Braga em Risco quer desmistificar a ideia de que a ilustração “é só para alguns”

Com mais de 70 artistas e 20 exposições, o encontro de ilustração decorre até 18 de Novembro. Esta edição, “a mais internacional”, assinala os centenários de Saramago, Agustina e Maria Ondina Braga.

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A iniciativa “Ruas do Risco” convidou diversos artistas a intervir no comércio local Joana Bourgard

O mote começou a ser traçado no início desta semana, quando desenhos e frases tomaram conta de montras de lojas, e ilustrações deram vida a autocolantes aplicados em chávenas de café, papéis de castanhas ou embrulhos de flores. É a partir das ruas da cidade, junto do vendedor e do freguês, e da desmistificação da ideia de que a ilustração “é só para alguns”, que se configura a sexta edição do Braga em Risco – Encontro de Ilustração, evento que arranca este sábado e se prolonga até 18 de Novembro em Braga, nos locais da Galeria e Largo do Paço, Casa dos Crivos, Museu da Imagem, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Livraria Centésima Página, e Mercado Municipal.

Este ano, o encontro de ilustração convida mais de 70 artistas nacionais e internacionais, num programa que inclui 20 exposições, 78 oficinas – 50 das quais nas escolas do concelho -, quatro mercados de arte, 11 apresentações de livros, 12 visitas guiadas, duas masterclasses, havendo ainda lugar para a exibição de filmes de animação, performances e concertos.

Mas o Braga em Risco aproxima-se da comunidade muito antes do encontro de uma quinzena com o público. Nas últimas semanas, as artistas portuguesas Ana Biscaia e Rachel Caiano estiveram em escolas e lares do concelho para, em conjunto com crianças e idosos, terminarem a instalação ‘Cartas Cruzadas’, que cruza ilustração com correspondência trocada entre as duas ilustradoras, e cujo resultado terá lugar na Galeria do Paço. Também nas escolas básicas da cidade, o ilustrador brasileiro Carlo Giovani desafiou os alunos a tornarem o conto A maior flor do mundo, de José Saramago, numa instalação vertical. E a artista russa Nastya Varlamova esteve durante duas semanas em Braga para construir um diário gráfico com doze ilustrações de lugares marcantes da cidade que poderá ser visto na Galeria do Paço.

Nas ruas do centro histórico, a novidade deste ano do evento, “Ruas do Risco”, convidou diversos artistas a intervir no comércio local e a aplicar ilustrações em montras e em pequenos objectos do dia-a-dia, sempre com o auxílio dos lojistas, mas também dos clientes. “Este ano, quisemos focar-nos não apenas nas montras, mas também nas pessoas. Partilhamos os elementos gráficos da identidade desta edição com quem anda na rua, e com os empregados de mesa, os vendedores de castanhas, ou as floristas. Queremos que a ilustração envolva e conquiste todos”, explica ao PÚBLICO o curador do evento, Pedro Seromenho.

Desde a génese do evento que a ideia passa por demonstrar que “a ilustração pode entrar numa loja, numa praça, ou num mercado, com qualquer pessoa”. Para ajudar à valorização da arte visual, o Braga em Risco dá especial ênfase às apresentações de livros. “Actualmente, no mercado livreiro e dos direitos autorais, ainda se dá uma valorização do escritor em relação ao ilustrador, quando são os dois autores do livro. E aqui tento dar esse destaque, daí que nas apresentações dos livros apresentem os dois o livro, mas no fim é o ilustrador quem entra em cena com a realização de uma oficina”.

Edição “mais internacional de sempre”

A evolução do evento – que este ano conta com um orçamento de 80 mil euros – é reforçada este ano com a presença do maior número de artistas internacionais de sempre: a polaca Joanna Concejo, que ilustrou o livro A Alma Perdida, da autoria de Olga Tokarczuk, vencedora do Prémio Nobel de Literatura em 2018, a francesa Nathalie Minne, a espanhola Marina Gibert ou o brasileiro Alexandre Rampazo são alguns dos artistas cujas obras vão estar patentes na Galeria do Paço.

Entre os destaques do Braga em Risco estão ainda a exposição colectiva ‘De Braga a Corunha num risco’, patente da Galeria do Paço, e que desafiou dez ilustradores de Braga e dez da Corunha a ilustrarem temas comuns às duas regiões, e ainda as homenagens aos centenários dos nascimentos de José Saramago, Agustina Bessa-Luís, e Maria Ondina Braga.

Na Casa dos Crivos, a escritora bracarense será celebrada através da exposição colectiva “Braga 22x22 – Ondina Ilustrada”, na qual estarão expostas vinte e duas ilustrações que partem do livro da autora O jantar chinês e outros contos. José Saramago será homenageado na instalação vertical de Carlo Giovani, que estará patente na Galeria do Paço, e Agustina Bessa-Luís é evocada através da colocação de frases da sua autoria nas montras de lojas da cidade.

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