Uma especial enviada portuguesa na Cimeira do Clima da ONU

Gosta de política e quer compreender como é que decorrem as negociações entre os países sobre as alterações climáticas. Catarina Semedo participa num programa de educação ambiental internacional.

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Catarina Semedo quer compreender como é que os países negoceiam acordos por causa das alterações climáticas ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Catarina Semedo, uma jovem de Ílhavo de 20 anos, com muita vontade de ver e compreender o mundo, vai estar na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egipto, em Novembro. Ela e um colega da Irlanda do Norte estarão lá como “jovens repórteres para o ambiente”, um programa internacional da Fundação para a Educação Ambiental, presente em mais de 40 países.

“Gostava de compreender melhor como é que funcionam, a nível político, as negociações entre os diferentes países, como é que se chega a acordos a nível global, sendo que cada país tem contextos tão diferentes”, disse ao PÚBLICO Catarina Semedo. “Gosto muito de política, e o que acho mais relevante na questão das alterações climáticas é a vertente política, perceber o que é que os países estão a fazer ou não”, explicou.

A sua viagem à COP27 deve ocorrer nesta primeira semana da conferência (que dura até 18 de Novembro) e a ideia é que lá faça reportagens que serão publicadas no site internacional do projecto dos Jovens Repórteres para o Ambiente. O desafio é traduzir o seu interesse pela política em torno das alterações climáticas em artigos “sem palavras caras, para tentar perceber o que é posto em prática e o que não é, de uma forma que toda a gente consiga compreender e que seja interessante para nós, para as gerações mais novas”, adiantou.

“No geral considero-me uma pessoa bastante curiosa e gosto muito de saber o que está a acontecer à minha volta em todos os aspectos, e obviamente a causa climática interessa-me bastante”, explica sobre o seu interesse nas questões do clima. É uma leitora do PÚBLICO. “Uma das prendas de Natal que tinha pedido à minha família era uma subscrição do jornal PÚBLICO”, contou.

O projecto dos Jovens Repórteres para o Ambiente é uma iniciativa da Fundação para a Educação Ambiental, uma organização internacional que em Portugal temos está representada pela Associação Bandeira Azul da Europa, que desenvolve várias iniciativas, como o programa Eco-Escolas, que pretende disseminar uma metodologia para a abordagem das questões ambientais. “Comecei nos jovens repórteres em 2018 porque a minha escola era uma eco-escola. Pareceu-me uma iniciativa fantástica porque sempre gostei imenso de escrever, de comunicar”, explicou Catarina Semedo.

"Missões” ambientais

“Comecei a fazer reportagens a nível local, mas há uma coisa que o programa organiza cá em Portugal que são as missões, que estão dependentes de uma candidatura, em que se juntam normalmente uns dez, 15 jovens, de todo o país, para fazer umas investigações mais intensivas, digamos assim”, adianta.

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“Comecei nos jovens repórteres em 2018 porque a minha escola era uma eco-escola", diz Catarina Semedo ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Foi assim que a sua primeira missão como jovem repórter do ambiente a levou ao Rock in Rio, para “tentar perceber qual a consciência ambiental, ou a falta dela, do festival”, explica. E o que concluiu? “Por um lado, a maioria das pessoas ia para o festival de transportes públicos, o que é óptimo. Mas depois, dentro do festival, havia, por exemplo, imensos brindes, que são tudo menos sustentáveis. As pessoas nunca mais vão voltar a olhar para eles na vida, mas na altura é uma loucura e toda a gente os quer”, exemplifica. “E em relação aos copos reutilizáveis, é aquela discussão sobre se de facto são assim tão bons para o ambiente, sendo que vão ser utilizados apenas num festival… Nunca nada é só preto ou branco. O festival não é bom ou mau, há muitas nuances”, recorda.

Foi ganhando experiência nas reportagens feitas nestas missões, que também a levaram, por exemplo, à Web Summit. “Este ano fui contactada pela Associação Bandeira Azul da Europa para ir ao painel jovem da Conferência Mundial de Educação Ambiental, em Praga, na República Checa. E depois surgiu o contacto dos Jovens Repórteres para o Ambiente, dizendo que podiam nomear um candidato a estar presente na COP27, se eu estaria interessada.” Ela estava, claro. Fez uma candidatura escrita e acabou por ser seleccionada.

Um ano para crescer como pessoa

Parece um grande passo para uma jovem de 20 anos, mas Catarina Semedo já se lançou em grandes viagens. Por exemplo, embora tenha terminado o ensino secundário aqui em Portugal, participou num programa internacional chamado United World Colleges, que a levou a ter a experiência de estudar num colégio internacional na Índia. “Acabei em Maio. Foi perto de Puna, uma pequena cidade perto de Bombaim. Foi muito interessante”, diz.

Embora se interesse por política, jornalismo e comunicação, e viagens, o sonho de Catarina Semedo é entrar em Medicina – mais concretamente, na área de cirurgia. “A ideia seria ir para o Reino Unido estudar Medicina, mas pelo caminho apareceu o ‘Brexit’, e o objectivo passou a ser fazer cá Medicina. Portanto, fiz os exames nacionais este ano, mas o exame de Matemática não foi fantástico e não entrei em Setembro”, conta.

Ela não se deixou desencorajar. Além do projecto de ir à COP27, um dos grandes acontecimentos internacionais do ano, ela quer aproveitar este ano em que não está a estudar formalmente – está a estudar Matemática, para repetir o exame para o ano. “Quero aproveitar este ano para fazer aquilo que em Portugal, em especial na área da medicina, quando se precisa de médias acima de 18,5, ou 19, não temos muito espaço para fazer, que é crescer como pessoa, e trabalharmos enquanto cidadãos”, afirma.

Já fez um programa de curta duração do Erasmus + em Itália e está a candidatar-se a ir para outros países. “E eventualmente o Corpo Europeu de Solidariedade também está nos meus planos.”