Sobrevivência dos doentes com cancro do pâncreas duplicou na última década

Maior eficácia da quimioterapia e melhor identificação dos doentes são as responsáveis pelo aumento da sobrevivência dos doentes nos cinco anos após diagnóstico.

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Cancro do pâncreas é o oitavo mais frequente em todo o mundo Paulo Pimenta

A sobrevivência dos doentes com cancro do pâncreas ao fim de cinco anos mais do que duplicou na última década, graças a esquemas de quimioterapia mais eficazes e à melhor identificação dos doentes, diz o médico Ricardo Rio-Tinto.

Na véspera do Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, Ricardo Rio-Tinto, presidente do Clube Português do Pâncreas, falou sobre os avanços que têm sido feitos nesta área, dos receios associados à doença e do aumento da incidência deste tumor maligno em doentes mais jovens, entre os 40 e os 50 anos, sem os factores de risco clássicos (consumo de álcool e tabagismo).

Apesar de o prognóstico global continuar a ser mau, tem-se assistido a um aumento lento, mas consistente, da sobrevivência global ao fim de cinco anos –​ subindo de cerca de 5% para mais 11%.

“Em dez, 12 anos, a sobrevivência aos cinco anos mais do que duplicou e estamos a falar de todos os doentes com diagnóstico de tumor no pâncreas”, disse o presidente do Clube Português do Cancro, secção da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Se nos próximos dez anos se conseguir alcançar um crescimento na mesma ordem, isso significa que “cerca de 25% dos doentes têm a ambição de poderem ser curados”, vinca. O Dia Mundial do Cancro do Pâncreas é assinalado esta quinta-feira, 17 de Novembro.

“Estes números têm crescido de forma sustentada porque conhecemos melhor os tumores, conhecemos melhor os doentes, diagnosticamos mais cedo, tratamos melhor [os doentes], porque sabemos quais são aqueles que devem ser operados e por aí adiante”, afirma Ricardo Rio-Tinto.

O também investigador da Fundação Champalimaud conta que estão a surgir com cada vez maior frequência doentes com um quisto no pâncreas que é detectado numa ressonância magnética ou numa TAC que fizeram por outra razão. “É um grupo muito importante, talvez represente 20% dos tumores do pâncreas no total”, nota.

Há um outro grupo de doentes em que existe predisposição associada à hereditariedade e que explica cerca de 10% de todos os casos de cancro do pâncreas. Em alguns casos, diz, até é possível identificar um gene ou um conjunto de genes que podem ser responsáveis por vários casos numa família. Segundo o investigador, a identificação precisa destes doentes tem sido “a chave” para o crescimento acentuado da sobrevivência após cirurgia.

Muitos jovens e sem hábitos de risco

“Mas resta-nos um grande grupo de doentes com diagnóstico de cancro de pâncreas e sem factores de risco conhecidos: não fumam, não bebem de forma exagerada, são novos, não têm familiares com cancro do pâncreas, e não têm quistos pancreáticos de risco”, observa.

Apesar de ainda não haver solução para este enigma, Ricardo Rio-Tinto diz que a resposta poderá estar na exposição a alguns factores ambientais “tóxicos”, que são hoje muito mais abundantes e presentes: microplásticos, pesticidas ou fertilizantes, por exemplo.

O médico explica que a única possibilidade de cura para o cancro do pâncreas está na cirurgia, e no caso dos tumores mais pequenos localizados, que não envolvem estruturas “vitais” e em que é possível fazer imediatamente a ressecção cirúrgica.

Contudo, salienta, há “um grande avanço” nos tipos de quimioterapia, o que permite, “mesmo em tumores que parecem operáveis imediatamente”, fazer uma quimioterapia neoadjuvante que aumenta a probabilidade de cura.

Em Portugal, entre 2000 e 2020, o diagnóstico de cancro do pâncreas cresceu cerca de 30%, passando de cerca de 1300 novos casos por ano para 2000, com “uma discreta preponderância” em homens.

Apesar de ser o oitavo tumor maligno mais frequente, em alguns países já é a segunda causa de morte por cancro e o seu diagnóstico causa “um receio brutal nos doentes”, como classifica Ricardo Rio-Tinto.

“Tipicamente as pessoas sentem que é uma coisa fatal e é muito sombrio este diagnóstico” ao contrário do que acontece com muitos outros tumores que também eram fatais, como os do pulmão, da mama, do cólon, e hoje têm “uma probabilidade de cura muitíssimo grande”, expõe.

No caso do tumor do pâncreas, diz, “ainda estamos um bocadinho mais atrás”, mas “há boas notícias”. No futuro, indicou, será possível “fazer biópsias líquidas para diagnóstico, não só do pâncreas, mas para muitos outros tumores”. “Eu acho que este é o caminho”, salientou o especialista.

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