COP27: as janelas que se fecham
Estou a caminho da COP27, a Cimeira do Clima das Nações Unidas, que este ano acontecerá no Egipto. Estarei, mais uma vez, com activistas de todo o globo a exigir justiça climática - com foco em temas como financiamento, reparações, perdas e danos e, claro, o fim da era dos combustíveis fósseis.
Na semana passada, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente divulgou o Emissions Gap Report 2022 sob o nome The Closing Window (“A Janela Que Se Fecha”). O relatório afirma que “somente uma transformação urgente em todo o sistema pode evitar o desastre climático”. Os planos existentes até 2030, mesmo se cumpridos integralmente, significariam um aumento no aquecimento global de cerca de 2,5°C. Isto não é acção climática. As emissões globais têm de reduzir em metade até 2030 - mas, pelo contrário, continuam a aumentar e, simultaneamente, os gigantes do petróleo fazem cada vez mais e mais dinheiro.
No fundo, o relatório diz-nos o que a natureza nos tem mostrado: com o aquecimento em pouco mais de 1ºC, são cada vez mais as cheias, os incêndios, as tempestades, as secas, as ondas de calor mortais. Nas palavras de António Guterres, o objectivo de limitar o aquecimento global nos 1,5ºC está ligado às máquinas, com o pulso cada vez mais fraco. Neste momento, não há um plano real a ser implementado para os 1,5ºC, o que não significa que ele não seja possível. Desmantelar a indústria dos combustíveis fósseis é, simultaneamente, a transformação mais radical da história e a única opção que poderá evitar o colapso.
Prevê-se que esta COP destaque financiamento, adaptação e perdas e danos, questões que não foram suficientemente abordadas na COP26 e em torno das quais há cada vez mais pressão por parte da sociedade civil. As reivindicações de Justiça Climática na política climática internacional giram em torno de três temas principais: reparações de emissores históricos, caminhos alternativos de desenvolvimento e o fim da dependência nos combustíveis fósseis. Dentro do tema das reparações, urge a instalação de um mecanismo financeiro para compensar perdas e danos e, transversal a todos os temas, está a necessidade de agir de acordo com as percentagens de responsabilidade histórica e com os princípios de transição justa.
Apesar de decorrer na linha da frente da crise climática e no auge de crises interligadas, esta será mais uma COP cujo acesso apresenta especiais dificuldades a activistas MAPA, enquanto serve de plataforma para greenwashing e teatro político. Este ano, com limitações sem precedentes no que toca ao espaço para a sociedade civil. Pelo mundo fora, erguem-se vozes em solidariedade com os mais de 60 mil presos políticos no Egipto. O movimento por justiça climática não se pode esquecer de que a crise climática é uma crise de direitos humanos e que é nosso dever plantar as sementes de um mundo justo e habitável.
A campanha #FreeAlaa exige a libertação de Alaa Abd el-Fattah, prisioneiro político e considerado a “voz de uma geração” pela sua visão sobre um futuro democrático no Médio Oriente. A ingerir apenas uma centena de calorias há mais de 200 dias, Alaa irá escalar para greve de fome total, inclusive de água, no começo da COP27. Em resumo, ou o activista é libertado nos próximos dias, ou perderá a vida durante a Cimeira, perante os olhos do mundo. A sua irmã, que há mais de duas semanas iniciou um sit-in no Reino Unido, partilha que o activista está a usar a única ferramenta que tem disponível, o seu corpo, para continuar a luta.
Entre treinos sobre segurança, análises políticas, medos e frustrações, raiva e sentido de urgência; pergunto-me: a que ponto chegámos? Haverá alguma decisão a ser tomada que não seja a de nos colocar cada vez mais perto do colapso?