A espada é a “arma-rainha da cavalaria”
O historiador militar João Gouveia Monteiro faz um retrato da espada de D. Dinis, comparando-a com outras peças da sua família alargada.
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A espada é uma “arma-rainha da cavalaria”, símbolo por excelência da nobreza medieval, explica João Gouveia Monteiro, historiador militar da Universidade de Coimbra, que observou a espada de D. Dinis através das fotografias e ainda não a viu ao vivo. Na guerra, esta arma não era tão usada pelas camadas populares, que empunhavam principalmente lanças ou instrumentos agrícolas adaptados (como cutelos, maças ou manguais).
A espada de D. Dinis foi encontrada em contexto funerário, tendo uma morfologia consentânea com os séculos XIII/XIV, aqueles em que o rei viveu. “Parece-me poder ser uma espada de tipo cerimonial, de aparato, que não teria talvez serventia prática a nível militar.” Ou seja, não se destinaria a ser usada em combate.
É por isso que, tal como outras espadas cenográficas, tem um punho “pouco ergonómico”, de secção rectangular, sem revestimento, e que são curtas as guardas que serviam para proteger a mão.
O historiador encontra algumas semelhanças com a espada de D. Sancho IV de Castela, tio do rei D. Dinis, guardada na Catedral de Toledo e também associada a um túmulo. Ambas têm um pomo discoidal achatado com botão, típico da Península Ibérica nos séculos XIII a XV; um punho de secção aproximadamente rectangular; guardas curtas e com aquilo que parecem ser garras nas extremidades (embora as guardas da arma castelhana sejam curvas); e uma decoração riquíssima.
Em Portugal, encontra semelhanças sobretudo com a espada de guardas rectas, de proveniência desconhecida, também datável dos séculos XIII-XIV, em depósito no Museu Militar de Lisboa. Além das guardas rectas que lhe dão o nome, esta espada apresenta um pomo também em forma de disco achatado (embora sem botão).
Já a espada atribuída a D. João I, também na colecção do Museu Militar, e que veio provavelmente do túmulo do rei na Capela do Fundador do Mosteiro da Batalha, tem uma morfologia que permite situá-la nos séculos XIV/XV e que a diferencia da peça de D. Dinis. O pomo é prismático, a lâmina é longa (90cm) e possui uma aresta central.