Até eles! Ratos também se mexem ao ritmo da música

Investigação sugere que ratos abanam a cabeça de forma sincronizada com o tempo de música. Na pista de dança do estudo tocou uma sonata de Mozart, mas os roedores também ouviram sons mais recentes.

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Rato a abanar a cabeça ao ritmo de uma sonata de Mozart 2022 Ito et al.

Pensa que abanar a cabeça ao som de música está só ao alcance dos humanos? Nada disso! Os ratos também conseguem movimentar-se de forma inata e sincronizada com o tempo rítmico de músicas – não de forma tão acentuada, claro, mas também o fazem e são “dançarinos” à sua maneira​. Esta é a primeira vez, de acordo com a equipa que desenvolveu o trabalho, que se tem acesso a esta informação. Os dados sobre a pista de dança vêm espelhados na edição desta semana da revista científica Science Advances e há vídeos que a comprovam esse espectáculo.

Não era segredo nenhum que os ratos têm capacidades que reconhecemos nos humanos. Eles conseguem reagir a certos sons ou podem ser treinados a responder a certas músicas. Mas eram treinados. Até agora, não se tinha percebido que também poderiam fazer esse reconhecimento musical de forma natural, algo que envolve processos motores e neuronais complexos, assinala-se num comunicado da Universidade de Tóquio, onde se desenvolveu o estudo sobre ratos dançarinos.

Nessa nota à imprensa, uma equipa liderada por Hirokazu Takahashi esclarece que se tornou pertinente estudar se os ratos se movimentavam ao som da música depois de terem visto alguns estudos e vídeos caseiros que indicavam que isso poderia acontecer com certos animais.

A procura por esse ritmo nos ratos foi feita numa experiência com 20 humanos e dez roedores. Ambos foram seguidos através de acelerómetros que seguiram o movimento das suas cabeças. A banda sonora escolhida para o estudo foi a Sonata para dois pianos em ré maior, de Wolfgang Amadeus Mozart. Os participantes do estudo tiveram de ouvir essa obra com quatro tempos diferentes: a 70%, a 100%, a 200% e a 400% da velocidade original.

Sigamos então o ritmo na pista de dança. Os cientistas verificaram que os ratos ficavam, claramente, mais sincronizados com o ritmo da música numa zona entre o ligeiramente acima do tempo original até ao ligeiramente abaixo disso. Também se notou que os roedores e os humanos abanavam a cabeça a ritmos semelhantes. Mas, se o tempo da sonata aumentasse muito, a forma como a cabeça se mexia ia diminuindo.

Não bastava mostrar ter um bom desempenho na pista de dança. A equipa queria perceber porque conseguiam os ratos movimentar-se ao som da música de forma inata e a ritmos semelhantes (e não iguais) aos humanos. Após deliberarem diferentes hipóteses, os cientistas sugerem que o tempo ideal da sincronização do ritmo depende do tempo constante do próprio cérebro, que é definido pela velocidade que a estrutura cerebral responde a algo e que parece ter sido uma capacidade conservada em diferentes espécies. Portanto, estará aqui implícita a interacção entre os sistemas motores e auditivos.

Festa pop no laboratório

Ficámos a saber que os ratos também são dançarinos (ou lá perto, vá), mas Hirokazu Takahashi diz que, mesmo assim, não alcançam o nível dos humanos ou dos papagaios – ou seja, os seus movimentos sincronizados com a música não foram observados a uma larga escala. Não se mexem ao som das músicas “de forma tão acentuada em comparação com os humanos e os papagaios”, assinala o cientista.

Mas este estudo com roedores pode vir a dar boas pistas sobre a actividade eléctrica do cérebro ou da dança. “O cérebro dos animais pode ser útil para entender melhor os mecanismos de percepção da música”, indica o cientista. “Estou interessado nos mecanismos neuronais de como os estímulos musicais se tornam apelativos para o cérebro e têm efeitos cognitivos e emocionais.”

Há agora muitas questões por esclarecer. Uma delas, a nível dos ratos, é que tipo de músicas – ou se isso tem influência – em que os roedores se movimentam de forma sincronizada, visto que o estudo científico só foi feito com uma sonata de Mozart. Depois há outras perguntas que, por intermédio dos ratos, se podem vir a desvendar melhor: como, por que razão e quais os mecanismos que levam à criação, tanto da música como de ciência ou tecnologia.

As investigações prosseguem e desengane-se que no laboratório só se ouviram sonatas de Mozart. Os investigadores fizeram uma “festa pop”​ com os participantes do estudo, humanos e ratos. Born this way, de Lady Gaga, Another one bites the dust, dos Queen, Beat it, de Michael Jackson, e Sugar, de Maroon 5, foram as músicas que marcaram o ritmo dessa festa. Falta saber se todos se mexeram nos tempos dessas sonoridades...

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