Dez elementos do PAN-Algarve apresentam demissão em bloco

Demissionários alegam haver “pessoas a servir-se do PAN para os seus objectivos pessoais”.

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Demissionários do PAN-Algarve afirmam que a direcção nacional não se posicionou LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Dez dos 20 elementos da comissão política distrital do Algarve do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) demitiram-se em bloco alegando “não estarem garantidas as condições mínimas” para continuarem naquele órgão eleito em Outubro passado, foi esta segunda-feira anunciado.

“O trabalho interno tornou-se hostil e insustentável, não estando reunidas condições para continuarmos. Sentimos que neste momento há pessoas a servir-se do PAN para os seus objectivos pessoais”, disse à Lusa Alexandre Pereira, um dos demissionários.

De acordo com aquele militante algarvio do PAN, “ao longo do processo eleitoral foram constatadas incongruências, ilegalidades e irregularidades da Lista B, daí não fazer sentido trabalhar com pessoas que supostamente não foram eleitas com base na legalidade”.

Os elementos agora demissionários foram eleitos pela Lista A, encabeçada por Ana Poeta, deputada municipal em Loulé, que venceu por dois votos de diferença (23-21) a Lista B liderada por Saúl Rosa, líder da concelhia do PAN de Vila Real de Santo António, no escrutínio realizado em 15 de Outubro.

A comissão política distrital do Algarve do partido é composta por 20 elementos: com oito efectivos da Lista A e sete da Lista B, e cinco suplentes, dois da lista A e três da Lista B.

Alexandre Pereira alega que o processo eleitoral decorreu de “forma pouco clara e transparente, com irregularidades que entretanto foram comunicadas à direcção nacional sem que esta tenha tomado alguma posição”. “Reportamos tudo aos órgãos nacionais do partido, mas como nada foi feito, os eleitos da Lista A decidiram apresentar a demissão”, notou.

O responsável adiantou que, “embora a direcção do PAN tenha comunicado a instauração de uma comissão de inquérito para apurar os factos e assacar responsabilidades, nada aconteceu até agora”.

Os demissionários alegam que na renúncia ao mandato estão, entre outras, a “utilização abusiva por parte de elementos da outra lista de informação privada dos filiados, uso indevido de canais oficiais de comunicação do partido e usurpação de funções de comissários”.

Entre os elementos demissionários da comissão política distrital do Algarve do PAN estão os cinco autarcas eleitos nas autárquicas de 2021 para as assembleias municipais e de freguesia dos municípios de Faro, Loulé, Portimão e Olhão.

Em comunicado, os elementos demissionários garantem que vão prosseguir “com brio e responsabilidade” o trabalho autárquico para o qual foram eleitos, “unidos na convicção de que o PAN é muito mais do que isto”.

Em Fevereiro deste ano, após as eleições legislativas, o PAN viu uma dezena dos membros da sua comissão política nacional renunciarem aos cargos. À época, a razão para a saída prendeu-se, sobretudo, com o chumbo da proposta de realização de um congresso electivo extraordinário para discutir e fazer um balanço daqueles resultados eleitorais (que foram negativos). Semanas mais tarde, Inês Sousa Real, porta-voz do partido, viria a classificar a oposição interna de “minoria ruidosa”.

Já antes, em Junho de 2020, o PAN assistiu a uma debandada de algumas das suas principais figuras políticas: Francisco Guerreiro, na altura eurodeputado do PAN, saiu do partido por “divergências políticas” com a direcção, e a então deputada Cristina Rodrigues, agora assessora parlamentar do Chega, desfiliou-se por sentir a sua voz “cada vez mais silenciada”. À data, também a comissão política regional da Madeira se demitiu em bloco.