Chuvas de Outono: um acréscimo de apenas 2% no armazenamento de 80 barragens

Entre 17 e 31 de Outubro, o volume dos caudais debitados para as albufeiras públicas foi de 340 hectómetros cúbicos. Cerca de metade apresentava um nível de armazenamento abaixo dos 50%.

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Chuva em Lisboa Joana Freitas/Arquivo

Apesar de a chuva ter caído com alguma abundância em boa parte do território nacional, entre os dias 17 e 31 de Outubro o volume de afluências para as 80 barragens públicas nacionais traduziu-se num acréscimo de apenas 2% – ou seja, mais 340 hectómetros cúbicos (hm3). A capacidade total de armazenamento na rede pública de barragens é de 13.204 hm3, mas no final de Outubro situava-se nos 7712 hm3 (58%).

Os armazenamentos registados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e por bacia hidrográfica, apresentam-se inferiores às médias de armazenamento do mês de Outubro (entre 1990/91 e 2021/22), excepto para as bacias Lima, Ave, Douro e Arade.

A problemática barragem do Lindoso, que no final de Setembro registou um volume de 75 hm3, ou seja 20% da sua capacidade máxima de armazenamento, no final de Outubro retinha 218 hm3 (58%) e deixou de estar no vermelho.

É nas suas 16 albufeiras da bacia do Douro que se registam as maiores reservas de água: dez têm um volume de armazenamento acima dos 90% e apenas uma, a de Vilar/Tabuaço, está no vermelho, com uma reserva de 13%.

A bacia do Mondego com oito albufeiras, registou subidas residuais nos níveis de armazenamento de cinco albufeiras e descidas mais acentuadas nas barragens de Lagoacho (menos 8%) e Vale de Rossim (menos 9%). A barragem da Aguieira apresentava 66% da sua capacidade de armazenamento.

Sul do país ainda crítico

Mais a sul, nas 19 barragens da bacia do Tejo, apenas três registaram valores acima dos 80%: Belver (92%), Bouçã (98%) e Fratel (83%). Duas estavam no vermelho, Divor (17%) e Maranhão (18%), e oito tinham um volume de armazenamento abaixo dos 50%.

A situação dos recursos hídricos é crítica nas bacias do Sado, Mira, Guadiana, Arade, Barlavento e Sotavento algarvio, mas com maior incidência nas dez albufeiras do Sado: três estavam no vermelho, Campilhas (3%), Monte da Rocha (9%) e Vale de Gaio (19%). Odivelas (37%), Pego do Altar (32%) e Roxo (21%) armazenavam volumes debitados por Alqueva.

Na bacia do Guadiana, o cenário era crítico nas albufeiras de Abrilongo (6%) e Vigia (14%) e cinco apresentavam volumes de armazenamento abaixo dos 50%. E em Alqueva, as perspectivas não são nada promissoras. Entre 17 e 31 de Outubro, o volume de armazenamento em vez de subir… desceu.

Com efeito, a 17 de Outubro, Alqueva apresenta uma reserva de 2639 hm3. Duas semanas depois da precipitação atmosférica que se registou, e apesar de ter aumentado o débito dos caudais vindos de Espanha, o nível da água na grande albufeira desceu para os 2604 hm3​​, uma redução de 35 hm3 (dados publicados no Boletim Semanal de Albufeiras pela APA). Alqueva apresentava uma cota de 144,60 metros acima do nível do mar, equivalente aos valores registados em 2004 e em 2020.

Na região algarvia, apenas a barragem do Funcho apresenta um volume razoável de água (61%). A albufeira da Bravura está com 9% de armazenamento, e as restantes quatro barragens instaladas na região estão abaixo dos 50%: Arade (25%), Odelouca (31%), Beliche (24%) e Odeleite (31%).

A situação em Espanha

No outro lado da fronteira, na bacia hidrográfica do Guadiana e também no dia 31 de Outubro, a escassez de recursos é ainda mais assustadora que no Sul de Portugal. Nas 35 barragens dispersas pela bacia hidrográfica nas regiões da Extremadura e Andaluzia estavam armazenados 2164 hm3. Este volume de água representa 22,8% da capacidade máxima de toda esta bacia em Espanha, que é 9496 hm3.

Só a barragem de Alqueva tem mais água (2604 hm3) do que as 35 barragens da bacia espanhola, incluindo a barragem de La Serena, que tem uma capacidade máxima de armazenamento 3219 hm3, mas que está reduzida a 418 hm3.

O Ministério da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico espanhol publicou, a 2 de Novembro, os dados relativos ao volume de água armazenado nas 16 bacias hidrográficas de Espanha, que se situava nos 18.038 hm 3 (32,2%). As chuvas de Outono, tal como em Portugal, tiveram um efeito residual nos níveis de armazenamento, de apenas 219 hm3 (0,4%) da capacidade total dos reservatórios espanhóis, que é de 56.108 hm3.

O volume de água nos rios internacionais confirma a continuada escassez de recursos hídricos em território espanhol. O volume de água armazenado na bacia do Minho era 1305 hm3 (43,1%), no Douro situava-se nos 2394 hm3 (31,9%), no Tejo 4078 (36,9%) e no Guadiana 2.193 hm3 (23,1%).

As escorrências resultantes da precipitação atmosférica registada na segunda quinzena de Outubro, continuarão a afluir às barragens portuguesas, mas o fenómeno da evapotranspiração acabará por fazer desaparecer na atmosfera os volumes de água deixados pelas primeiras chuvas de Outono.

A manter-se o cenário descrito, José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), já admitiu ao PÚBLICO a possibilidade de fazer rateio na água de Alqueva. As culturas anuais (hortícolas, milho, etc.) deixarão de a receber. E as culturas permanentes (olival, amendoal, vinha e outras frutícolas) terão recursos hídricos que garantem apenas a sua sobrevivência.