COP27 concede espaço inédito à juventude, mas dificulta acesso à sociedade civil

Pela primeira vez, a COP tem um pavilhão exclusivo para a juventude. É um grande avanço, mas que veio tarde. Muitos jovens não vieram a Sharm el-Sheikh devido ao valor impeditivo cobrado pelos hotéis.

Ao longo das últimas décadas, a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP) tem-se tornado cada vez mais acessível à sociedade civil. Se nos primeiros anos da Convenção do Clima as COPs eram ocupadas quase exclusivamente por delegados dos países que são parte do tratado internacional, hoje a Conferência está entre os principais espaços de interação entre a classe política e a sociedade civil no mundo.

A COP tem como principal objetivo avançar com as negociações relativas à Convenção do Clima e ao Acordo de Paris; ou seja, trata-se de uma negociação política, no nível diplomático, entre Estados. Contudo, esta é apenas uma das faces do que, atualmente, é a maior conferência internacional sob a tutela das Nações Unidas. Sociedade civil, governos subnacionais, organizações internacionais, universidades, coalizões entre países e o setor privado misturam-se nos pavilhões onde centenas de eventos ocorrem simultaneamente.

Para além de uma grande oportunidade de interação entre pessoas interessadas na discussão climática, a COP é, para muitos, a única oportunidade de estar realmente próximo da classe política e dos decisores de seus respectivos países. A sociedade civil também tenta sempre exercer pressão sobre os negociadores, para que adotem medidas mais ambiciosas de enfrentamento das alterações climáticas.

Este ano, pela primeira vez, a COP concedeu espaço para um pavilhão exclusivo para a juventude. Esse é um grande avanço, mas que veio tarde. A questão da justiça intergeracional está no preâmbulo da Convenção do Clima de 1992, mas apenas nos últimos anos, com a liderança de Greta Thunberg, o tema ganhou relevância, mais adeptos e visibilidade.

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O pavilhão, que se localiza na zona oficial da ONU na COP27 e é administrado por crianças e jovens, irá sediar eventos, grupos de trabalho e oportunidades de networking e briefings sobre políticas, todos com curadoria de redes infanto-juvenis.

A COP27, portanto, poderia ser marcada na história como a COP da juventude. Entretanto, uma série de contratempos dificultou de maneira significativa a presença de jovens na conferência e da sociedade civil como um todo.

O primeiro dos contratempos foi o número reduzido de credenciais em relação às COPs anteriores. Estima-se que o número de credenciais para observadores na COP27 tenha sido menos da metade do que foi possível se obter nas conferências anteriores.

Ademais, muitos jovens não puderam vir a Sharm el-Sheikh devido ao valor impeditivo cobrado pelos hotéis da cidade. O problema agravou-se com a sobretaxa cobrada pela hospedagem a poucos dias da conferência ou mesmo quando os hóspedes chegavam aos hotéis. Essa situação afastou muitos jovens, sobretudo do sul global e de comunidades tradicionais da tão esperada participação na COP27.

Embora pudesse ser bem maior, a presença da juventude na COP27 é notável, devido à energia que essas pessoas trouxeram à conferência, com a missão de garantir-lhes um planeta habitável. Mas não podemos nos esquecer que o planeta é de todos e não apenas daqueles que podem pagar pelo que está sendo cobrado nas acomodações de Sharm el-Sheikh.

Que a COP28 seja mais aberta aos jovens, que são os principais interessados em tudo que se debate e se decide neste ambiente das Nações Unidas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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