Infografia
Os pontos de viragem climática que a Terra está a ultrapassar
Uma investigação recente publicada na Science identificou 16 pontos de não retorno das alterações climáticas, a partir dos quais os sistemas do planeta se vão alterar e haverá consequências para milhões de habitantes da Terra.
Pontos de não retorno
Cinco desses pontos de viragem, a partir dos quais uma reacção se alimenta a si própria, podem já ter sido ultrapassados com o nível de aquecimento global que atingimos (1,1 graus Celsius acima da temperatura antes da Revolução Industrial). Além disso, estes pontos de viragem estão ligados entre si e a mudança num dos sistemas pode afectar vários outros, num efeito em cadeia, dizem os cientistas.
Relação entre o aumento de temperatura e os pontos de viragem
Em graus Celsius
Menos
de 2ºC
Degelo na Gronelândia
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Gronelândia 2022-06-16T174532Z_144886882_RC201S8AVGK4_RTRMADP_3_SCIENCE-POLARBEARS.jpg)
Se todo o gelo que está sobre a ilha da Gronelândia se derretesse e fluísse para o mar, o nível dos oceanos elevar-se-ia 7,2 metros. Os cientistas calculam que possa existir um ponto de não retorno para estes gelos a partir de um aquecimento global de 1,5 graus. O derretimento levaria pelo menos mil anos
Menos de 2ºC
Derretimento dos gelos do Ocidente da Antárctida
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Antárctida 2020-11-19T220417Z_1703392185_RC2M6K9B1TU4_RTRMADP_3_SPACE-EXPLORATION.jpg)
Os grandes glaciares flutuantes que ficam na borda do continente da Antárctida suportam o gelo que está depositado sobre terra firme. Mas estas plataformas de gelo estão a reduzir-se, e isso faz com que o gelo flua mais rápido para a água, o que provocará a subida do nível dos mares. O ponto de não retorno pode ser atingido com um aquecimento global de 1,5 graus, mas a escala temporal da mudança seria de 2000 anos
Menos de 2ºC
Colapso do giro subpolar (corrente do mar do Labrador)
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Labrador 2022-09-27T130628Z_1606833639_RC28PT9UY2FX_RTRMADP_3_CLIMATE-CHANGE-INUIT-SMARTICE.jpg)
Massas de água aquecidas na região do Equador viajam à superfície para o Atlântico Norte, onde arrefecem. Como a água fria é mais densa do que a água quente, esta afunda-se, para viajar para sul de novo. O aquecimento global pode perturbar esta corrente ao nível do mar do Labrador, o que provocaria fenómenos meteorológicos extremos na Europa
Menos de 2ºC
Degelo abrupto do permafrost
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Permafrost 2021-11-04T081621Z_701316052_RC2SJP9VTFZR_RTRMADP_3_CLIMATE-UN-RUSSIA-PERMAFROST.jpg)
O solo permanentemente gelado das latitudes mais a norte é o maior sumidouro de carbono do planeta. Se derreter, podem ser libertadas 1035 gigatoneladas de carbono, como metano e CO2. O ponto de não retorno pode ser atingido a partir de um aquecimento global de 1,5 graus, mas o processo tornar-se-á abrupto a partir de um aumento de quatro graus
Menos de 2ºC
Perda de corais de baixa profundidade
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Corais 2019-12-05T120234Z_1146247162_RC20PD9X7UU3_RTRMADP_3_CLIMATE-CHANGE-CORALS.jpg)
Prevê-se que 90% dos corais desapareçam até 2050 devido ao aquecimento global, com cenários de aumento de temperatura entre 1,5 e dois graus. A sua perda será dramática: embora cubram menos de 1% do oceano, são o habitat de 25% da vida marinha. São também a base do sustento para várias comunidades que fazem da pesca a sua actividade principal
Menos de 2ºC
Perda de gelo no mar de Barents
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Barents Sea GettyImages-530915574.jpg)
Este mar, a norte da Noruega e da Rússia, está a aquecer sete vezes mais depressa do que o resto do planeta. O ponto de não retorno pode ser atingido com 1,5 graus de aquecimento global, e influenciaria a meteorologia na América do Norte e na Europa e as correntes oceânicas do Atlântico
Menos de 2ºC
Perda do gelo do Árctico no Verão
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Artico 2020-09-14T180616Z_1751689318_RC2IYI9OW88X_RTRMADP_3_CLIMATE-CHANGE-ARCTIC-SEA-ICE.jpg)
É difícil definir o que será o ponto de não retorno para o Árctico, mas um Verão em que desapareça todo o gelo — o chamado “Evento Oceano Azul” — é o mais aceite. Poderá haver meses de Setembro sem gelo ocasionalmente a partir de 1,5 graus de aquecimento global que se se tornarão comuns se chegar a dois graus
2 a 4ºC
Perda da Floresta da Amazónia
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Amazonia 2022-08-30T091157Z_1_LYNXMPEI7T09X_RTROPTP_3_BRAZIL-INDIGENOUS.jpg)
A Amazónia armazena 150 a 200 gigatoneladas de carbono, mas a desflorestação, devido ao avanço da agricultura e aos incêndios, já reduziu a floresta em 17% desde a década de 70. A degradação avançou tanto que está a tornar-se uma fonte emissora de carbono e não um sumidouro. A partir de 20% a 25% de desflorestação, pode iniciar-se um ponto de não retorno para a floresta
2 a 4ºC
Derretimento dos glaciares de montanha (fora da Gronelândia e da Antárctida)
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Derretimento dos glaciares de Montanha AlpesSuiços GettyImages-1242857714.jpg)
Mesmo que as emissões de CO2 sejam reduzidas significativamente nas próximas décadas, mais de um terço dos glaciares vai derreter-se até 2100. Com dois graus de aquecimento, todos os glaciares europeus se derreterão. A água que libertam fará subir o nível dos mares, o que amplia a erosão costeira e torna as tempestades mais perigosas
2 a
4ºC
Vegetação do Sahel e monção da África Ocidental
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Sahel GettyImages-1204233125.jpg)
O Sahel tem alternado períodos verdejantes com outros períodos, em que secou, que estão intimamente ligados à monção da África Ocidental. Há modelos que prevêem que a região se pode tornar mais húmida com o aquecimento global (enquanto a costa ocidental de África seca), embora outros acentuem a tendência para anos seguidos de seca. Neste trabalho, os cientistas adoptaram o cenário de um Sahel mais húmido, com alterações a partir de 2,8 graus de aquecimento global
2 a
4ºC
Degelo das bacias subglaciais do Leste da Antárctida
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Derretimento das bacias Antárctida GettyImages-870892820.jpg)
Estas bacias são lagos sob glaciares, isolados da luz do Sol e de qualquer contacto com a superfície, e contêm uma proporção substancial da água doce líquida do planeta. O ponto de não retorno poderá ser atingido com um aquecimento global de 3 graus. Estima-se que todos os lagos subglaciais da Antárctida contenham mais de dez vezes a quantidade de carbono armazenada no permafrost
Mais
de 4ºC
Perda de florestas boreais (as que ficam mais a sul)
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Perda de florestas boreais GettyImages-600006916.jpg)
As florestas boreais representam 30% das áreas florestais no mundo e encontram-se no Alasca, Canadá e Rússia. Estão ameaçadas no seu limite mais a sul pelo avanço de pragas com o aumento da temperatura, bem como por incêndios descontrolados — que ajudam a derreter o permafrost e ajudam a transformá-las numa paisagem de estepe ou pradaria. Estes efeitos começam com 1,5 graus de aquecimento global e intensificam-se aos 3,5 graus
Mais
de 4ºC
Expansão de florestas boreais (para a tundra)
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Expansão de florestas boreais novas_ GettyImages-452370274.jpg)
Mais C02 na atmosfera ajuda a que cresçam mais árvores, e as florestas estão a avançar para norte, mudando o ecossistema das tundras, onde até agora só crescem arbustos, musgos e líquenes. Novas árvores poderiam absorver mais carbono, mas também reduzir a quantidade de luz do Sol reflectida para o espaço em zonas até então com neve. Estes efeitos começam com 1,5 graus de aquecimento global e intensificam-se aos 3,5 graus
Mais
de 4ºC
Alterações na Circulação Termoalina Meridional do Atlântico, que aceleram degelo no Ocidente da Antárctida e mudam a temperatura na Europa
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Termohalina Meridional do Atlântico GettyImages-848009916.jpg)
Este é um dos maiores sistemas de correntes oceânicas do planeta: águas quentes e pouco densas viajam das Caraíbas para norte e libertam calor, que aquece a Europa. Em sentido contrário seguem águas frias e mais salgadas, que são mais densas. A entrada de água doce dos glaciares que se derretem na Gronelândia pode desestabilizar esta circulação do Atlântico, que tem um papel fundamental na regulação do clima global e enfraqueceu 15% nos últimos anos
Mais
de 4ºC
Colapso do gelo do Árctico no Inverno
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Colapso do gelo do Árctico GettyImages-1041476652.jpg)
A chave para manter o gelo no Árctico é que os Invernos se mantenham frios, quando a região está envolta em escuridão e as temperaturas caem abaixo do ponto de congelação. Os cientistas estimaram que possa acontecer um colapso dos gelos com um aumento de temperatura global de 6,3 graus Celsius
Mais
de 4ºC
Degelo do Leste da Antárctida
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/717/img/Derretimento do Leste da Antárctida GettyImages-598614737.jpg)
É a maior calote polar. Apesar de ser considerado mais estável, e em algumas zonas até estar a aumentar o gelo, o oceano Antárctico está a aquecer, o que pode causar mudanças nas correntes que comprometam a estabilidade dos gelos. Se o nível de CO2 na atmosfera atingir mil partes por milhão ou a temperatura global aumentar oito a dez graus, poderá desintegrar-se, o que teria efeitos em todo o planeta