Um breve guia para conceitos que vamos ouvir na COP27

Nos próximos dias vai ouvir falar do Acordo de Paris, de sustentabilidade, de neutralidade carbónica, do IPCC ou das NDC. Eis uma ajuda para entender o que estará em discussão em Sharm El-Sheikh.

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Cimeira do clima arranca este domingo e decorre até dias 18 de Novembro EPA/SEDAT SUNA

Representantes de quase todos os países do mundo reúnem-se em Sharm el-Sheikh, Egito, entre este domingo e 18 de Novembro, para debater a luta contra o aquecimento global e a adaptação às alterações climáticas.

A ajuda aos países mais pobres, para se adaptarem a um novo clima mas também pelas perdas e danos que já sofreram, deve ser tema central da 27.º Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27).

Mas nas duas semanas também se falará de aquecimento global, do Acordo de Paris, de sustentabilidade, de neutralidade carbónica, do IPCC ou das NDC. Segue-se um glossário para ajudar a entender o que estará em discussão em Sharm El-Sheikh. Para mais informação conte também com o ABC da Terra do Azul.

Acordo de Paris

Tratado internacional adoptado em 2015 na COP21 pela quase totalidade dos países para reduzir emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera e impedir que as temperaturas mundiais subam além de dois graus celsius (ºC) acima dos valores da época pré-industrial, e de preferência que não aumentem além de 1,5 ºC. Até agora a temperatura global já subiu 1,1 ºC acima dos valores de referência.

Alterações Climáticas

Mudanças nos ciclos climáticos naturais da Terra atribuídas aos efeitos da actividade humana, especialmente às grandes quantidades de dióxido de carbono lançadas para a atmosfera pelo uso intensivo de combustíveis fósseis. As alterações climáticas manifestam-se em fenómenos como o degelo das calotes polares, a desertificação, a extinção de espécies, a destruição de ecossistemas, os incêndios florestais, a subida do nível do mar, as secas e as inundações extremas.

Acompanhe a COP27 no Azul

A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

Antropoceno

Nova época geológica proposta pelos cientistas para definirem a era actual, marcada pela acção da humanidade na generalidade do planeta, numa referência a épocas geológicas tradicionais, como Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, Plioceno, Pleistoceno e Holoceno.

Aquecimento global

Aumento da temperatura da superfície do planeta devido à actividade humana nos últimos cerca de 100 anos, especialmente pelo uso de combustíveis fósseis.

Biodiversidade

O mesmo que diversidade biológica, a variedade de seres vivos, entre plantas e animais, que existem no planeta e que resultam de milhões de anos de evolução.

Combustíveis fósseis

Combustíveis com grande quantidade de carbono, como o petróleo, o gás natural ou o carvão.

Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas

Conferências de alto nível sobre a protecção do ambiente. A primeira realizou-se no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, quando foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC na sigla original). A Convenção estabelecia protocolos sobre as emissões de gases com efeito de estufa. O mais conhecido é o Protocolo de Quioto. A convenção instituiu a realização de reuniões periódicas, chamadas Conferência das Partes (COP). Até agora já se realizaram 26, sendo a de Sharm el-Sheikh a 27.ª.

Contribuições Nacionalmente Determinadas

São as NDC, na sigla em inglês. Resumidamente, trata-se da contribuição a que cada país se propõe para baixar as emissões de gases com efeito de estufa e manter o aumento da temperatura abaixo dos 2 graus Celsius. Decorrem do Acordo de Paris.

Desenvolvimento sustentável

O que satisfaz as necessidades actuais sem comprometer a possibilidade de futuras gerações também o fazerem. Caracteriza-se pela preservação da natureza e do meio ambiente.

Economia circular

Modelo económico amigo do ambiente, prolongando a vida dos produtos e envolvendo a partilha, reutilização, reparação e reciclagem. Implica a redução do desperdício ou de resíduos.

Emissões zero, ou neutralidade carbónica

Quando se remove da atmosfera a mesma quantidade de gases com efeito de estufa que são emitidos pelas actividades humanas. Consegue-se reduzindo ou eliminando os principais factores de emissão de gases e investindo em florestas, que consomem carbono para crescer. Se a quantidade de gases com efeito de estufa emitida for menor do que a absorvida fala-se de emissões negativas. A União Europeia, e vários países do mundo, já se comprometeram em atingir a neutralidade carbónica em 2050. Portugal foi o primeiro país do mundo a aprovar um roteiro para a neutralidade carbónica.

Energias alternativas, ou renováveis

Que são provenientes de recursos naturais que se renovam, como o sol, o vento ou as marés, entre outras.

Época pré-industrial

Época anterior à revolução industrial, que começou em Inglaterra. Consensualmente aponta-se para a época que começa na segunda metade do século XVIII (1750) e vai até ao início do século XIX, altura em que se generalizou o uso da máquina a vapor, em que as cidades tiveram um grande crescimento e em que aumentou exponencialmente a produção de bens de consumo.

Extinção

Processo que afecta muitas espécies de animais e plantas e que coloca em causa a sua sobrevivência, especialmente por efeito da acção humana. Alguns cientistas afirmam que a humanidade caminha para a sexta extinção, porque desde o início da vida na Terra, há cerca de 4 mil milhões de anos, já aconteceram cinco momentos de extinção em massa de espécies. Várias estimativas indicam que metade das espécies pode desaparecer até ao fim do século por efeitos da acção do Homem.

Fenómenos Climáticos Extremos

Situações anormais que os cientistas dizem existirem, ou serem mais frequentes, devido à influência humana no clima, como temperaturas recorde (ondas de frio e de calor), chuvas de uma intensidade nunca antes medida, secas severas e persistentes, ventos excepcionalmente violentos e furacões de grande intensidade, ou inundações no litoral. O IPCC e a ONU avisam que os fenómenos climáticos extremos aumentarão de frequência e de intensidade.

Gases com efeito de estufa

Gases que absorvem as radiações infravermelhas emitidas pelo planeta e impedem que elas se dissipem para o espaço, aquecendo a Terra ao provocar um efeito de estufa. A produção desses gases é também natural, mas foi exponencialmente aumentada pela atividade humana, sendo a queima de combustíveis fósseis a mais perigosa. O principal gás é o dióxido de carbono. O metano é também um gás, cuja concentração tem aumentado na atmosfera na última década e que aquece a Terra 80 vezes mais rapidamente do que o dióxido de carbono. Cerca de 60% do metano emitido para a atmosfera resulta da actividade humana e grande parte provém da agricultura. Também os gases fluorados com efeito de estufa, os mais conhecidos os HFC, (os para refrigerar por exemplo) também têm um potencial de aquecimento global muito superior ao dióxido de carbono. Investigadores dizem que são 23 mil vezes piores do que o dióxido de carbono.

Lei Europeia do Clima

Lei aprovada pela União Europeia em Maio de 2021. Propõe que até 2030 haja uma redução de pelo menos 55% da emissão de gases com efeito de estufa.

Mercado de carbono

Ou comércio internacional de emissões. Tem origem no Protocolo de Quioto. Estabelece metas para cada país de redução de emissão de gases com efeito de estufa, mas que podem ser negociadas com outros países menos emissores, ou seja os que têm créditos de carbono por cada tonelada que não produziram (e que podiam).

Mitigação e Adaptação às Alterações Climáticas

As acções da população mundial para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa destinam-se a limitar e mitigar as alterações climáticas, pelo que é preciso reduzir essas emissões em 50% a nível global até 2050, comparando com 1990. Ao mesmo tempo os governos estão também a preparar-se para essas alterações, adaptando-se para reduzir as consequências. Por um lado, actua-se nas causas e procura-se minimizar efeitos, por outro trabalha-se para ser o mais resistente possível a essas alterações.

Painel Intergovernamental Sobre Alterações Climáticas

IPCC, na sigla original. Organização que junta centenas de cientistas de todo o mundo criada em 1988 sob os auspícios da ONU e que produz informação científica sobre as alterações climáticas, para que os países possam tomar decisões políticas. Já divulgou relatórios sobre as consequências do aumento da temperatura, e sobre os impactos nos oceanos e no meio terrestre.

Pegada de carbono

Medida que indica a emissão de dióxido de carbono causada por acções de pessoas, empresas, organizações ou Estados. O Acordo de Paris pretende limitar a pegada carbónica dos países.

Protocolo de Quioto

O primeiro tratado jurídico internacional para limitar as emissões de gases com efeito de estufa. Aprovado em Quioto, no Japão, em 1997, e que entrou em vigor em 2005. O Protocolo preconiza diferentes metas de redução de gases com efeito de estufa para os países, que resulta numa redução estimada média de 5% em relação a 1990. Não foi eficiente e muitos países grandes emissores de gases demoraram a ratificá-lo.

Sumidouros de Carbono

Absorção natural do carbono da atmosfera, através por exemplo das árvores, e de todas as plantas, pela fotossíntese. Os oceanos também são um sumidouro de carbono e as algas absorvem ainda mais do que as plantas em terra. Em ambos os casos o carbono é essencial para o crescimento. Florestas saudáveis e preservadas e a plantação de árvores (não destruindo as que existem) são fundamentais para baixar os níveis de carbono, segundo os cientistas. Já existem experiências e casos de sumidouros de carbono artificiais.