As eleições intercalares dos EUA em oito perguntas e respostas

Os EUA vão esta terça-feira a votos para eleger os membros da Câmara dos Representantes e um terço dos lugares do Senado.

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Votação antecipada em Lansing, Michigan Reuters/EVELYN HOCKSTEIN

Estão em jogo todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes e apenas 35 dos 100 lugares no Senado. Os eleitores vão também escolher os governadores em 36 estados, vários legisladores estaduais e outros cargos locais.

Que eleições são estas?

Esta terça-feira os eleitores dos Estados Unidos vão escolher candidatos ao Senado, à Câmara dos Representantes e a outros órgãos em vários estados do país.

Todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes (a câmara baixa do Congresso) vão a votos, assim como praticamente um terço (35) dos 100 lugares no Senado (a câmara alta). Este ano vão também ser escolhidos governadores em 36 estados, procuradores-gerais em 39 estados e secretários estaduais em 37 estados.

Há ainda 6300 eleições para parlamentos estaduais (em 46 estados), assim como a eleição de 27 tesoureiros estaduais, várias presidências de câmara e alguns referendos, nos quais estão incluídos seis sobre o direito ao aborto.

Quanto duram os mandatos dos principais cargos em disputa?

Os candidatos à Câmara dos Representantes são eleitos de dois em dois anos, mas os candidatos ao Senado cumprem mandatos de seis anos – e para que nenhum estado fique com os seus dois senadores em campanha sempre que há uma eleição deste tipo, apenas cerca de um terço do Senado vai a votos de dois em dois anos. Em 2014, por exemplo, estiveram em jogo outros 33 lugares.

Estas eleições chamam-se midterms (intercalares, numa tradução livre) em anos em que não coincidem com a eleição para a Presidência dos Estados Unidos.

O que está em jogo?

Como sempre, está em jogo a relação de forças nas duas câmaras do Congresso – o órgão onde se discutem e aprovam as leis do país. Mas Donald Trump está a fazer campanha como se ele próprio fosse a votos, o que transforma estas eleições numa espécie de antecâmara das presidenciais de 2024.

Registe-se ainda que nas contas feitas pelo Washington Post, 291 dos 569 candidatos republicanos ao Congresso, e também aos cargos de governador, de secretário de estado e de procurador-geral nos vários estados, são negacionistas da vitória de Biden. Numa contabilidade idêntica, o jornal New York Times diz que há 370 em 550 candidatos que se recusam a validar explicitamente a vitória de Biden. E o instituto Brookings aponta para 345.

Esta também é uma questão quer serve de pano de fundo às eleições.

O Partido Republicano vai ganhar a Câmara dos Representantes?

De acordo com as sondagens até agora conhecidas, o Partido Republicano pode sair destas eleições com a maioria na Câmara dos Representantes (onde os democratas são actualmente em maior número: 220 contra 212)

Embora os analistas avisem que tudo pode acontecer, a realidade é que parece cada vez mais difícil que o resultado na Câmara não seja uma vitória dos republicanos.

E quem vai ganhar o Senado?

O Senado está actualmente dividido em 50 lugares para cada partido, com vantagem democrata graças ao voto de qualidade da vice-presidente, Kamala Harris. O Partido Republicano precisa de conquistar apenas um assento para ficar em maioria na câmara alta. As eleições mais disputadas ocorrem em estados onde Joe Biden venceu em 2020 e onde os republicanos apresentam diversos candidatos que, até agora, recusaram dizer se vão aceitar os resultados da votação. Independentemente de quem sair vencedor em qualquer das duas câmaras, o momento pré-eleitoral faz adivinhar um futuro polarizado e divisivo.

Já agora, porque é que as eleições são numa terça-feira?

É assim nos Estados Unidos desde 1845, depois de décadas em que a prática foi essa em alguns estados.

Por essa altura, ainda no século XVIII, as leis diziam que os estados deviam realizar as eleições presidenciais no prazo de 34 dias antes da primeira quarta-feira de Dezembro. A data mais conveniente calhava em Novembro, porque a época das colheitas já tinha ficado para trás e o mau tempo a sério ainda não tinha chegado – duas condições importantes para que os eleitores pudessem deslocar-se às mesas de voto a longas distâncias nas suas carroças.

Como os estados votavam em dias diferentes em Novembro, e os eleitores podiam ser influenciados pelas notícias que iam chegando a conta-gotas, em 1845 o Congresso decidiu fixar uma data: a terça-feira a seguir à primeira segunda-feira no mês de Novembro.

Era o melhor dia da semana para se votar: ao domingo havia missa, à segunda começava a viagem em direcção à mesa de voto, e à quarta-feira era preciso estar de volta a casa porque era dia de mercado.

Sim, há quem tente convencer os congressistas de que a mudança do dia de eleições para o domingo faria diminuir a abstenção, mas o assunto está longe de ser uma prioridade.

Em algum momento esta eleição envolve a escolha do Presidente?

Não, estas eleições não servem para referendar a Presidência. No entanto, sendo intercalares (entre duas eleições presidenciais) acabam por funcionar como um barómetro à popularidade do Presidente, neste caso Joe Biden.

Quanto tempo demoram os resultados?

Esta não é uma pergunta com resposta exacta. Quanto mais polarizadas forem as eleições, mais tempo demorará a contagem dos votos, podendo mesmo levar vários dias, consoante os estados. Na melhor das hipóteses, as projecções começarão a ser conhecidas por volta da meia-noite de Lisboa.

Nos EUA, há até quem já fale em “semana eleitoral” em vez de “noite eleitoral”, pensando sobretudo em alguns estados menos previsíveis (os considerados swing-states).

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