O activista egípcio-britânico Abd el-Fattah está em greve de fome desde 2 de Abril. Avisou que deixaria de beber água no último domingo, de modo a coincidir com a abertura da Cimeira do Clima organizada pelas Nações Unidas (COP27) em Sharm el-Sheikh, no Egipto. O protesto de Abd el-Fattah tem pairado como uma nuvem sobre as negociações da COP27, tendo sido uma questão levantada em vários discursos oficiais durante o arranque do mais importante evento internacional sobre a crise climática.
Sanaa Seif, uma das duas irmãs do activista detido no Egipto, também já está no país para fazer campanha pela sua libertação. E o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak tocou neste assunto delicado com o Presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi.
Um advogado de Abd el-Fattah, Khaled Ali, disse esta quinta-feira que o procurador público egípcio lhe tinha concedido autorização para visitar a prisão onde está detido no Cairo. A outra irmã de Abd el-Fattah, Mona Seif, confirmou que Ali estava a negociar o acesso à prisão.
Esta semana, a mãe de Abd el-Fattah tem feito visitas diárias à prisão. No entanto, apesar destes esforços, não recebeu qualquer notícia do filho. A mãe afirma que os funcionários da prisão falaram com ela fora dos portões na quinta-feira. “Disseram que foram adoptados procedimentos médicos para manter a saúde [do detido] e que as entidades legais foram informadas”, disse Laila Soueif à Reuters por telefone.
“Ninguém nos notificou oficialmente com qualquer acção que tenha sido tomada”, acrescentou. Sem água, a saúde de Abd el-Fattah poderia deteriorar-se rapidamente e a agência para os Direitos Humanos direitos das Nações Unidas também já expressou preocupação com a debilidade do activista.
Os funcionários egípcios não responderam aos pedidos de comentários da Reuters. Disseram anteriormente que Abd el-Fattah estava a receber refeições.
O blogger e activista destacou-se na revolta do Egipto em 2011, antes de Sisi, então chefe do exército, ter liderado a expulsão do primeiro presidente democraticamente eleito do Egipto, Mohamed Mursi, em 2013. Grupos de direitos humanos dizem que dezenas de milhares de pessoas foram presas desde então, incluindo islamistas, esquerdistas e liberais. Sisi e os seus apoiantes dizem que a segurança e a estabilidade são primordiais.
Abd el-Fattah foi condenado mais recentemente, em Dezembro de 2021, a cinco anos de prisão, sob a acusação de divulgar falsas notícias, no mesmo mês em que adquiriu a nacionalidade britânica através da sua mãe. Está em greve de fome como forma de protesto contra a sua detenção e as condições prisionais a que está sujeito. Funcionários britânicos procuraram sem sucesso o acesso consular para o visitar na prisão.
Os familiares não têm informações precisas sobre o seu estado de saúde. Laila Soueif disse não ter sido informada sobre a natureza da intervenção médica. “Dizem que ele ainda está na prisão”, declarou a mãe esta quinta-feira. “Recusaram-se a permitir que esperasse fora da prisão, recusaram-se a receber quaisquer cartas minhas”.
Numa declaração pública, a família de Abd el-Fattah refere: “Estamos a exigir informações sobre o tipo de ‘intervenção médica’ e a exigir que ele seja transferido com a máxima urgência para um hospital onde advogados e família possam contactá-lo”. A campanha da família para a sua libertação trouxe uma reacção negativa das figuras pró-governamentais e dos meios de comunicação social.
Os meios de comunicação locais relataram que um advogado egípcio apresentou um processo judicial exigindo a prisão da irmã do activista, Sanaa Seif, por “conspiração com agências estrangeiras” e “incitamento contra o Estado egípcio”. Os anfitriões de um talk-show pró-governo rejeitaram as críticas ao historial de desrespeito dos direitos humanos do Egipto.
Um membro pró-governamental do parlamento egípcio foi escoltado por guardas de segurança da Nações Unidas para fora de uma conferência de imprensa na COP27 na terça-feira, depois de ter questionado a proposta da família para uma amnistia e para apoio internacional.