África pode evitar 880 mil mortes anuais reduzindo emissões e poluição do ar

Relatório apresentado na Cimeira do Clima, no Egipto, oferece aos líderes africanos 37 orientações sobre como agir rapidamente para proteger a saúde das populações e do planeta.

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Incêndios em aterros sanitários, como este no Zimbabwe, podem ser reduzidos com uma melhor gestão de resíduos AARON UFUMELI/EPA

Estima-se que 880 mil mortes por ano podem ser evitadas até 2063 se os líderes africanos colocarem em prática, o quanto antes, medidas de combate à crise climática e à poluição do ar. Um relatório elaborado por organizações internacionais, divulgado esta quinta-feira na Cimeira do Clima (COP27), no Egipto, mostra quais são os caminhos a seguir em diferentes áreas para que o continente africano consiga proteger a saúde das populações.

O documento tem como objectivo oferecer aos governos do continente africano um guia, baseado em informação científica recente, que indica em 37 medidas como agir rapidamente em cinco sectores: agricultura, transporte, habitação, energia e resíduos.

Intitulado “Uma Avaliação Integrada da Poluição do Ar e Mudanças Climáticas para o Desenvolvimento Sustentável na África”, o relatório resulta de um trabalho conjunto da Coligação Clima e Ar Limpo, do Programa das Nações Unidas para o Ambiente e da Comissão da União Africana.

“Esta avaliação mostra que a África tem uma grande oportunidade de continuar se desenvolvendo de forma sustentável, melhorar o bem-estar humano e proteger a natureza, investindo em soluções para combater juntos as mudanças climáticas e a poluição atmosférica. Estamos ansiosos para trabalhar com países e financiadores para desenvolver o Programa Ar Limpo”, disse Josefa Sacko, comissária da agricultura e do ambiente da União Africana, citada num comunicado de imprensa.

Trata-se da primeira avaliação que considera as alterações climáticas e a poluição atmosféricas conjuntamente. O documento foi elaborado por uma equipa de cientistas africanos coordenada pelo Instituto do Ambiente de Estocolmo (SEI), contando ainda com contributos de especialistas internacionais.

“A poluição do ar e as mudanças climáticas estão inextricavelmente ligadas. Os poluentes atmosféricos são perigosos para o ambiente e mortais para a saúde humana. Muitas vezes, a poluição do ar compartilha os mesmos factores que estão na origem dos gases de efeito estufa”, refere o documento. Assim, as medidas necessárias para a acção climática também são, muitas vezes, eficazes no combate à poluição atmosférica.

Entre as orientações, todas com “comprovação científica”, estão as seguintes:

  1. Apoiar a transição para veículos mais limpos e transportes públicos seguros e acessíveis, bem como incentivar deslocações a pé e de bicicleta;
  2. Promover a transição para uma cozinha sustentável (ou seja, sem fogões a lenha), com electrodomésticos eficientes para a conservação de alimentos e regulação da temperatura interior (sistemas de ar condicionado);
  3. Apostar em energias de fontes renováveis e aumentar a eficiência energética;
  4. Diminuir as emissões de metano da agricultura com melhores práticas de pecuária e estrume;
  5. Reduzir perdas de colheitas agrícolas, eliminar o desperdício de alimentos e promover dietas saudáveis;
  6. Desenvolver melhores sistemas de gestão de resíduos, reduzindo o lixo orgânico e a queima de ao ar livre.

Se seguirem à risca as recomendações, os governos africanos podem conseguir evitar 200 mil mortes prematuras por ano até 2030, reduzir em 55% as emissões de dióxido de carbono e em 74% as de metano até 2063 e melhorar a segurança alimentar reduzindo a desertificação e aumentando a produção de arroz, milho, soja e trigo. Todos estes esforços de mitigação e adaptação também contribuem para manter a subida dos termómetros globais abaixo dos 1,5 graus Celsius.

“Em África, mais de um milhão de pessoas morrem prematuramente todos os anos devido à exposição à poluição do ar dentro e fora de casa”, diz Rachel Ruto, a primeira-dama da República do Quénia, citada num comunicado de imprensa.

“A poluição do ar prejudica desproporcionalmente mulheres, crianças, idosos e pobres. No Quénia, o uso de fogões tradicionais e ineficientes que emitem grandes quantidades de poluentes provoca cerca de 23 mil mortes anualmente. Nenhuma vida deveria ser perdida devido a uma tarefa diária como cozinhar”, acrescenta Rachel Ruto.

A poluição do ar é uma das maiores ameaças ambientais à saúde humana. Este agente é responsável pela morte prematura de cerca de nove milhões de pessoas por ano. O fumo que escurece os céus contém partículas finas que resultam não só da produção da energia, mas também de sectores como a indústria e os transportes.

Estes materiais suspensos no ar – como as chamadas PM2,5, que têm 2,5 micrómetros de diâmetro – são minúsculos, dezenas de vezes mais finos do que um pêlo de gato. Também contêm substâncias tóxicas que fragilizam os sistemas circulatório, respiratório, nervoso e imunitário.