Simone canta a alma nordestina em três concertos em Portugal

A cantora brasileira Simone está de volta com um disco centrado em compositores nordestinos, Da Gente. Quinta-feira no Coliseu do Porto, dia 12 no Casino do Estoril e dia 13 no Coliseu de Lisboa.

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Simone fotografada para o disco Da Gente ANA MORAES

Em Março, quando lançou Da Gente, Simone formulou um desejo: “Espero fazer shows, estou há mais de dois anos sem pisar no palco.” O desejo cumpriu-se. Só em Portugal, onde regularmente actua há anos, tem três concertos marcados para apresentar o seu novo disco, o primeiro desde que lançou É Melhor Ser (2013). Esta quinta-feira, dia 10, estará no Coliseu do Porto (21h), no sábado actua no Casino do Estoril (22h) e no domingo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa (22h).

Simone Bittencourt de Oliveira, que conhecemos apenas por Simone, conta com três dezenas de álbuns ao longo de quase 50 anos de carreira, que completará em 2023. Nascida em Salvador da Bahia, num dia de Natal (25 de Dezembro de 1949), o facto de ser nordestina deu-lhe a ideia de, um dia, gravar um disco só com compositores do Nordeste brasileiro. Pensado em 2015, após o lançamento do disco anterior, esse trabalho só começou a ser concretizado em 2021, no segundo ano da pandemia, acabando por ser lançado este ano, em 18 de Março, pela Biscoito Fino.

Numa entrevista ao Diário de Minas, por ocasião do lançamento do disco, Simone recordou que a pandemia a levou primeiro para o interior e depois para largos meses de permanência na sua casa do Rio de Janeiro. Acabara de gravar uma entrevista para o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, quando a pandemia a forçou a uma quarentena (porque contactara com várias pessoas e devia acautelar-se) a depois a um recolhimento caseiro, de Abril de 2020 e Janeiro de 2021. “Não saí mais de casa; tinha que cumprir o isolamento social”, disse ela ao jornalista Augusto Pio.

E é em Janeiro de 2021 que Simone convida a cantora Zélia Duncan, sua amiga, para assumir a direcção musical do novo disco. Simone e Zélia, recorde-se, criaram na primeira década deste século o espectáculo Amigo é Casa, que veio a ser gravado em disco e que ambas apresentaram em Portugal em 2009, aqui voltando em 2017 para novos espectáculos em conjunto. Zélia, porém, aconselhou-a a conhecer o cantor e compositor pernambucano Juliano Holanda e, das conversas entre os três, a que se juntou a directora da Biscoito Fino, Kati Almeida Braga, Zélia acabou por ficar com a direcção artística do novo álbum e Juliano com a direcção musical.

O que daí resultou foi um disco com doze temas, desta vez com uma instrumentação mais contida e de onde ficaram ausentes as teclas (piano ou outras), ao contrário do que sucede na maior parte dos discos de Simone, que em Da Gente é acompanhada apenas por Juliano Holanda (baixo e violão de aço), Webster Santos (violões) e Rapha B (bateria, udu, clave e ganzá). O disco abre com Haja terapia, tema de Juliano que reflecte os tempos da pandemia e fecha com uma canção de Socorro Lira & Roberto Tranjan, Naturalmente.

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A capa do novo disco

Pelo meio, há uma canção feita em parceria por Zélia e Juliano, Boca em brasa; temas dos pernambucanos Martins (A gente se aproveita) e Isabela Moraes (Você distante); um de Karina Buhr, baiana criada em Pernambuco (Amor brando), onde nasceu PC Silva, que neste disco assina Ímã (letra e música) e Por que você não vem, esta em parceria com Joana Terra. E há mais três temas feitos em parceria: Escancarada (Gean Ramos e Rogério Dera), Dezembros (Raimundo Fagner, Zeca Baleiro e Fausto Nilo) e Nua, uma letra de Tiago Torres da Silva que Simone musicou. “Falávamos todos os dias, por mais de seis horas seguidas”, contou ela ao Diário de Minas. “Porque trabalhávamos juntos. Era ele quem fazia os roteiros. Então pedi a ele que me mandasse uma letra. Ele mandou a letra de Nua. Não sei por que, mas olhei aquela letra e me veio a melodia na cabeça, na mesma hora.”

Nos concertos em Portugal, a par dos temas do novo disco, Simone cantará canções marcantes na sua carreira, de um repertório vasto, que o público português bem conhece. Mas o que pautará este seu regresso aos palcos é poder cantar, à sua maneira, a alma nordestina. Algo que, como ela escreveu numa frase difundida pela Biscoito Fino, ao lançar o disco, vem das raízes culturais do Brasil: “Da gente, da nossa gente, do nosso povo, da nossa cultura, da nossa arte, da nossa capacidade de sobreviver. Deste nordeste extraordinário na linguagem, na música, no tempero, nos ritmos, do sol, das cores, da criatividade, dos poetas e artistas, dos pensadores, das pessoas.”

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