Novo livro de Greta Thunberg sobre alterações climáticas é “uma forma de activismo”

O livro compila ensaios de dezenas de especialistas, como Naomi Klein, Thomas Piketty, Hans-Otto Portner e Elizabeth Kolbert. É um “guia” sobre um mundo que vive à mercê das alterações climáticas.

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Greta Thunberg na apresentação do seu novo livro em Londres HENRY NICHOLLS/REUTERS

É um livro que reúne ensaios de mais de 100 especialistas sobre os impactos inegáveis das alterações climáticas – e do que ainda é possível fazer para reverter a crise climática. Chama-se O Livro do Clima, é coordenado pela activista ambiental Greta Thunberg e será publicado esta segunda-feira em Portugal. “O objectivo do livro é mostrar facetas diferentes desta urgência e cruzar diferentes perspectivas”, disse a activista sueca em entrevista com o PÚBLICO, publicada na semana passada.

“Quis criar uma espécie de referência para pessoas que se queiram envolver mais em questões do clima, mas que não saibam bem por onde começar”, explicou Greta Thunberg ao PÚBLICO. Um dos seus propósitos é mostrar aos leitores que os sinais de alerta estão interligados e que as alterações climáticas fazem parte de uma “crise de sustentabilidade muito maior”. E a acção, diz, é urgente: “A noção de que estamos em contra-relógio passa-nos completamente ao lado.”

A obra começa com a mensagem de que o planeta já aqueceu cerca de 1,2 graus em relação aos níveis pré-industriais. E abre com uma citação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que concluiu “ser inequívoco que a influência da espécie humana tem provocado o aquecimento da atmosfera, dos oceanos e dos solos. Têm ocorrido alterações generalizadas, e a um ritmo acelerado, na atmosfera, nos oceanos, na criosfera e na biosfera”.

O livro também mostra que alguns países têm uma “maior quota de responsabilidades de emissões” de gases com efeito de estufa do que outros – e também que a maioria da humanidade não tem culpa no cartório, afiança Greta Thunberg no livro, e que as consequências não serão sentidas por igual. “Estamos todos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco”, escreve. O livro foi lançado internacionalmente a 27 de Outubro e chega a Portugal a 7 de Novembro, pela editora Objectiva.

“Uma forma de activismo”

A activista de 19 anos foi catapultada para a fama depois de ter decidido faltar às aulas, na Suécia, para fazer “greve pelo clima”. Às sextas-feiras, trocava as aulas e sentava-se em frente ao Parlamento sueco para alertar para a iminência das alterações climáticas. Hoje, continua a fazer essa greve. Além da sua participação em cimeiras climáticas e em encontros de líderes mundiais, Greta Thunberg venceu a primeira edição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, foi eleita personalidade do ano da revista Time e foi também nomeada para o Prémio Nobel da Paz.

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A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

Ainda que refira muitas vezes que a educação ambiental é um dos primeiros passos para combater a crise climática, Greta Thunberg acredita também que “este livro não funciona só como um método de educação, mas também como um chamamento para a acção”. E o activismo climático é um dos caminhos a seguir, defende. “Nada é demasiado pequeno para se começar.” Para si, este livro é uma tentativa de aproveitar o alcance da sua “plataforma” para divulgar conhecimento sobre as alterações climáticas. É “uma forma de activismo”.

Para isso, convidou dezenas de especialistas para escrever sobre as várias facetas deste clima em mudança, almejando ter “vozes diferentes”. Entre os ensaístas que participaram neste livro estão a jornalista Naomi Klein, o climatologista Hans-Otto Portner, a escritora Elizabeth Kolbert, o professor Thomas Piketty, o escritor David Wallace-Wells, a activista Sônia Guajajara, a escritora Margaret Atwood (num capítulo sobre “utopias práticas”), o director-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus (escreve sobre “a saúde e o clima”).

Além dos testemunhos e dos ensaios de cientistas e activistas, a obra está permeada com notas de Greta Thunberg. E está dividido de modo a evidenciar o problema climático e a apresentar possíveis formas de o resolver: mostra o modo de funcionamento do clima, como o planeta está a mudar, como todos somos afectados, as medidas que já foram tomadas e o que ainda é preciso fazer.

A imagem de capa do livro é composta por um gráfico que mostra as “riscas do aquecimento”: cada risca de um ano (desde 1634 a 2021) corresponde à temperatura média global desse mesmo ano: as barras azuis são anos em que se registaram temperaturas mais baixas e as vermelhas correspondem aos anos com temperaturas mais altas.

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As riscas climáticas para Portugal (desde 1901 a 2021) Ed Hawkins

O gráfico foi criado pelo cientista Ed Hawkins, que é também autor do IPCC, e mostra o impacto palpável das alterações climáticas. “A austera faixa de listas vermelho-escuras na capa demonstra o inconfundível aquecimento rápido do nosso planeta nas décadas recentes”, escreve Ed Hawkins no livro. Do lado mais à esquerda, mais antigo, o gráfico está azul, mais frio. Quanto mais para a frente, mais avermelhadas estão as riscas.

A activista sueca também publicou juntamente com a família o livro A Nossa Casa Está a Arder (Editorial Presença, 2019) sobre a forma como convenceu a família a mudar de estilo de vida e de como tentou espalhar essa mensagem a nível mundial. Há ainda outro livro em língua inglesa intitulado No One Is Too Small to Make a Difference (Ninguém É Demasiado para Fazer a Diferença, numa tradução livre), publicado em 2019, que reúne discursos feitos pela activista.