Lula regressa à arena internacional para reconstruir laços

Sem ainda ser formalmente chefe de Estado, Lula da Silva vai participar na Cimeira do Clima e visita Portugal esta semana.

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Lula vai estar no Egipto para participar na COP27 Joedson Alves / EPA

Embora ainda sem ter tomado posse, Lula da Silva parte esta semana para um périplo internacional com o objectivo de reorientar a posição do Brasil na arena mundial com uma incidência particular no combate às alterações climáticas. As viagens do Presidente eleito servem sobretudo para ressaltar as diferenças face ao actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro.

A disponibilidade de Lula e Bolsonaro perante os compromissos internacionais das próximas semanas não podia ser mais díspar e, em simultâneo, indicativas do ânimo de vencedor e vencido das eleições presidenciais. Se Lula tem uma agenda preenchida, praticamente equiparável à de um Presidente em funções, já Bolsonaro tomou a decisão inédita de não comparecer na cimeira do G20 que decorre em Bali, na Indonésia.

O colunista do portal UOL, Jamil Chade, escreve que, com Lula na presidência, “o Brasil desenhará uma nova geografia de alianças internacionais”. “Em temas como clima, direitos humanos e integração, os responsáveis pela nova política externa já preparam uma transformação radical da inserção internacional do Brasil, sepultando algumas das principais iniciativas da extrema-direita”, afirmava o jornalista na sua coluna da semana passada.

O vazio deixado pelo Presidente brasileiro na arena internacional será ocupado com naturalidade por Lula, que já tinha manifestado a intenção de fazer algumas viagens até à tomada de posse, marcada para 1 de Janeiro. Nas vésperas da segunda volta das eleições presidenciais, o então candidato do Partido dos Trabalhadores disse querer visitar vários países para “restabelecer” as relações que acredita terem ficado mais frágeis durante o mandato de Bolsonaro, citando a América Latina, os EUA, a União Europeia e a China.

Amazónia no centro

Será durante a Cimeira do Clima (COP27), no Egipto, que Lula vai fazer a sua reentrada na política internacional. Na quarta-feira, o Presidente eleito vai discursar na área reservada às Nações Unidas e depois irá encontrar-se com activistas brasileiros, para além de se reunir com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e com o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi.

De acordo com assessores do Presidente eleito, foram feitos pelo menos dez pedidos de reuniões bilaterais por parte de representantes governamentais de diversos países e organizações internacionais. A acompanhar Lula vai estar a ex-ministra do Ambiente Marina Silva, que se encontra no Egipto desde o início da COP27, e o também ex-ministro Fernando Haddad, que tem sido apontado como o próximo ministro das Finanças.

O combate à desflorestação da Amazónia será o tema principal a ser abordado durante a presença de Lula na COP27. Durante o mandato de Bolsonaro, a destruição da maior floresta tropical do planeta atingiu níveis muito preocupantes que aprofundaram o isolamento internacional do Brasil. A pressão de vários líderes e governos mundiais para que as autoridades brasileiras tomem providências para travar a desflorestação e a ocupação ilegal de terras protegidas tem sido grande e há uma forte expectativa de que Lula apresente progressos neste campo.

Muitos dos líderes mundiais que saudaram a vitória de Lula, no dia 30 de Outubro, sublinharam a necessidade de uma mudança drástica nas medidas de protecção ambiental no Brasil.

Depois de passar pela COP27, Lula vai parar em Portugal, onde terá encontros com o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro, António Costa. Trata-se de uma visita importante para o Presidente eleito que espera ter no Governo português um aliado importante no âmbito do processo para que o acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul se torne realidade.

Apesar de as negociações terem sido concluídas em 2019, ao fim de duas décadas, persistem ainda vários obstáculos para que o acordo venha a ser ratificado, sobretudo por causa do cumprimento de garantias ligadas à preservação ambiental e ao combate às alterações climáticas.

A passagem de Lula por Portugal tem ainda uma carga simbólica por decorrer no ano do bicentenário da independência brasileira e por acontecer meses depois de Bolsonaro ter rejeitado receber o chefe de Estado português, precisamente por Marcelo Rebelo de Sousa se ter encontrado com o antigo Presidente.

Na agenda de Lula estava previsto ainda um encontro com o Presidente colombiano, Gustavo Petro, durante a escala técnica dos aviões das duas comitivas em Cabo Verde, mas a reunião acabou por ser desmarcada por falta de coordenação, segundo o El País. Petro, eleito em Junho, é, tal como Lula, um dos governantes sul-americanos de esquerda a chegar ao poder nos últimos anos e ambos partilham a convicção de que as parcerias a nível regional podem ser aprofundadas nos próximos tempos.

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