonstra a importância da diplomacia discreta e de encontrar soluções multilaterais”, congratulou-se o secretário-geral da ONU, António Guterres, comprometendo-se “a retirar os obstáculos pendentes à exportação de alimentos e fertilizantes da Rússia”, como Moscovo vem exigindo.

Já o Presidente turco, que mediou estas conversações, agradeceu a Guterres, a Putin e a Zelenskyy pela “sua vontade em prolongar o acordo”. Recep Tayyip Erdogan também manifestou vontade de que Estados Unidos e Rússia “falem mais frequentemente”, como aconteceu recentemente em Ancara entre os líderes dos serviços de espionagem de ambos os países. “Deus nos livre de que usem armas nucleares, porque isso levaria a uma nova guerra mundial”, disse Erdogan.

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