Greve dos farmacêuticos hospitalares termina sem contactos do Governo

Farmácias de ambulatório encerradas e atrasos nos tratamentos foram os principais sinais da greve.

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Os farmacêuticos do SNS contam entre as suas tarefas com a preparação de medicação dispensada em meio hospitalar Miguel Manso

Chega, esta quarta-feira, ao fim, o segundo período de greve dos farmacêuticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), sem que tenha havido qualquer contacto para negociações por parte do Governo. Henrique Reguengo, presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, que convocou a paralisação, diz que mantém a esperança de que negociações possam avançar em breve. “É impensável que assim não seja”, diz. Os serviços mínimos garantiram atendimentos urgentes.

Foi a primeira vez que os farmacêuticos do SNS fizeram greve, em 30 anos, e a adesão manteve-se, consistentemente, “acima dos 90%”, garante o presidente do sindicato. Os profissionais estão cansados de esperar pela resolução de problemas que se arrastam há décadas, e que passa pela necessidade de contratar mais profissionais (um estudo independente fala numa carência de 25%, diz o responsável sindical), a revisão salarial, da carreira e a valorização da profissão. “Desde 1999 que temos uma tabela que não é revista e temos 80% dos nossos profissionais na base da carreira e carência de profissionais. Isto resulta num trabalho em excesso, sob stress, que é indutor de erros. As pessoas estão desmotivadas, não vêem qualquer evolução desde 1999”, reclama.

Apesar de não ter tido, até à data, qualquer contacto por parte da equipa do ministro Manuel Pizarro, Henrique Reguengo diz manter a esperança que as negociações com os farmacêuticos possam começar, agora que a greve chega ao fim. “Os governos não gostam de passar a ideia de que estão a negociar sob pressão, tenho a esperança que seja esse o motivo pelo qual não fomos ainda contactados. O ministério está a negociar com outras carreiras profissionais, só não o faz connosco”, diz.

O dirigente sindical lamenta, contudo, que qualquer diálogo com o ministério não tenha acontecido a tempo da discussão em curso sobre o Orçamento do Estado. “Preocupa-me que, na altura em que o Orçamento do Estado está a ser negociado, não estarem a ser previstas medidas que afectam os farmacêuticos. Não há qualquer referência no documento à nossa carreira”, garante.

IPO do Porto sem adiamentos

A paralisação dos farmacêuticos do SNS levou ao encerramento das farmácias de ambulatório dos hospitais (embora fosse garantida a dispensa de medicação urgente). Os serviços mínimos em curso também não garantiam que os tratamentos oncológicos que deveriam começar nos dias de greve fossem mantidos (embora os tratamentos já em curso não fossem afectados).

Este facto levou o ministro da Saúde a criticar os farmacêuticos, pedindo “desculpa” aos portugueses apanhados nesta situação. As declarações de Manuel Pizarro foram alvo de críticas por parte do sindicato e da Ordem dos Farmacêuticos, com os primeiros a dizer em comunicado: “Muito estranhamos que não haja da parte do senhor ministro da Saúde a mesma preocupação com os adiamentos e continuação destes mesmos tratamentos, quando estes são adiados ou interrompidos por falta de recursos humanos, de equipamentos, meios complementares de diagnóstico ou de condições logísticas adequadas para administração dos tratamentos.”

A troca de argumentos decorreu na primeira fase da greve, em Outubro, altura em que o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa veio a público reconhecer que teve de reagendar para os dias posteriores à greve alguns tratamentos oncológicos de primeiro ciclo (que se iam iniciar), ressalvando, contudo, em comunicado, que “todos os dias há tratamentos oncológicos que são remarcados por razões clínicas”.

Esta quarta-feira, o PÚBLICO questionou o IPO de Lisboa e o do Porto sobre os eventuais efeitos desta greve. Do primeiro ainda se aguarda resposta, mas o IPO do Porto esclareceu, já durante a tarde, que, apesar de a adesão ser “significativa (95%), [...] não comprometeu a realização dos tratamentos previstos para os doentes”. “Até agora não há registo de tratamentos programados adiados no Hospital de Dia. Todos os tratamentos previstos foram realizados, apesar do registo de atrasos efectivos”, garante o conselho de administração, em resposta escrita.

O maior impacto foi na farmácia de ambulatório que esteve encerrada ao público, contudo, tal como já acontecera em Outubro, não houve qualquer interrupção de entrega de medicação urgente, o que foi garantido pelos serviços mínimos em curso.

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