Empresas devem parar com promessas “falsas” sobre neutralidade carbónica

Guterres lança mensagem contra greenwashing no mesmo dia em que sai relatório para empresas sobre incompatibilidade entre promessas de neutralidade carbónica e investimentos em combustíveis fósseis.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, exorta ao fim do greenwashing Sedat Suna/Lusa

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu o fim da “dissimulação tóxica” das empresas e investidores que fazem promessas “falsas” de neutralidade de carbono.

“Esta tentativa de dissimulação tóxica pode fazer o mundo cair da falésia climática. Esta farsa deve acabar”, insistiu, saudando o relatório do grupo de especialistas em neutralidade carbónica que lhe foi entregue na 27.ª Cimeira do Clima das Nações Unidas (Conferência das Partes – COP27), a decorrer em Sharm el-Sheikh, no Egipto.

As promessas de neutralidade carbónica das empresas e dos investidores são “incompatíveis” com novos investimentos nas energias fósseis, adianta o estudo. “Do mesmo modo, a desflorestação e outras actividades que destroem o ambiente desacreditam” aquelas promessas, considerou o grupo criado pelo secretário-geral das Nações Unidas.

Contra a “lavagem verde” (greenwashing) de actores privados que fazem promessas no ar de neutralidade carbónica, os especialistas dizem ser necessário acabar com o investimento em combustíveis fósseis, com a “compensação” acessível das emissões de gases com efeito de estufa e com a desflorestação.

Os 18 especialistas elaboraram em poucos meses um guia para avaliar o grau de credibilidade dos actores não estatais que se comprometem com a neutralidade carbónica. Afastar-se de “actividades ambientalmente destrutivas” é condição chave para a credibilidade.

O relatório considera ainda que as promessas a longo prazo devem ser acompanhadas de um plano preciso, com objectivos para cada período de cinco anos. A mensagem enviada aos directores-executivos e outros actores privados “é clara”, sublinhou Guterres: “respeitem aquelas normas e revejam as vossas directrizes a partir de agora, o mais tardar até à COP28”, daqui a um ano.

O secretário-geral da ONU pediu ainda aos governos para “criarem um quadro regulamentar” que contemple as recomendações dos especialistas.

Até o próximo dia 18, decorre em Sharm el-Sheikh, no Egipto, a 27.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas, para tentar travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a dois graus Celsius, e se possível a 1,5 graus, acima dos valores médios da época pré-industrial.