Iñarritú zero e meio
Bardo, Falsa Crónica de umas Quantas Verdades: a lata para responder a acusações de oportunismo servindo mais oportunismo.
Do alto do pedestal em que o sucesso acumulado nos últimos anos o colocou (dois Óscares de melhor realizador, never forget!), Alejandro González Iñarritú sofre. Sofre com um sentimento de impostura e uma sensação de sucesso imerecido (não diga…), sofre com o abandono do seu México natal, trocado pela terra dos “gringos” mais a norte, receia que os seus compatriotas o vejam como um vendido aos seus vizinhos e rivais norte-americanos, ou ainda que lhe levem a mal ter assegurado uma boa saúde financeira à custa de filmar a miséria alheia (como em Amor Cão ou em Babel). Sofre ainda com todo um sortido de angústias adjacentes e de foro mais pessoal, e vai daí resolveu expô-las todas num filme totalmente auto-centrado, que é este Bardo, Falsa Crónica de umas Quantas Verdades — embora pela interposta personagem de um jornalista mexicano tornado realizador de “documentários” (nunca lhes chamam “filmes”, dizem sempre “documentários”, vá-se lá saber porquê), que serve de duplo de Iñarritu e é interpretado pelo hispano-mexicano Daniel Giménez Cacho (habitualmente um excelente actor, aqui reduzido a um manequim ambulante a passear uma cabeleira e uma barba de três dias para que nele se veja a silhueta de Iñarritú, sempre com a expressão de quem precisa urgentemente de um Kompensan, porque não pode escapar a ninguém que este homem sofre).
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