Sustentabilidade e regeneração na estratégia empresarial: desafios e oportunidades
Precisamos de tratar com igual urgência dos outros desafios globais que enfrentamos – a crise na natureza e a desigualdade social.
Luís Rochartre, Senior Advisor - Planetiers New Generation; Industry Fellow – Católica Porto Business School
Na semana em que se iniciaram os trabalhos da COP 27 onde, sob os auspícios da ONU, os países discutem as alterações climáticas, o tema ganhou mais tração nos media. Sem dúvida que é muito importante que este desafio global, a que urge dar resposta, ganhe espaço na agenda pública e política.
Contudo, precisamos de tratar com igual urgência dos outros desafios globais que enfrentamos – a crise na natureza e a desigualdade social. Assim, sem perder o caráter interrelacionado dos múltiplos desafios que enfrentamos, há que olhar a cada um deles de forma específica e determinada.
A estes desafios globais temos de acrescentar os desafios de contexto, que podendo ou não ter caráter global, afetam decididamente o mundo em que vivemos e a agenda das grandes questões da sustentabilidade. Atualmente enfrentamos a alteração rápida das condições de operação da economia motivados pela guerra que eclodiu na Europa, que potenciou o aumento generalizado dos preços e a crise energética, a acrescer o retrocesso da globalização, processo iniciado e potenciado pela crise pandémica.
Os adeptos do status quo vieram logo a terreiro defender que se devem parar os esforços para diminuir os impactos do modelo económico vigente. Defendem que, por exemplo, combater as alterações climáticas, transformar o sistema alimentar e agrícola, avaliar os financiamentos sob critérios de sustentabilidade ou combater a pobreza devem ser de imediato interrompidos, parando com os “custos elevados” da transformação do modelo de desenvolvimento económico rumo à sustentabilidade ou, mais do que isso, o desenhar de um modelo económico assente numa lógica regenerativa.
Antes pelo contrário, é este o momento de aumentar a intensidade no desenvolvimento de soluções sustentáveis, como se pode demonstrar sem problemas, por exemplo, com a necessidade de alterar o modelo e mix energético, diminuindo a dependência dos combustíveis fósseis, maioritariamente disponibilizados por países e regiões voláteis em termos geopolíticos.
É o momento para pensar sustentabilidade de forma sistémica, para construir um sistema mais resiliente, para eliminar práticas com elevado impacto negativo a nível social e ambiental. E tal começa por incorporar a sustentabilidade e regeneração na estratégia empresarial (e também pública).
Uma estratégia que concebe o negócio no contexto de um sistema maior que é a sociedade, e que por sua vez se integra noutro muito maior que é o ambiente, em que a empresa navega dentro dos limites sociais e ambientais, e em que a sustentabilidade tem de ser vista como “não causar qualquer dano”, regenerando a sociedade e o planeta, e não apenas como “causar menos dano”.
O desafio do nosso tempo e das empresas é compreender como tirar partido do contexto desafiante e incerto atual para construir uma nova economia global mais inclusiva e estável. Que vejam a aposta em investimentos sustentáveis e regenerativos e, por isso mesmo com impacto positivo, como a fonte da vantagem competitiva que gerará retornos económicos e financeiros sustentáveis a longo prazo.
É neste contexto que o Innovation in Sustainability and Regeneration Hub (INSURE.Hub), uma parceria estratégica entre a Universidade Católica Portuguesa, através das suas escolas Católica Porto Business School e Escola Superior de Biotecnologia, e a Planetiers New Generation, organiza a sua segunda conferência internacional em inovação, sustentabilidade e regeneração. O principal objetivo do evento, que decorrerá no dia 17 de novembro na Universidade Católica Portuguesa no Porto, é promover o conhecimento transdisciplinar e holístico, aproximando a ciência e os negócios, dando palco a projetos de investigação e a casos inovadores dos nossos parceiros que contribuam para estabelecer um caminho de sustentabilidade e regeneração.
Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990