Irão admite venda de drones à Rússia, mas foram “poucos” e antes da guerra

Volodymyr Zelensky diz que Teerão está a mentir e revela que, só na sexta-feira, foram abatidos 11 drones de fabrico iraniano.

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Um clérigo iraniano assiste a um ensaio de um drone, numa localização não revelada Reuters/WANA NEWS AGENCY

Se ainda subsistiam dúvidas quanto à utilização pela Rússia de drones de fabrico iraniano na Ucrânia, foram este sábado desfeitas com a admissão por parte de Teerão de que forneceu os aparelhos não tripulados a Moscovo, mas antes da invasão.

A confirmação veio do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amirabdollahian, que disse que um “pequeno número” de drones foi vendido à Rússia alguns meses antes de as forças de Moscovo lançarem a invasão Ucrânia, a 24 de Fevereiro.

O chefe da diplomacia iraniana negou, no entanto, que Teerão continue a fornecer drones à Rússia.

“Esse alarido feito por alguns países ocidentais de que o Irão forneceu mísseis e drones à Rússia para ajudar na guerra na Ucrânia — a parte dos mísseis está completamente errada”, afirmou Amirabdollahian à agência de notícias oficial Irna.

“A parte dos drones é verdadeira e fornecemos à Rússia um pequeno número de drones meses antes da guerra na Ucrânia”, acrescentou o ministro iraniano.

A resposta de Kiev não demorou e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rejeitou a ideia de que o número de drones iranianos a serem lançados contra alvos na Ucrânia seja assim tão limitado, dizendo que, só na sexta-feira, foram abatidos 11 aparelhos.

“Se o Irão continuar a mentir sobre o que é óbvio, significa que o mundo fará ainda mais esforços para investigar a cooperação terrorista entre os regimes russo e iraniano e o que a Rússia paga ao Irão por essa cooperação”, afirmou Zelensky no seu habitual discurso em vídeo.

Os EUA desconfiam também do “pequeno número” de que falou Amirabdollahian. “Eles transferiram dezenas de drones só neste Verão e têm militares na Ucrânia ocupada a ajudar os militares russos a usá-los”, disse o enviado especial norte-americano para o Irão, Robert Malley.

Segundo a agência de notícias Irna, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano disse também que Teerão e Kiev concordaram em discutir, há duas semanas, as alegações relativas ao uso de drones iranianos na Ucrânia, mas os ucranianos não compareceram na reunião. Amirabdollahian sublinhou ainda que Teerão “não ficaria indiferente” caso ficasse provado que a Rússia usou drones iranianos na Ucrânia.

Numa resposta publicada no Facebook, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Oleg Nikolenko, disse que Amirabdollahian estava a espalhar “insinuações sobre uma suposta recusa do lado ucraniano”.

Nas últimas semanas, a Ucrânia relatou um aumento nos ataques com drones Shahed-136 de fabrico iraniano às infra-estruturas civis, visando principalmente barragens e centrais eléctricas.

Ocupação em Kherson

No Sul da Ucrânia, na cidade de Kherson, os militares russos estarão a ocupar os apartamentos dos civis ucranianos, após os expulsar à força, segundo afirmou um residente em declarações à agência de notícias Associated Press (AP).

“Estão a forçar os habitantes da cidade a saírem. Os soldados russos têm-se mudado para os apartamentos livres em toda a cidade de Kherson. É óbvio que estão a preparar-se para lutar contra o Exército ucraniano na cidade”, adiantou o morador, que se apresentou apenas como Konstantin por razões de segurança.

Segundo Konstantin, os soldados russos estão a instalar-se em apartamentos desocupados, indo de porta em porta, verificando as escrituras de propriedade e forçando os inquilinos a sair imediatamente se não puderem confirmar a propriedade das habitações.

Os residentes que permanecem na cidade ocupada pelas forças russas relataram ainda problemas com o fornecimento de bens alimentares, acrescentando que hospitais e clínicas não estão a atender pacientes em Kherson.

As notícias que dão conta dos militares russos a espalharem-se pela cidade de Kherson sugere que a Rússia poderá estar a preparar-se para uma guerra urbana, antecipando os avanços ucranianos.

As tropas russas têm pedido aos civis residentes em Kherson que deixem a cidade, que fica na margem direita do rio Dniepre e foi isolada do acesso de bens essenciais e alimentares pelos bombardeamentos ucranianos.

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