Zelensky: “A anexação russa anula toda a possibilidade de diálogo”
O Presidente da Ucrânia disse, em entrevista ao El País, que não aceitará ultimatos e que os ucranianos não querem perder parte do seu território.
Passaram 253 dias de guerra e o discurso de Volodymyr Zelensky não mudou uma vírgula. Em entrevista ao jornal diário El País, a primeira dada à imprensa espanhola, o Presidente da Ucrânia continua a recusar perder território, quer fazer parte da União Europeia e garante que vai lutar até ao fim. “Não aceitamos nenhum ultimato, porque não queremos perder parte do nosso território. Nós já o dissemos: lutaremos até o fim para defender a nossa casa. Acima de tudo, temos de tentar salvar vidas”, disse Zelensky.
A entrevista foi feita a meio da semana e durou 50 minutos. Decorreu numa sala do bunker de Kiev que se converteu na sede presidencial e que, como descrevem os jornalistas, tem os corredores mergulhados em frio e penumbra, à semelhança do resto do país. Durante a conversa, o presidente de 44 anos, que foi actor e empresário, não se esquiva a perguntas, senta-se frente-a-frente e improvisa.
Mas a mensagem é clara: “Se os russos se retirarem e reconhecerem que estão terrivelmente enganados, então podemos encontrar espaço para o diálogo. Mas se vamos continuar a sacrificar milhares de vidas para que o nosso território seja desocupado, isso impede qualquer processo [de diálogo] durante vários anos.” Este discurso serve de resposta aos concidadãos que pedem a Zelensky que se sente à mesa com Putin e conversa sobre paz. “Há uma intenção muito concreta de ocupação e destruição da Ucrânia. O que é que eu tenho a dizer a alguém que só nos quer destruir? As conversações não fariam sentido”, acrescenta.
Zelensky insiste que o futuro do seu país passa pela entrada na União Europeia. “A guerra começou porque a Rússia não nos considera um país independente, um país europeu. Passa-se o mesmo com a Bielorrússia. Porque é que hão-de ser os russos a decidir como se vive na Bielorrússia? Espero que os líderes da UE não tenham medo”, diz, deixando claro que nem todos na União Europeia querem que o processo de integração decorra com a mesma celeridade. “A Ucrânia será membro da UE e não quero dizer se é mais tarde ou mais cedo porque considero que já é tarde.”
O comediante que virou político aproveita ainda a entrevista para explicar que há uma diferença entre ucranianos e russos. “Esta é uma guerra pela Ucrânia contra a agressão russa. Nós somos um escudo e não atacamos com armas nucleares, com mísseis guiados, com drones iranianos. Não invadimos com tanques. Não violamos mulheres russas, crianças russas. Não torturamos nas aldeias russas”, diz.